Ex-combatente argentino voltará às Malvinas para disputar maratona
Um ex-combatente argentino, veterano da Guerra das Malvinas, luta contra o tempo para conseguir o dinheiro necessário para participar de uma maratona em março no arquipélago, às vésperas do 30º aniversário guerra entre Argentina e Inglaterra pelo controle do local.
Além de procurar patrocinadores, Mario Puente, de 48 anos, abriu uma conta bancária para receber doações e juntar o dinheiro para a passagem e o seguro da corrida de 42 quilômetros que, "pela primeira vez", será realizada na região onde ocorreu a guerra.
Puente também pediu ajuda às autoridades da província de Mendoza, no oeste da Argentina, onde reside. "Sempre quis voltar às ilhas e estou me preparando há muito tempo. Quero fazer uma homenagem aos mortos na guerra. Sinto que vai me fazer bem para cicatrizar as feridas da disputa de 1982 nas Malvinas, que desde a ocupação de 1833 se encontra sob domínio britânico".
Em um momento em que os governos da Argentina e do Reino Unido subiram o tom da disputa pela soberania das ilhas, o veterano prefere canalizar a raiva e a lembrança por meio do esporte, segundo Puente - que lutou na guerra aos 18 anos de idade, quando cumpria serviço militar.
As mútuas acusações entre Buenos Aires e Londres recrudesceram em dezembro, quando os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) resolveram proibir a entrada de navios com bandeira das Ilhas Falklands (Malvinas) em seus portos.
Os organizadores da quinta edição da maratona internacional "Correr por uma razão", que será realizada no dia 18 de março e terá participarão atletas ingleses, permitiram que dois ex-combatentes argentinos corram sem exigir deles a marca mínima para este tipo de maratona.
Apaixonado por corridas, Puente planeja viajar ao arquipélago na companhia de seu primo, o também ex-combatente Norberto Aguirre, que fornecerá a contenção psicológica e a ajuda necessária durante a competição.
Para poder participar do evento esportivo, Puente teve de pedir ao governo britânico autorização para entrar nas ilhas, cuja soberania é reivindicada pela Argentina desde 1833.
"Há vários ex-combatentes que não concordam em viajar às Malvinas enquanto elas estiverem dominadas pelos britânicos, mas também muitos já viajaram e ficaram bem", reconhece Puente, casado e com quatros filhos.
Para o veterano Hugo Olivera, presidente da Associação de Ex-Combatentes das Malvinas na cidade argentina de Mendoza, aqueles que lutaram na disputa não devem retornar às ilhas até que não possam fazê-lo com documento argentino.
"Desde a criação da associação, achamos que só devemos voltar às Malvinas quando não for mais necessário pedir permissão, quando as ilhas voltarem a ser da Argentina", explica o titular da entidade.
Puente, por sua vez, conta que sempre pensou em voltar às ilhas, onde chegou pela primeira vez no dia do início da guerra, 2 de abril de 1982, quando era suboficial da Escola de Infantaria da Marinha. Em 1984, Puente resolveu dar baixa da Marinha de forma voluntária, mas diz que foi muito complicado achar trabalho. "Dizer que era veterano era sinônimo de não encontrar emprego".
Anos depois, conseguiu trabalho em uma empresa de telefonia, mas teve de abandoná-lo após sofrer uma forte descarga elétrica, que lhe causou graves lesões. Mesmo assim, o ex-combatente não demorou para se recuperar. Agora, Puente se dedica diariamente aos treinamentos para a maratona, a "mais ao sul do mundo", como ele mesmo define.
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