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Jogos Olímpicos - 2012

Atletas criticam novo sistema de classificação paralímpico: "não é justo"

27 ago 2012 - 13h12
(atualizado em 28/8/2012 às 17h21)
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Para garantir a igualdade de oportunidades entre os competidores de cada prova, os atletas paralímpicos são divididos de acordo com o tipo de deficiência que possuem, seguindo um sistema muito complexo cujos resultados sofrem críticas.

Decidir de que prova cada atleta participa se tornou um verdadeiro quebra-cabeça para os organizadores dos Jogos Paralímpicos, que terão início em Londres na próxima quarta-feira.

Por exemplo: é justo fazer um atleta com as duas pernas amputadas correr na mesma prova de um outro competidor que não tem um membro?

Alguns esportes são fáceis de organizar, como o goalball (praticado por cegos e deficientes visuais), já que todos os participantes, exceto os goleiros, usam uma máscara. Mas outras modalidades, como o atletismo, são muito mais complexas.

Por esse motivo, muitas vezes, nos Jogos Paralímpicos são disputadas até 15 finais dos 100 m rasos masculino: três grupos para os cegos e deficientes visuais, cinco para aqueles que sofrem de problemas motores provocados por danos cerebrais, três para os amputados e quatro para os competidores que se locomovem em cadeiras de rodas.

O problema é que os atletas não são classificados apenas por não terem um braço ou uma perna, e sim se a amputação foi sofrida acima ou abaixo do joelho. E cada esporte possui seu próprio sistema de classificação.

Nos esportes coletivos, cada jogador representa um certo número de pontos em função de suas capacidades físicas. No basquete, por exemplo, cada equipe pode escalar no máximo 14 pontos.

Por isso, se há poucos competidores em uma mesma categoria, atletas com graus de deficiência diferentes são inscritos na mesma prova, algo que alguns criticam.

Em alguns casos, algumas categorias podem ser eliminadas se não houver um número suficiente de participantes inscritos.

O austríaco Thomas Geierspichler, de 36 anos, foi campeão paralímpico dos 1.500 m em cadeira de rodas en Atenas 2004 e, quatro anos depois, em Pequim, ganhou o ouro na maratona.

Em Londres, no entanto, ele poderá correr apenas as provas de velocidade, depois que sua categoria (T52) parou de ser disputada, como consequência de um novo regulamento.

"Atletas com fortes deficiências devem enfrentar agora esportistas que têm menos. Não é justo. As medalhas são inatingíveis para esses atletas com deficiências maiores", criticou Geierspichler.

"No final, haverá apenas atletas com deficiências leves nos Paralímpicos", disse o austríaco. "São eliminadas as perspectivas para os atletas com deficiências mais graves, para os quais as coisas são mais difíceis", lamentou.

"Eu treino para as corridas de fundo e para a maratona há 14 anos. Saber tão pouco tempo antes dos Jogos que essas provas já não existem em minha categoria é alucinante", criticou.

Ele utiliza como exemplo o etíope Haile Gebreselassie, bicampeão olímpico dos 10.000 m em Atlanta 1996 e em Sydney 2000: "É como se dissessem depois que ele tem que correr os 400 m".

O deseja de aumentar o apelo dos Paralímpicos à mídia explicaria, segundo ele, essas mudanças.

Geierspichler também se mostrou pouco entusiasmado com a explosão midiática do sul-africano Oscar Pistorius, primeiro atleta duplamente amputado a participar Jogos para atletas sem deficiências, que alguns consideram que seja favorecido por suas próteses de carbono, inclusive contra atletas sem deficiências.

Em uma entrevista concedida à rede americana ABC, a velocista australiana Kelly Cartright, de 22 anos, que tem uma perna amputada, considera isso "muito injusto, já que ele tem duas pernas artificiais, enquanto os outros precisam contar com sua perna boa".

"Os atletas com deficiências mais acentuadas em cadeiras de rodas vendem menos do que um atleta que corre com duas pernas artificiais", considera o nadador austríaco Andreas Onea, amputado de um braço, em uma entrevista ao jornal Der Standard.

O austríaco Thomas Geierspichler não concorda com o fato de atletas com diferentes níveis de deficiência competirem na mesma categoria
O austríaco Thomas Geierspichler não concorda com o fato de atletas com diferentes níveis de deficiência competirem na mesma categoria
Foto: Getty Images
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