PUBLICIDADE

Fórmula Indy

Campeão apresenta a categoria que "recicla" carros da F1

Criada em 1995, Boss Series conta com carros de F1, Fórmula Indy, GP2 e F-3000 no mesmo grid; Scott Mansell, campeão em 2004, conta como é a disputa entre os "seminovos"

7 mar 2014 - 09h36
(atualizado às 09h37)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>No mesmo grid, Boss Series alinha carros de diversas categorias, como F1, GP2 e Fórmula Indy</p>
No mesmo grid, Boss Series alinha carros de diversas categorias, como F1, GP2 e Fórmula Indy
Foto: Boss Series / Divulgação

O que acontece com os carros da Fórmula 1 depois que termina uma temporada? Alguns são reutilizados nos anos seguintes, às vezes por equipes menores. Outros vão parar nas mãos de colecionadores ou de museus, e não raro aparecem em festivais pelo mundo. No entanto, há quem aproveite os "seminovos" da F1 para correr por aí, dando sobrevida aos bólidos e esperança a pilotos que não emplacaram na carreira.

Esta é a missão da Boss Series, categoria criada na Europa em 1995 e que utiliza carros usados de categorias como Fórmula 1, GP2, Fórmula Indy e Fórmula 3000 (extinta). Batizada em referência aos monopostos que utiliza ("Big Open Single Seaters", ou "grandes monopostos abertos"), a categoria não conta com nomes conhecidos, mas tem o aval da FIA e atrai torcedores que querem ver de volta máquinas de equipes como Benetton, Jordan, BAR, Minardi e outros times da F1.

Todos os campeões da Boss Series

Piloto País Títulos
Klaas Zwart Holanda 2003, 2006, 2007,
2010, 2011 e 2012
Nigel Greensall Grã-Bretanha 1997 e 1998
Tony Worswick Grã-Bretanha 1999 e 2001
Klaus Panchyrz Alemanha 1995
Johan Rajamaki Suécia 1996
Dave Hutchinson Grã-Bretanha 2000
Earl Goodard África do Sul 2002
Scott Mansell Grã-Bretanha 2004
Patrick d'Aubreby França 2005
Ingo Gerstl Áustria 2008
Henk de Boer Holanda 2009
Damien Charveriat Holanda 2010
Gary Hauser Holanda 2013

Depois de correr seus primeiros anos apenas no Reino Unido, a Boss Series se expandiu e ganhou outros países e continentes. Em quase 20 anos, a disputa chegou a países como Estados Unidos e Austrália, que realizam campeonatos próprios – respectivamente, a USBoss e a OzBoss. Em cada prova, carros de diversas categorias dividem o grid – embora os pilotos sejam divididos por classe mediante a origem dos carros, a competição se nivela pela idade de cada modelo.

É o que garante quem já competiu com sucesso pela Boss Series. “Um carro antigo de F1 tem um tempo de volta similar ao de carros modernos da GP2”, assegura o britânico Scott Mansell, campeão da Boss Series em 2004, em entrevista por e-mail ao Terra. O britânico, com passagem pela Indy Lights (e que não tem nenhum parentesco com Nigel Mansell), destaca o baixo custo da competição como um atrativo para jovens pilotos que desejam continuar correndo, embora sem opções em categorias como Fórmula 3, GP3, Fórmula BMW ou Fórmula Renault.

“Ninguém é pago para correr na Boss Series, então não há profissionais – mas você pode dizer o mesmo sobre a maioria dos pilotos do BTCC (Campeonato Britânico de Carros de Turismo), do FIA GT, da Le Mans Series e da F1. Atualmente, há muitos pilotos amadores ou pagantes em diversos níveis do esporte a motor – até mesmo no nível mais alto”, afirma, em referência clara aos pilotos pagantes no grid da Fórmula 1.

OK, mas vamos à categoria. Para os fãs da Fórmula 1 que ouvem os motores V6 com ares de decepção, a boa notícia: os carros da categoria na Boss Series correm como motores V8 e V10. Entre os carros de Fórmula Indy e GP2, os motores são V8. Já entre os carros de Fórmula 3000 e World Series, são V6. E como equilibrar tudo isso? Fácil: é só dividir os carros de grid em três classes simultâneas, que determina vencedores em uma mesma corrida.

<p>Em 2004, Scott Mansell comprou uma Benetton B197 (carro da temporada 1997 da F1) e foi campeão da Boss Series</p>
Em 2004, Scott Mansell comprou uma Benetton B197 (carro da temporada 1997 da F1) e foi campeão da Boss Series
Foto: Acervo pessoal / Reprodução

Foram tais atrativos que levaram Scott Mansell à Boss Series em 2004. Sem conseguir abrir as portas das categorias de acesso da Europa, o britânico levantou fundos suficientes para disputar a Boss Series com uma Benetton B197, carro utilizado por Jean Alesi, Gerhard Berger e Alexander Wurz na temporada 1997 da F1. Resultado: Mansell foi campeão da categoria. Com isso, foi indicado ao Prêmio McLaren/Autosport do Clube Britânico de Pilotos (BRDC), perdendo a categoria jovem piloto para o escocês Paul di Resta.

A temporada, no entanto, abriu a Mansell algumas portas. Na Fórmula 1, conversou com equipes como Toyota e BAR, mas sem evoluções nos diálogos. Na Fórmula 3000, chegou a realizar trabalhos com a equipe Arden (então encabeçada por Christian Horner, atual chefe de equipe da Red Bull na F1). Não deslanchou, mas se manteve sempre no radar de outras categorias – passou pela Indy Lights entre 2005 e 2006, além de disputar a extinta Fórmula Superliga em 2009.

<p>Categoria corre em circuitos tradicionais, como Brands Hatch (foto), Hockenheim, Zandvoort, Zolder e Mugello</p>
Categoria corre em circuitos tradicionais, como Brands Hatch (foto), Hockenheim, Zandvoort, Zolder e Mugello
Foto: Acervo pessoal / Reprodução

Mesmo pouco conhecida no Brasil, a Boss Series surge como uma alternativa a jovens pilotos que não emplacam nas categorias internacionais de monopostos no caminho à Fórmula 1, ao mesmo tempo em que abriga veteranos que perdem mercado no exterior – situação semelhante à da Stock Car no Brasil. Com custos baixos, equipes reduzidas e carros com muita história, a categoria consegue atrair pilotos e torcedores a circuitos como Hockenheim (Alemanha), Mugello (Itália), Zolder (Bélgica) e Zandvoort (Holanda). O Mansell menos famoso agradece.

Confira a entrevista de Scott Mansell ao Terra:

Terra – Para aqueles que não estão familiarizados com a Boss Series, ela parece um tanto quanto amadora. O que você pode falar sobre a categoria? Como você apresenta a Boss Series para os fãs de automobilismo?

Scott Mansell - A Boss Series é uma categoria europeia aberta para grandes monopostos. Nas últimas temporadas, a maioria do grid foi formada por carros da Fórmula 1 e da GP2. Um carro antigo de F1 tem um tempo de volta similar ao de carros modernos da GP2. Ainda assim, os carros são divididos por classes. Quando você vê e ouve esses motores V10 e V8 dando a partida e largando, não há nada parecido. Quanto a ser um amador, o que você quer dizer? Ninguém é pago para correr na Boss Series, então não há profissionais – mas você pode dizer o mesmo sobre a maioria dos pilotos do BTCC, do FIA GT, da Le Mans Series e da F1. Atualmente, há muitos pilotos amadores ou pagantes em diversos níveis do esporte a motor – até mesmo no nível mais alto.

As classes (em uma mesma prova) da Boss Series

Classe Categorias de carros
Open F1 (de 1997 em diante)
Fórmula F1 (entre 1992 e 1996)
Fórmula Indy (de 1992 em diante)
GP2, A1GP, AutoGP, Fórmula Superliga
Masters F1 (até 1991)
Fórmula Nippon, Indy Lights, F-3000, World Series

Terra – Quais são as principais diferenças entre as equipes da Boss Series e as equipes de outras categorias? Parece que os pilotos correm quase por conta própria...

Scott Mansell - Há algumas poucas equipes que correm com, talvez, quatro mecânicos trabalhando com elas. Ainda assim, se você for olhar bem para a confiabilidade, você verá que a maioria dos times é fantástica. Estes caras estão correndo com carros que costumavam ser vistoriados por 50 ou 60 pessoas – o fato de eles fazerem isso usando 10% ou 15% da força de trabalho é incrível. Eu trabalho com um determinado número de equipes da Boss Series, levando informações de acerto, e posso dizer que esses caras são os mais espertos que já conheci. Mesmo se você compará-los aos times do mais alto nível com os quais já pilotei.

<p>Título na temporada de 2004 da Boss Series valeu a Scott Mansell aproximações com categorias como F1 e Indy Lights</p>
Título na temporada de 2004 da Boss Series valeu a Scott Mansell aproximações com categorias como F1 e Indy Lights
Foto: Acervo pessoal / Reprodução
Terra – Você pode nos apresentar sua trajetória até a Boss Series? Você chegou a correr pelo programa de desenvolvimento de pilotos da equipe Arden para a Fórmula 3000, certo?

Scott Mansell - Aos 18 anos, eu tinha competido por dois anos em categorias de base na Europa. O próximo passo naturalmente seria a Fórmula BMW ou a Fórmula Renault. Estes carros não são exatamente impressionantes e eu não consegui achar patrocinadores para competir em qualquer coisa com motores de carros de turismo – 95% dos pilotos destas categorias são bancados por dinheiro da família, já que patrocínio legítimo é raro. Ao mesmo tempo, uma temporada da Boss Series tinha quase o mesmo custo de uma na F-BMW ou na F-Renault, mas com carros que não são tão impressionantes para os patrocinadores – daí, decidi correr a temporada 2004 com uma Benetton de 1997. Tive um grande ano e venci o campeonato, quebrando o recorde de volta em cinco pistas (Brands Hatch, Silverstone, Donington Park, Lausitzring e Zolder). Fui então indicado para numerosos prêmios, incluindo o de Jovem Piloto do BRDC. Conversei com alguns times de F1 e testei com a Arden. O chefe da equipe na ocasião era um cara chamado Christian Horner... Talvez você conheça ele.

Terra – A indicação ao prêmio do BRDC te surpreendeu de alguma maneira?

Scott Mansell - Fiquei honrado pela indicação naquele ano – a lista de vencedores anteriores é como um “quem é quem”. Foram alguns dias de pressão em Silverstone (onde foi entregue o prêmio). Paul di Resta acabou sendo o vencedor, e sua conexão com a Mercedes – além de seu grande talento – levaram ele à Fórmula 1.

Terra – Como você decide o carro com o qual correrá durante uma temporada? Você recebe ofertas de proprietários ou equipes? Você compra os carros para a equipe?

Scott Mansell - Bem, depende se você dispõe do dinheiro ou não. Para mim, as equipes ou os pilotos – que se tornaram amigos – perguntam se eu gostaria de correr. Se você tiver dinheiro, você faz o que você quiser.

<p>Mansell chegou à Indy Lights em 2005 e 2006</p>
Mansell chegou à Indy Lights em 2005 e 2006
Foto: Acervo pessoal / Reprodução
Terra – Desde que você venceu o campeonato de 2004, você não disputou uma temporada completa na Boss Series. Por quê? Qual tem sido seu foco desde então?

Scott Mansell – O patrocínio que eu tinha para aquela temporada não continuou. O custo do automobilismo é muito alto. Se você não tem o dinheiro lá, então não corre.

Terra – Em 2005 e 2006, você disputou algumas etapas da Indy Lights. Como foi a experiência nos EUA para você? Você chegou a conversar com alguém para disputar a Fórmula Indy?

Scott Mansell -

O tempo que eu passei nos EUA foi divertido. Tínhamos um programa no qual eu corria apenas nos circuitos mistos, não nos ovais, e eu tive algumas boas corridas. A equipe Alas, com a qual eu corri, não se adaptou bem. Acredito de verdade que, se eu voltasse, eu iria muito bem por lá.

Terra – Seu site oficial diz que você chegou a conversar com a BAR e com a Toyota. Quão perto você esteve da Fórmula 1? O que aconteceu para que essas equipes não te dessem uma chance?

Scott Mansell –

Tive encontros com a BAR e com a Toyota em 2004. É difícil dizer quão perto você está de ter um teste – e é óbvio que nós perguntamos sobre. Eu tive alguns conselhos para procurar a GP2, mas a vaga em 2005 custava em torno de 900 mil libras.

Terra – Além de pilotar, você lidera a Track Days Driver. Você pode comentar sobre a empresa? Ela é direcionada ao desenvolvimento de pilotos profissionais?

Scott Mansell –

Na verdade, o site está mudando, vai voltar a ser meu site pessoal. Mas sim, nós trabalhamos com pilotos de todo o mundo. Tenho um excelente background técnico, então trabalho com pilotos para melhorar seu desempenho na pista e seus acertos.

Terra – Com que frequência as pessoas te perguntam sobre um parentesco com Nigel Mansell? Isso te chateia? Você conhece os filhos dele?

Scott Mansell -

Haha! Me perguntam isso toda vez nos circuitos. Não, não é um problema para mim – pelo menos as pessoas lembram meu nome. Mesmo assim, quando eu me mudei para os EUA, um dos canais de TV especializados em automobilismo deu uma matéria – sem nem me telefonar – para dizer que o filho de Nigel estava chegando para correr. É claro que eu esperei três dias para ligar e avisar sobre o erro.

A Boss Series em 2014

A temporada 2014 da categoria terá 32 pilotos, distribuídos entre as três classes. Ao todo, serão oito provas no calendário: Hockenheim (12 de abril), Mugello (28 de abril), Red Bull Ring (17 de maio), Monza (7 de junho), Zandvoort (5 de julho), Brno (13 de setembro), Ímola (4 de outubro) e Paul Ricard (25 de outubro).

Confira a lista de pilotos inscritos:

Classe Número Piloto País Equipe Carro Categoria Ano
Open 2 Marijn van Kalmthout HOL Mansell Motorsport Benetton B197 F1 1997
Open 3 Peter Milavec AUT GP Racing A confirmar    
Open 4 Michael Woodcock GBR WB Motorsport Arrows A22 F1 2001
Open 10 Klaas Zwart HOL Ascari Racing Jaguar R5 F1 2004
Formula 1 Gary Hauser HOL Racing Experience Dallara GP2 2008
Formula 12 Christian Eicke SUI Speed Center Dallara GP2 2009
Formula 21 Bernd Herndlhofer AUT Raceteam4you Dallara GP2 2008
Formula 22 Jens Renstrup DIN Top Speed Dallara GP2 2205
Formula 23 Ingo Gerstl AUT Top Speed Dallara GP2 2008
Formula 24 Gianluca Ripoli ITA Top Speed Dallara GP2 2005
Formula 25 Philippe Haezebrouck FRA Signature Dallara GP2 2008
Formula 27 Marco Ghiotto ITA Eurotech Dallara GP2 2008
Formula 28 "Tintin" BEL Signature Dallara GP2 2008
Formula 29 Marc Faggionato MON Signature Dallara GP2 2008
Formula 31 Phil Stratford EUA Signature Dallara GP2 2008
Formula 34 Johann Ledermair AUT Ledermair Motorsport Dallara GP2 2008
Formula 36 Henk de Boer HOL Team De Boer Panoz DP01 Indy  2007
Formula 37 Jakub Smiekhowski POL Inter Europol Dallara GP2 2008
Masters 41 Hans Laub ALE Speed Center Dallara World Series 2008
Masters 42 Henry Buettner ALE Helge Schneider Reynard 91D F-3000 1991
Masters 44 Karl-Heinz Becker ALE Becker Motorsport Dallara World Series 2003
Masters 46 Jean-Claude Monbaron SUI Monbaron Racing Reynard 91D F-3000 1991
Masters 48 Walter Steding ALE Hoffmann Racing Dallara World Series 2005
Masters 50 Peter Randlshofer ALE Randlshofer Racing Dallara World Series 2003
Masters 52 Armando Mangini ITA Team Italia Lola B02/50 F-3000 2002
Masters 57 Maurizio Copetti ITA Puresport Dallara World Series 2003
Masters 61 Peter Gollner SUI Speed Center Dallara World Series 2008
Masters 65 Alain de Blandre BEL Ryschka Motorsport Lola T8900 Indy 1989
Masters 71 Christopher Brenier FRA Easy Formula A confirmar    
Masters 72 Gilles Brenier FRA Easy Formula A confirmar    
Masters 91 Terry Sayles GBR TJS Self Drive Dallara F191 F1 1991
Masters 99 Wolfgang Jordan ALE Speed Center Lola B99/50 F-3000 1999
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade