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Campeão por Galo e Cruzeiro, Nelinho construiu carreira no Mineirão

4 set 2015 - 21h12
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Em 50 anos de história, o Mineirão acumula lembranças preciosas do futebol brasileiro. Palco de glórias e tragédias do esporte - que vão de conquistas da Libertadores ao 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo -,  o estádio serviu para projetar as equipes locais no cenário nacional. A intimidade com os clubes mineiros, que tratam o lugar como segunda casa, pode ser representada através de uma pessoa: Manoel Rezende de Matos Cabral, o Nelinho.

Com grandes passagens por Cruzeiro e Atlético-MG, o ex-jogador participou de momentos marcantes na história de ambos os clubes. Somando as partidas pelas duas equipes, Nelinho se tornou o jogador que mais atuou no Mineirão, com 348 jogos. A saga do carioca que desbravou Minas Gerais iniciou em 1973, quando foi contratado pela Raposa. A hegemonia celeste no estado iniciou nos anos 60, impulsionada pela conquista da Taça Brasil de 1966 diante do Santos de Pelé, ajudou a consagrar a figura do ex-lateral.

O próprio Nelinho foi protagonista de parte da boa fase cruzeirense, com os títulos dos Campeonatos Mineiros de 73, 74, 75 e 77, além da Libertadores de 76, no qual o atleta anotou seis gols durante a campanha no torneio continental. Negociado com o Galo em 1982, o ex-jogador também participou de um dos melhores momentos da história alvinegra, entrando na equipe a tempo de participar dos últimos títulos mineiros em uma sequência de seis conquistas seguidas (78, 79, 80, 81, 82, 83).

Embalado pelo triunfo do Campeonato Brasileiro em 71, o Atlético deu fim à boa sequência vivida pelo Cruzeiro em Minas Gerais, tornando-se o soberano do estado. "Na época que eu fui transferido, o time do Atlético-MG era infinitamente superior. Quando eu cheguei no Cruzeiro a fase era melhor, era a fase áurea do clube. E depois o Galo começou a crescer com Reinaldo, Cerezo, Marcelo, Éder, Luizinho... a diferença era enorme. Quando cheguei ao Atlético o clube conquistou o hexacampeonato mineiro. Era um timaço", contou Nelinho com exclusividade à Gazeta Esportiva.

A rivalidade entre os times proporcionou alguns dos jogos mais marcantes do ex-lateral no Mineirão, que vê com carinho os dois clubes que o acolheram e o deixaram em alta em sua carreira profissional. "As duas passagens minhas foram importantíssimas: o Cruzeiro me projetou e o Atlético-MG encerrou minha carreira em grande estilo. A companhia de jogadores excelentes me ajudou muito, tanto no Cruzeiro como no Atlético-MG. Se você está numa determinada idade e não cai num time bom, num time armado, você não rende tanto".

A responsabilidade de defender ambos os clubes pesou nas principais memórias de Nelinho no Mineirão, selecionando os clássicos como alguns dos maiores confrontos que disputou no estádio. Pelo lado do Cruzeiro, a final do Mineiro de 77 ficou na lembrança pela disparidade entre as duas equipes em campo. "Ninguém acreditava na gente, mas mesmo assim levamos a melhor de três. O Atlético-MG venceu o primeiro, nós vencemos o segundo e na terceira partida ganhamos já na prorrogação. Foi quando Revetria fez quatro gols nos dois últimos jogos", relembrou.

Já atuando pelo Galo teve a preocupação em agradar a torcida alvinegra no primeiro duelo diante do ex-clube. "A minha responsabilidade de jogar bem era grande. Os atleticanos esperavam isso de mim, de jogar bem contra o Cruzeiro como joguei contra o Atlético".

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Os clássicos não foram os únicos momentos que mais marcaram Nelinho nos gramados do Mineirão. A estreia do Cruzeiro na Libertadores de 76, com vitória diante do Internacional por 5 a 4, está entre as partidas mais significativas na memória do ex-jogador, responsável pelo gol de desempate aos 40 minutos do segundo tempo. Outro confronto listado foi contra o Bayern de Munique no Mundial de clubes realizado no mesmo ano. O jogo de ida, na Alemanha, terminou com a vitória dos bávaros por 2 a 0. Na volta, em Belo Horizonte, o Cruzeiro não conseguiu sair do empate sem gols, que deu aos rivais o título.

Com a camisa alvinegra, o ex-lateral cita as oitavas de final do Brasileiro de 86, cujo adversário era o Flamengo. O primeiro confronto terminou no empate por 1 a 1. Já o segundo, em casa, teve vitória do Atlético por 1 a 0, com gol de pênalti marcado pelo próprio Nelinho. Mais especial que o próprio resultado foi a presença da torcida, que encantou o carioca. "Acho que quase 100 mil foram nos ver", relatou.

Diminuição da média de público e as vantagens das arenas "padrão Fifa"

Um dos aspectos que mais simboliza o Mineirão antes da reforma para a Copa do Mundo de 2014 era a existência da geral. A localização de ingressos a preços mais baratos do estádio não tinha privilégio algum: no mesmo nível do campo, dificultava a visão de jogo e não garantia nem mesmo uma sombra aos torcedores nos dias ensolarados - os chuvosos, então, nem se fala. Com arquibancadas de concreto, sem lugares numerados como hoje, era difícil ditar um limite para o número de torcedores presentes. Não por acaso, era comum ter mais de 100 mil torcedores em partidas decisivas, aumentando, em muito, a média de público que frequentava o estádio.

A diminuição da capacidade de pessoas no local quando o Mineirão reabriu, em 2013, não afeta a sensação vivida pelos atletas em campo. Para Nelinho, o espetáculo da torcida é igualmente belo se a capacidade máxima, apesar de menor, for atingida. "Mesmo o estádio comportando, hoje, um máximo 58 mil pessoas, se estiver lotado a impressão que o jogador tem é a mesma, a satisfação de ver tudo lotado. Não faz diferença. E hoje tudo é mais bonito, o campo é mais bonito, a grama é melhor, tudo é melhor", comparou.

O ex-jogador avalia positivamente as mudanças que deixaram o estádio de cara nova. "A gente tem que imaginar que as arenas hoje tem um conforto muito melhor para o torcedor e para os jogadores, com os vestiários, as cadeiras e o campo reformados. Só porque antigamente dava mais público não dá para achar que era melhor", explicou.

"Nossa realidade é outra: se você acha que hoje conseguiria colocar 100 mil num estádio vai ver que não dá, tem uma concorrência muito grande com as televisões. Há também o aumento de violência nos estádios, que tem deixado muita gente em casa. Atingir um público de 100 mil é impossível hoje. O que importa é que os times se programem e consigam fazer bons elencos para atrair as pessoas. Olha a prova do Cruzeiro de 2013 e 2014: era um time que ia tão bem que conseguia colocar 50 mil no Mineirão. É o que paga o jogador dentro do campo", completou

Outro marco na história do estádio: a bola para fora e o chute poderoso

A característica que consagrou Nelinho no futebol brasileiro foi a potência do chute, que o tornou um exímio cobrador de faltas. Só no Cruzeiro, em 410 jogos o lateral marcou 105 gols - marca acima da média para a posição. A proporção seguiu no Atlético, com 52 tentos anotados em 247 jogos.

Apelidado de "canhão" pela força de seus disparos, foi o primeiro atleta que se tem conhecimento a chutar a bola para fora do Mineirão, em 1979. "Aquilo foi uma brincadeira", disse, completando na sequência.

"Eu tinha acabado de operar de coluna e comentei na imprensa que quando ficasse totalmente recuperado chutaria a bola para fora do Mineirão. Quando voltei a treinar veio uma proposta do Fantástico, da Globo, e aí fui para o Mineirão, tentei e consegui. Mas sem segundas intenções, foi um fato inusitado. Nem foi muito difícil, outros jogadores, se tentassem, conseguiriam. O que acho que acabou marcando é que fui o primeiro", explicou o ex-jogador.

Os capítulos marcantes das "páginas heróicas imortais" escritas por Nelinho transformaram as conquistas do estádio em "orgulho do esporte nacional". Presente em décadas importantes da história de Cruzeiro e Atlético-MG, o ex-jogador se tornou um dos responsáveis pela construção da identidade do Mineirão ao longo dos anos.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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