Com "rivalidade saudável", Fonteles e inglês disputam vaga de Pistorius
Oscar Pistorius era o grande nome do esporte paralímpico, mas teve sua carreira manchada pela acusação de assassinato contra a própria namorada - o velocista disparou três tiros contra a modelo Reeva Steenkamp no último mês de fevereiro e alegou que a confundiu com um invasor. Com o sul-africano ausente, o Mundial Paralímpico de Atletismo de Lyon tem vários paratletas na disputa pela vaga de estrela da modalidade, mas dois se destacam: o brasileiro Alan Fonteles e o britânico Jonnie Peacock.
Fonteles primeiro ganhou a atenção do mundo durante a Paralimpíada de Londres, quando superou justamente Pistorius na decisão dos 200 m T43/44. Já Peacock, que corria em casa, era o queridinho da torcida britânica e venceu o ouro nos 100 m. No Mundial de Lyon, a dupla mantém o brilho dourado.
O brasileiro já venceu as provas dos 100 m e dos 200 m (nessa com direito a recorde mundial) da classe T43, que envolve biamputados. Já Peacock foi campeão dos 100 m T44, entre amputados. Na Paralimpíada do Rio de Janeiro, não haverá separação, logo correrão juntos. A relação entre os dois, entretanto, promete ser amistosa.
"Por mais que eu não fale inglês, a gente se dá muito bem. Já conversei uma vez com ele e ele me disse que seriamos adversários só dentro da pista. É uma rivalidade saudável. É isso que importa. Claro que toda vez vou querer ganhar, assim como ele vai querer ganhar, mas que não haja nunca desrespeito um entre o outro", disse o paraense.
Na última terça-feira, Fonteles e Peacock conquistaram ouro nos 100 m de suas respectivas categorias, sendo que as provas ocorreram uma depois da primeira. Os dois são os atletas mais requisitados pela imprensa e ovacionados pelo público. Cada um, inclusive, tem seu jeito de lidar com isso. O brasileiro fez questão de voltar pela pista para agradecer o apoio da torcida, enquanto o inglês fez festa com a bandeira britânica. Ao final, posaram juntos para fotos.
"Tenho muito respeito por ele e ele já disse que tem muito respeito por mim. Ele é um ótimo cara. Aprecio muito a ética de trabalho dele. Ele está fazendo decisões inteligentes e escolhas corretas, que é o que define o atletismo. Você pode ter todo o talento do mundo, mas se não seguir o caminho certo, não vai tirar o melhor de si. Ele está no rumo certo e fazendo ótimas coisas", afirmou Peacock.
Sobre a possibilidade der o novo astro do movimento paralímpico, ambos os paratletas dão respostas comedidas, mas deixam transparecer o desejo de assumir o "cargo". "Hoje o esporte paralímpico tem grandes atletas para que possa estar sendo vistos pelo mundo. Não estou brigando por isso, cada um tem seu mérito. Demos o nosso melhor aqui, somos bons, mostramos para o mundo que os amputados estão correndo para 10s e isso é o que importa. Isso vai ficar a critério do Comitê Internacional", explicou Fonteles.
"Sempre digo que farei tudo o que puder pelo esporte paralímpico. Sou um entusiasta e quero ver evoluindo. Atualmente o rosto do esporte olímpico é o Usain Bolt, mas tenho certeza de que em cinco anos será alguém novo. Aqui é a mesma coisa. Vencer aqui foi muito bom e quero me divertir", comentou o inglês.
Se não se enfrentaram em Lyon, os dois estarão na mesma pista no próximo final de semana. Fonteles e Peacock participarão de evento festivo em Londres como forma de comemorar o aniversário de um ano da Paralimpíada de Londres. É uma oportunidade de ver os promissores astros juntos, ainda que a grande competição estará reservada para o Rio de Janeiro. "Vai ser ótimo, assista", recomendou o britânico.
*O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro.
