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Algoz de "Blade Runner", brasileiro começou com prótese de madeiras

2 set 2012 - 21h17
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Danilo Vital
Direto de Londres

"Isso é inacreditável", exclamou um voluntário no túnel de acesso à pista do Estádio Olímpico de Londres. Uma dezena de pessoas olhava de forma incrédula para os monitores espalhados pelas paredes com a transmissão da final dos 200 m T44 dos Jogos Paralímpicos. Alan Fonteles acabara de surpreender o mundo ao vencer Oscar Pistorius, apelidado "Blade Runner" e astro mundial. Trata-se do auge da carreira do paraense que começou correndo com próteses de madeira.

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"O estádio inteiro gritou quando ele (Pistorius) foi anunciado antes da largada. Mas quando eu cruzei a linha de chegada, escutei o silêncio", disse Fonteles, enrolado na bandeira do Brasil, à imprensa estrangeira que tentava saber mais sobre o algoz do único biamputado da história com desempenho bom o suficiente - nos 400 m rasos - a disputar uma edição de Jogos Olímpicos.

Alan Fonteles Cardoso de Oliveira nasceu em Marabá (PA) em 21 de agosto de 1992 e, com apenas 21 dias, sofreu uma sepsemia decorrente de infecções intestinais, problema que obrigou os médicos a amputarem as duas pernas do bebê no ponto abaixo do joelho. Aprendeu a andar aos dois anos e aos três já andava de bicicleta. O interesse pelo atletismo veio aos 8 anos.

Ao contrário das modernas próteses de fibra de carbono que irritaram Oscar Pistorius em Londres (o sul-africano reclama de aumento de altura ilegal com a peça), Alan correu até 2006 com pernas de madeira até ser observado pelo brasiliense Rivaldo Martins, um triatleta que perdeu a perna esquerda em acidente de carro, mas continuou disputando a modalidade em sua forma adaptada.

Com o equipamento moderno, Alan Fonteles foi aos Jogos de Pequim 2008 com apenas 16 anos, mas sem grande destaque, e passou a incomodar os adversários nos últimos anos. No Mundial de Christchurch (Nova Zelândia), em 2011, ficou com o bronze nos 100 m classe T44. Em Londres, conseguiu a consagração diante de quase 80 mil pessoas, desbancando o favorito absoluto e ídolo maior do deporto adaptado.

O novo campeão paralímpico gosta de jogos de corrida e futebol em seu PlayStation, de carne frita e churrasco, e dos ex-corredores Robson Caetano, dono de duas medalhas olímpicas, e Antônio Delfino, campeão paralímpico dos 400 m em Atenas 2004. Ao site do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), disse que é "alegre, brincalhão e extrovertido" e que encara "com um sorriso no rosto as dificuldades do cotidiano".

E mais: Alan Fonteles é "um cara calado, de poucas palavras, bem tranquilo mesmo". Neste domingo, ele conseguiu calar milhares de pessoas que esperavam pela vitória de Oscar Pistorius. Com a bandeira do Brasil nas mãos, acenou para o público, ajoelhou na pista e agradeceu. Enquanto isso, na zona mista, olhares incrédulos se dirigiam aos televisores. "Absolutamente inacreditável", diziam os voluntários.

Alan Fonteles perdeu as pernas ainda bebê, mas começou a correr aos 8 anos
Alan Fonteles perdeu as pernas ainda bebê, mas começou a correr aos 8 anos
Foto: Fernando Borges / Terra
Fonte: Terra
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