Campeão apresenta a categoria que "recicla" carros da F1
Criada em 1995, Boss Series conta com carros de F1, Fórmula Indy, GP2 e F-3000 no mesmo grid; Scott Mansell, campeão em 2004, conta como é a disputa entre os "seminovos"
O que acontece com os carros da Fórmula 1 depois que termina uma temporada? Alguns são reutilizados nos anos seguintes, às vezes por equipes menores. Outros vão parar nas mãos de colecionadores ou de museus, e não raro aparecem em festivais pelo mundo. No entanto, há quem aproveite os "seminovos" da F1 para correr por aí, dando sobrevida aos bólidos e esperança a pilotos que não emplacaram na carreira.
Esta é a missão da Boss Series, categoria criada na Europa em 1995 e que utiliza carros usados de categorias como Fórmula 1, GP2, Fórmula Indy e Fórmula 3000 (extinta). Batizada em referência aos monopostos que utiliza ("Big Open Single Seaters", ou "grandes monopostos abertos"), a categoria não conta com nomes conhecidos, mas tem o aval da FIA e atrai torcedores que querem ver de volta máquinas de equipes como Benetton, Jordan, BAR, Minardi e outros times da F1.
Piloto | País | Títulos |
Klaas Zwart | Holanda | 2003, 2006, 2007, 2010, 2011 e 2012 |
Nigel Greensall | Grã-Bretanha | 1997 e 1998 |
Tony Worswick | Grã-Bretanha | 1999 e 2001 |
Klaus Panchyrz | Alemanha | 1995 |
Johan Rajamaki | Suécia | 1996 |
Dave Hutchinson | Grã-Bretanha | 2000 |
Earl Goodard | África do Sul | 2002 |
Scott Mansell | Grã-Bretanha | 2004 |
Patrick d'Aubreby | França | 2005 |
Ingo Gerstl | Áustria | 2008 |
Henk de Boer | Holanda | 2009 |
Damien Charveriat | Holanda | 2010 |
Gary Hauser | Holanda | 2013 |
Depois de correr seus primeiros anos apenas no Reino Unido, a Boss Series se expandiu e ganhou outros países e continentes. Em quase 20 anos, a disputa chegou a países como Estados Unidos e Austrália, que realizam campeonatos próprios – respectivamente, a USBoss e a OzBoss. Em cada prova, carros de diversas categorias dividem o grid – embora os pilotos sejam divididos por classe mediante a origem dos carros, a competição se nivela pela idade de cada modelo.
É o que garante quem já competiu com sucesso pela Boss Series. “Um carro antigo de F1 tem um tempo de volta similar ao de carros modernos da GP2”, assegura o britânico Scott Mansell, campeão da Boss Series em 2004, em entrevista por e-mail ao Terra. O britânico, com passagem pela Indy Lights (e que não tem nenhum parentesco com Nigel Mansell), destaca o baixo custo da competição como um atrativo para jovens pilotos que desejam continuar correndo, embora sem opções em categorias como Fórmula 3, GP3, Fórmula BMW ou Fórmula Renault.
“Ninguém é pago para correr na Boss Series, então não há profissionais – mas você pode dizer o mesmo sobre a maioria dos pilotos do BTCC (Campeonato Britânico de Carros de Turismo), do FIA GT, da Le Mans Series e da F1. Atualmente, há muitos pilotos amadores ou pagantes em diversos níveis do esporte a motor – até mesmo no nível mais alto”, afirma, em referência clara aos pilotos pagantes no grid da Fórmula 1.
OK, mas vamos à categoria. Para os fãs da Fórmula 1 que ouvem os motores V6 com ares de decepção, a boa notícia: os carros da categoria na Boss Series correm como motores V8 e V10. Entre os carros de Fórmula Indy e GP2, os motores são V8. Já entre os carros de Fórmula 3000 e World Series, são V6. E como equilibrar tudo isso? Fácil: é só dividir os carros de grid em três classes simultâneas, que determina vencedores em uma mesma corrida.
Foram tais atrativos que levaram Scott Mansell à Boss Series em 2004. Sem conseguir abrir as portas das categorias de acesso da Europa, o britânico levantou fundos suficientes para disputar a Boss Series com uma Benetton B197, carro utilizado por Jean Alesi, Gerhard Berger e Alexander Wurz na temporada 1997 da F1. Resultado: Mansell foi campeão da categoria. Com isso, foi indicado ao Prêmio McLaren/Autosport do Clube Britânico de Pilotos (BRDC), perdendo a categoria jovem piloto para o escocês Paul di Resta.
A temporada, no entanto, abriu a Mansell algumas portas. Na Fórmula 1, conversou com equipes como Toyota e BAR, mas sem evoluções nos diálogos. Na Fórmula 3000, chegou a realizar trabalhos com a equipe Arden (então encabeçada por Christian Horner, atual chefe de equipe da Red Bull na F1). Não deslanchou, mas se manteve sempre no radar de outras categorias – passou pela Indy Lights entre 2005 e 2006, além de disputar a extinta Fórmula Superliga em 2009.
Mesmo pouco conhecida no Brasil, a Boss Series surge como uma alternativa a jovens pilotos que não emplacam nas categorias internacionais de monopostos no caminho à Fórmula 1, ao mesmo tempo em que abriga veteranos que perdem mercado no exterior – situação semelhante à da Stock Car no Brasil. Com custos baixos, equipes reduzidas e carros com muita história, a categoria consegue atrair pilotos e torcedores a circuitos como Hockenheim (Alemanha), Mugello (Itália), Zolder (Bélgica) e Zandvoort (Holanda). O Mansell menos famoso agradece.
Confira a entrevista de Scott Mansell ao Terra:
Terra – Para aqueles que não estão familiarizados com a Boss Series, ela parece um tanto quanto amadora. O que você pode falar sobre a categoria? Como você apresenta a Boss Series para os fãs de automobilismo?
Scott Mansell - A Boss Series é uma categoria europeia aberta para grandes monopostos. Nas últimas temporadas, a maioria do grid foi formada por carros da Fórmula 1 e da GP2. Um carro antigo de F1 tem um tempo de volta similar ao de carros modernos da GP2. Ainda assim, os carros são divididos por classes. Quando você vê e ouve esses motores V10 e V8 dando a partida e largando, não há nada parecido. Quanto a ser um amador, o que você quer dizer? Ninguém é pago para correr na Boss Series, então não há profissionais – mas você pode dizer o mesmo sobre a maioria dos pilotos do BTCC, do FIA GT, da Le Mans Series e da F1. Atualmente, há muitos pilotos amadores ou pagantes em diversos níveis do esporte a motor – até mesmo no nível mais alto.
Classe | Categorias de carros |
Open | F1 (de 1997 em diante) |
Fórmula | F1 (entre 1992 e 1996) Fórmula Indy (de 1992 em diante) GP2, A1GP, AutoGP, Fórmula Superliga |
Masters | F1 (até 1991) Fórmula Nippon, Indy Lights, F-3000, World Series |
Terra – Quais são as principais diferenças entre as equipes da Boss Series e as equipes de outras categorias? Parece que os pilotos correm quase por conta própria...
Scott Mansell - Há algumas poucas equipes que correm com, talvez, quatro mecânicos trabalhando com elas. Ainda assim, se você for olhar bem para a confiabilidade, você verá que a maioria dos times é fantástica. Estes caras estão correndo com carros que costumavam ser vistoriados por 50 ou 60 pessoas – o fato de eles fazerem isso usando 10% ou 15% da força de trabalho é incrível. Eu trabalho com um determinado número de equipes da Boss Series, levando informações de acerto, e posso dizer que esses caras são os mais espertos que já conheci. Mesmo se você compará-los aos times do mais alto nível com os quais já pilotei.
Terra – Você pode nos apresentar sua trajetória até a Boss Series? Você chegou a correr pelo programa de desenvolvimento de pilotos da equipe Arden para a Fórmula 3000, certo?
Scott Mansell - Aos 18 anos, eu tinha competido por dois anos em categorias de base na Europa. O próximo passo naturalmente seria a Fórmula BMW ou a Fórmula Renault. Estes carros não são exatamente impressionantes e eu não consegui achar patrocinadores para competir em qualquer coisa com motores de carros de turismo – 95% dos pilotos destas categorias são bancados por dinheiro da família, já que patrocínio legítimo é raro. Ao mesmo tempo, uma temporada da Boss Series tinha quase o mesmo custo de uma na F-BMW ou na F-Renault, mas com carros que não são tão impressionantes para os patrocinadores – daí, decidi correr a temporada 2004 com uma Benetton de 1997. Tive um grande ano e venci o campeonato, quebrando o recorde de volta em cinco pistas (Brands Hatch, Silverstone, Donington Park, Lausitzring e Zolder). Fui então indicado para numerosos prêmios, incluindo o de Jovem Piloto do BRDC. Conversei com alguns times de F1 e testei com a Arden. O chefe da equipe na ocasião era um cara chamado Christian Horner... Talvez você conheça ele.
Terra – A indicação ao prêmio do BRDC te surpreendeu de alguma maneira?
Scott Mansell - Fiquei honrado pela indicação naquele ano – a lista de vencedores anteriores é como um “quem é quem”. Foram alguns dias de pressão em Silverstone (onde foi entregue o prêmio). Paul di Resta acabou sendo o vencedor, e sua conexão com a Mercedes – além de seu grande talento – levaram ele à Fórmula 1.
Terra – Como você decide o carro com o qual correrá durante uma temporada? Você recebe ofertas de proprietários ou equipes? Você compra os carros para a equipe?
Scott Mansell - Bem, depende se você dispõe do dinheiro ou não. Para mim, as equipes ou os pilotos – que se tornaram amigos – perguntam se eu gostaria de correr. Se você tiver dinheiro, você faz o que você quiser.
Terra – Desde que você venceu o campeonato de 2004, você não disputou uma temporada completa na Boss Series. Por quê? Qual tem sido seu foco desde então?
Scott Mansell – O patrocínio que eu tinha para aquela temporada não continuou. O custo do automobilismo é muito alto. Se você não tem o dinheiro lá, então não corre.
Terra – Em 2005 e 2006, você disputou algumas etapas da Indy Lights. Como foi a experiência nos EUA para você? Você chegou a conversar com alguém para disputar a Fórmula Indy?
Scott Mansell -
O tempo que eu passei nos EUA foi divertido. Tínhamos um programa no qual eu corria apenas nos circuitos mistos, não nos ovais, e eu tive algumas boas corridas. A equipe Alas, com a qual eu corri, não se adaptou bem. Acredito de verdade que, se eu voltasse, eu iria muito bem por lá.
Terra – Seu site oficial diz que você chegou a conversar com a BAR e com a Toyota. Quão perto você esteve da Fórmula 1? O que aconteceu para que essas equipes não te dessem uma chance?
Scott Mansell –
Tive encontros com a BAR e com a Toyota em 2004. É difícil dizer quão perto você está de ter um teste – e é óbvio que nós perguntamos sobre. Eu tive alguns conselhos para procurar a GP2, mas a vaga em 2005 custava em torno de 900 mil libras.
Terra – Além de pilotar, você lidera a Track Days Driver. Você pode comentar sobre a empresa? Ela é direcionada ao desenvolvimento de pilotos profissionais?
Scott Mansell –
Na verdade, o site está mudando, vai voltar a ser meu site pessoal. Mas sim, nós trabalhamos com pilotos de todo o mundo. Tenho um excelente background técnico, então trabalho com pilotos para melhorar seu desempenho na pista e seus acertos.
Terra – Com que frequência as pessoas te perguntam sobre um parentesco com Nigel Mansell? Isso te chateia? Você conhece os filhos dele?
Scott Mansell -
Haha! Me perguntam isso toda vez nos circuitos. Não, não é um problema para mim – pelo menos as pessoas lembram meu nome. Mesmo assim, quando eu me mudei para os EUA, um dos canais de TV especializados em automobilismo deu uma matéria – sem nem me telefonar – para dizer que o filho de Nigel estava chegando para correr. É claro que eu esperei três dias para ligar e avisar sobre o erro.
A Boss Series em 2014
A temporada 2014 da categoria terá 32 pilotos, distribuídos entre as três classes. Ao todo, serão oito provas no calendário: Hockenheim (12 de abril), Mugello (28 de abril), Red Bull Ring (17 de maio), Monza (7 de junho), Zandvoort (5 de julho), Brno (13 de setembro), Ímola (4 de outubro) e Paul Ricard (25 de outubro).
Confira a lista de pilotos inscritos:
Classe | Número | Piloto | País | Equipe | Carro | Categoria | Ano |
Open | 2 | Marijn van Kalmthout | HOL | Mansell Motorsport | Benetton B197 | F1 | 1997 |
Open | 3 | Peter Milavec | AUT | GP Racing | A confirmar | ||
Open | 4 | Michael Woodcock | GBR | WB Motorsport | Arrows A22 | F1 | 2001 |
Open | 10 | Klaas Zwart | HOL | Ascari Racing | Jaguar R5 | F1 | 2004 |
Formula | 1 | Gary Hauser | HOL | Racing Experience | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 12 | Christian Eicke | SUI | Speed Center | Dallara | GP2 | 2009 |
Formula | 21 | Bernd Herndlhofer | AUT | Raceteam4you | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 22 | Jens Renstrup | DIN | Top Speed | Dallara | GP2 | 2205 |
Formula | 23 | Ingo Gerstl | AUT | Top Speed | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 24 | Gianluca Ripoli | ITA | Top Speed | Dallara | GP2 | 2005 |
Formula | 25 | Philippe Haezebrouck | FRA | Signature | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 27 | Marco Ghiotto | ITA | Eurotech | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 28 | "Tintin" | BEL | Signature | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 29 | Marc Faggionato | MON | Signature | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 31 | Phil Stratford | EUA | Signature | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 34 | Johann Ledermair | AUT | Ledermair Motorsport | Dallara | GP2 | 2008 |
Formula | 36 | Henk de Boer | HOL | Team De Boer | Panoz DP01 | Indy | 2007 |
Formula | 37 | Jakub Smiekhowski | POL | Inter Europol | Dallara | GP2 | 2008 |
Masters | 41 | Hans Laub | ALE | Speed Center | Dallara | World Series | 2008 |
Masters | 42 | Henry Buettner | ALE | Helge Schneider | Reynard 91D | F-3000 | 1991 |
Masters | 44 | Karl-Heinz Becker | ALE | Becker Motorsport | Dallara | World Series | 2003 |
Masters | 46 | Jean-Claude Monbaron | SUI | Monbaron Racing | Reynard 91D | F-3000 | 1991 |
Masters | 48 | Walter Steding | ALE | Hoffmann Racing | Dallara | World Series | 2005 |
Masters | 50 | Peter Randlshofer | ALE | Randlshofer Racing | Dallara | World Series | 2003 |
Masters | 52 | Armando Mangini | ITA | Team Italia | Lola B02/50 | F-3000 | 2002 |
Masters | 57 | Maurizio Copetti | ITA | Puresport | Dallara | World Series | 2003 |
Masters | 61 | Peter Gollner | SUI | Speed Center | Dallara | World Series | 2008 |
Masters | 65 | Alain de Blandre | BEL | Ryschka Motorsport | Lola T8900 | Indy | 1989 |
Masters | 71 | Christopher Brenier | FRA | Easy Formula | A confirmar | ||
Masters | 72 | Gilles Brenier | FRA | Easy Formula | A confirmar | ||
Masters | 91 | Terry Sayles | GBR | TJS Self Drive | Dallara F191 | F1 | 1991 |
Masters | 99 | Wolfgang Jordan | ALE | Speed Center | Lola B99/50 | F-3000 | 1999 |