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Atletismo

Única campeã mundial do Brasil, Murer evita favoritismo após ano difícil

9 ago 2013 - 09h58
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Responsável pelo primeiro e único título brasileiro em Mundiais de Atletismo, ao saltar 4,85m em Daegu-2011 (COR), Fabiana Murer é uma das principais esperanças de medalha da equipe nacional que a partir deste sábado inicia sua jornada na edição de 2013 da competição, no Estádio Olímpico de Moscou (RUS).

Apesar da dolorosa eliminação nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, da lesão no tendão de Aquiles da perna esquerda que comprometeu seu início de temporada e da saudade de casa neste um mês e meio que está na Europa, a campineira de 32 anos não se abala e mantêm o ânimo para a disputa da tradicional competição.

Com a habitual simpatia, Murer falou com exclusividade à Gazeta Esportiva.Net na reta final de sua preparação para o Mundial, em Fórmia (ITA). Calejada, ela evitou o status de favorita, apontou suas principais rivais na luta pelo bi e exaltou a amiga russa Yelena Isinbayeva, que disputará em seu país a última competição antes da aposentadoria.

Inspirada por ela, a saltadora brasileira também pretende encerrar a carreira em casa. Até os Jogos Olímpicos do Rio-2016, porém, Murer espera traçar um longo caminho vitorioso, começando a trajetória até lá com o pé direito no Mundial de Moscou.

As eliminatórias do salto com vara serão realizadas a partir das 12h10 (de Brasília) deste domingo. Já as finais serão disputadas apenas na terça-feira, a partir das 12h35.Gazeta Esportiva.Net: Como tem sido sua preparação para o Mundial?

Fabiana Murer: Eu estou treinando em Fórmia (ITA). Já faz um mês e meio que deixei o Brasil e vim para a Europa. Disputei algumas competições, algumas delas etapas da Liga Diamante. Eram competições preparatórias para o Mundial, para entrar em ritmo de competição. Entre esse período de competições eu fiquei em Fórmia, treinando. Os treinos foram bons, gostei bastante. Estou gostando dos meus saltos, acho que está mais consistente do que eu estava sentindo nas minhas primeiras competições. Acredito que dá para saltar bem. O primeiro objetivo do Mundial é a qualificação. A primeira etapa é pensar em classificar para final. Depois disso é saltar alto e ir passo a passo, subindo cada vez mais.

GE.Net: E a convivência com os outros atletas em Fórmia?

MURER: É difícil ficar tanto tempo longe do Brasil. Eu já faço isso há vários anos, mas mesmo assim dá saudade de casa, da família e dos amigos. Quando tem brasileiro aqui fica um pouco mais fácil de agüentar todo esse tempo longe do Brasil. Alguns como o Augusto estão pela primeira vez na Europa, nunca ficou tanto tempo fora. Então acaba um ajudando o outro.

GE.Net: Você citou o Augusto. Você consegue apontar algum outro atleta brasileiro com chances de medalha?

MURER: É difícil. O atletismo é uma modalidade muito difícil. São três atletas de cada país que podem participar, então é uma competição muito disputada. O Augusto e o Thiago fizeram bons resultados neste ano, mas acho que o objetivo deles é o mesmo que o meu: entrar na final e depois pensar em saltar alto.

Tem atletas que estão bem classificados. O Duda foi campeão mundial indoor no ano passado, tem feito bons resultados e vem crescendo, então ele também tem chances de conseguir uma boa colocação. É difícil falar em medalha porque depende do dia, depende de cada um. Mas ele está com um bom resultado.

Acho que o revezamento feminino tem atletas correndo bem individualmente, então se tudo der certo elas também podem conseguir uma medalha. Esses são os atletas que estão melhores classificados, mas é bem complicado apontar quem vai vencer.GE.Net: O Vitaly Petrov (treinador ucraniano que já comandou Sergey Bubka, Yelena Isinbayeva e consultor da Seleção Brasileira) chegou a visitar vocês aí em Fórmia?

MURER: Sim. Ele está aqui com a gente praticamente o tempo todo, só saiu para disputar o Campeonato Europeu. É sempre interessante, ele tem uma visão diferenciada que sempre acha um detalhe em que podemos melhorar. Ele é um técnico muito detalhista. Foi muito bom esse período com ele.

GE.Net: Você já falou sobre o período de preparação em Fórmia. E antes disso? Nos primeiros meses desse ano você teve uma lesão...

MURER: Eu treinei para a temporada de pista coberta, disputada no primeiro trimestre. Mas eu treinei "mais ou menos" porque sentia dor no tendão de Aquiles. Fui levando os treinos do jeito que dava, achando que fosse passar essa dor, que fosse melhorar quando eu começasse a competir. Não foi o que aconteceu, continuei sentindo muita dor e tive que parar a temporada no meio.

Voltei para o Brasil, me tratei e consegui me recuperar super bem. Hoje em dia eu não sinto mais nada, consegui fazer bons treinos. Eu perdi bastante a forma física por não conseguir treinar, mas consegui recuperar tudo isso. Acho que estou bem tecnicamente, fisicamente estou crescendo. Agora é a hora de descansar, não dá tempo de treinar mais nada. Foram treinos bons, para voltar. Tive que voltar devagar, não pude começar treinando muito forte. Cheguei aqui em uma boa forma física, tecnicamente também estou me sentindo muito bem, forte e veloz para saltar.

GE.Net: Está 100%?

MURER: Estou.

GE.Net: Mas em algum momento você achou que a lesão iria atrapalhar, que você não iria conseguir chegar inteira para o Mundial?

MURER: Quando eu parei a temporada eu passei por um procedimento chamado PRP (Plasma Rico em Plaquetas), em que eles colocam plaquetas do meu próprio sangue no tendão. É uma questão de paciência, tem que ter paciência para o tecido se regenerar e ir voltado aos poucos. No começo eu sentia dor. Mesmo nos treinos eu ainda sentia dor, então tinha muita coisa que eu não podia fazer. Mas eu trabalho com bons profissionais. Meu médico Cristiano Laurino já foi atleta e está envolvido no esporte e no atletismo, então ele conhece bastante. Ele sabe como é a recuperação, como é o treino de atletismo. A equipe de fisioterapia do meu clube (BMF/Bovespa) também ajudou muito. Por isso, eu acreditei que iria me recuperar bem. Eu sabia que deveria ter paciência, eles também me explicaram isso. Consegui me recuperar super bem, foi tudo dentro do previsto.

GE.Net: Você acha que um desempenho em Moscou fará o Brasil iniciar o ciclo pros Jogos do Rio-2016 com o pé direito?

MURER: É um ano difícil, um ano depois dos Jogos Olímpicos. Para todo mundo, é um ano de recomeçar. O atletismo do Brasil está crescendo, tem atletas novos aparecendo. O que é muito bom, porque o esporte no país estava com uma safra de atletas bem mais velhos. Agora, está acontecendo uma renovação importante para os Jogos de 2016 e de 2020. Fazer um atleta não é algo rápido, é necessário um tempo de treinamento e adaptação. Muitos atletas que estão vindo agora talvez não consigam um bom resultado em 2016, mas sim em 2020. Mas tem uma safra nova muito boa e talentosa. Acredito que vai ser um bom Mundial. Espero que cheguemos a bastantes finais e conquistemos bons resultados até 2016.GE.Net: Você citou os Jogos Olímpicos do ano passado. A derrota em Londres foi dura?

MURER: Foi. Foi um momento difícil para mim. Eu não esperava que não fosse estar na final. Tudo bem, conseguir uma medalha é outra coisa, mas não estar na final me chateou bastante. Mas eu consegui passar bem. Depois disso eu esqueci. Foi só há um ano, mas para mim parece que faz tanto tempo... Já passei por tanta coisa que ficou para trás. Lógico que tenho que aprender com o que aconteceu, mas não posso ficar parada no passado. Tenho que pensar para frente porque só assim vou conseguir conquistar coisas novas.

GE.Net: Você é a única brasileira que ganhou um ouro no Mundial. Você acha que a responsabilidade aumenta por conta disso?

MURER: Não, eu estou supertranquila. Como eu falei, o atletismo é um esporte muito difícil. O salto com vara feminino, como sempre foi, continua sendo muito competitivo. Tem umas seis ou sete atletas que podem conquistar medalha. Então tenho que ficar tranqüila mesmo entrando como atual campeã mundial, porque eu entro do mesmo jeito que entrei no outro ano, pensando apenas em competir, sabendo que não sou favorita e tem muitas atletas saltando bem. Eu vou lá para tentar fazer o meu melhor, por isso estou tranqüila.

GE.Net: Você consegue apontar suas principais adversárias?

MURER: Yarislei Silva (Cuba), a campeã olímpica Jennifer Suhr (EUA) e a Yelena Isinbayeva (RUS), que vai estar competindo em casa. Tem outra russa, a Savchenko. A alemã Silke Spiegelburg também está sempre no bolo.GE.Net: Você é amiga da Isinbayeva. Já conversou com ela sobre a aposentadoria?

MURER: Não, ainda não encontrei com ela esse ano. Ela fez poucas competições e eu não participei das que ela escolheu. Acabei não cruzando com ela, então não falei. Só vi notícias, então sei o mesmo que você (risos).

GE.Net: Vai ser estranho não competir com ela depois de tanto tempo?

MURER: Sim, né? Ela é uma grande atleta, fez crescer o salto com vara feminino. As pessoas passaram a conhecer e a competir mais por causa dela, dos recordes que ela batia. Vai ser estranho, lógico. Praticamente a minha carreira toda a gente sempre esteve juntas em competições. Mas acho que ela construiu uma boa carreira, foi uma grande atleta. Se ela acha que é o momento certo de parar, então ela tem que parar. Só ela mesma pode decidir isso.

GE.Net: O favoritismo aumenta agora que ela não vai estar nas próximas competições?

MURER: Não. Tem outras atletas saltando bem. A competição continua a mesma, de alto nível. É uma atleta a menos que não vai estar lá, mas tem outras novas vindo e saltando alto e eu tenho que me manter bem, tentando melhorar meu resultado se quiser chegar bem até 2016.

GE.Net: Você está com 32 anos. Já pensa em quando vai parar?

MURER: Depois de 2016. Teoricamente minha última competição vai ser os Jogos Olímpicos do Rio, aí eu me aposento. Acho que eu consigo me manter até lá, o fato de ser no Brasil é uma motivação pra eu fazer isso. Depois disso, me aposento.

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