SEGUNDA-FEIRA, 25 DE ABRIL DE 1994 Senna testa na França em busca de reação Sem pontuar na temporada, Williams trabalha para reagir rapidamente frente à Benetton Depois de passar as duas primeiras etapas da temporada 1994 da Fórmula 1 em branco, Ayrton Senna e a Williams começam hoje a testar o carro para buscar resultados mais animadores. Até amanhã (26), a equipe fará trabalhos no Circuito de Nogaro, na França. A expectativa é que os primeiros resultados dos testes não apareçam já na próxima etapa, o Grande Prêmio de San Marino. Como o circuito francês se caracteriza pelas curvas de baixa velocidade, a Williams espera ter resultados consistentes no máximo até o Grande Prêmio de Mônaco, marcado para 15 de maio. Sem completar as etapas do Brasil e do Pacífico, Senna espera uma reação da Williams para buscar o tetracampeonato. Para tal, confia na potência do motor Renault. Em Ímola, neste final de semana, o brasileiro tenta diminuir a liderança para os primeiros colocados da temporada – em especial para o alemão Michael Schumacher, da Benetton, que venceu as duas primeiras corridas e já contabiliza 20 pontos. “O fato de Schumacher ter 20 pontos, e eu, zero, representa que o campeonato ficou mais difícil, mas nada está decidido. Na próxima corrida, em Ímola, a força do motor Renault vai nos ajudar”, acredita Senna, que quer resultados das mudanças no carro. “Acho até que os técnicos ainda podem trabalhar nele para que fique melhor. Teremos também algumas mudanças importantes no carro, e por isso me parecem grandes as chances de sucesso”, completou. TERÇA-FEIRA, 26 DE ABRIL, DE 1994 Senna na França: futebol, restaurante e trabalho duro Antes de testes em Nogaro, tricampeão foi convidado para jogo do Brasil; com agenda cheia, jantou e viajou em meio a corridas O começo de temporada não foi o esperado, mas Ayrton Senna não para. Fora do Brasil desde o começo do mês, o tricampeão está na França testando pela Williams desde ontem. E, depois de passar por Japão, França e Alemanha antes de voltar ao solo francês, embarcará para a Itália para a disputa do Grande Prêmio de San Marino, no Circuito de Ímola. Na França, a aventura de Senna tem sido um pouco menos estressante que os resultados da Williams. Na última quarta-feira (20), o piloto foi o convidado de honra para o amistoso entre Brasil e Paris Saint-Germain, realizado no Estádio Parc des Princes, em Paris. O jogo terminou empatado, 0 a 0. Com o placar morno, Senna foi uma das atrações para quem compareceu à partida. Chamado a dar o pontapé inicial, foi muito aplaudido pelos torcedores – que, aparentemente, não se lembraram da rivalidade do brasileiro com o tetracampeão Alain Prost. Antes de sair, o piloto ainda apertou a mão do meia Raí, jogador do PSG e capitão da Seleção Brasileira no jogo. Apesar da festa, Senna saiu do jogo antes do apito final. “Isso é como uma corrida sem pódio e sem ultrapassagem”, brincou, pouco satisfeito com o amistoso sem gols. Mais tarde, Ayrton Senna foi jantar no restaurante La Coupole, no bairro de Montparnasse. Apesar de ter dividido a mesa com um grupo de brasileiros, o piloto pouco falou, e apenas bebeu água – regras da dieta rígida que segue. Antes de voltar para os testes do início da semana no Circuito de Nogaro, ontem e hoje, Senna passou rapidamente pela Alemanha – na cidade de Ingolstadt, próxima a Munique, visitou a fábrica das bicicletas que levarão seu nome. Depois dos testes, viaja para a Itália, já para a disputa do Grande Prêmio de San Marino. QUARTA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 1994 Empolgado, Senna encerra testes em Nogaro A Williams encerrou ontem uma série de dois dias de testes no Circuito de Nogaro, na França. Em busca de melhores resultados no começo da temporada, Ayrton Senna conduziu o carro nas sessões. Os primeiros resultados ainda não devem ser vistos na próxima etapa, em San Marino. A Williams escolheu o traçado francês por suas semelhanças com o Circuito de Mônaco, quarta etapa da temporada. Mesmo sem pontuar nas duas primeiras corridas do ano, Brasil e Pacífico, Senna acredita na possibilidade de superar Michael Schumacher. O alemão da Benetton lidera a temporada com 20 pontos, tendo vencido as duas primeiras provas de 1994. “A história da Fórmula 1 mostra que nem sempre quem sai na frente é o campeão”, afirmou Senna ontem após os testes. QUINTA-FEIRA, 28 DE ABRIL DE 1994 Senna lembra acidente: é preciso dar um basta Após acidente em Aida, piloto pede prudência de pilotos jovens e lembra: “por sorte, ninguém se machucou” No Grande Prêmio de San Marino, no Circuito de Ímola, Ayrton Senna quer deixar no passado o mau começo de temporada que faz em 1994. Em especial, a largada do Grande Prêmio do Pacífico, disputado em Aida (Japão). Na pole position, Senna foi superado ainda na largada pela Benetton de Michael Schumacher. Para piorar, ainda na primeira curva, foi tocado na traseira pela McLaren do finlandês Mika Hakkinen. O rival seguiu, mas Senna rodou, e ainda foi atingido pela Ferrari de Nicola Larini. Fim de prova ali para Senna e Larini. Antes da terceira etapa da temporada, Senna foi duro nas críticas aos novatos – embora não tenha citado Hakkinen, seu companheiro de equipe nas últimas provas pela McLaren em 1993. “Há um número muito grande de pilotos jovens que precisam mostrar serviço e estão andando mais do que podem. Eu sei como é isso porque já fui assim. Mas chega uma hora que é preciso dar um basta”, disse o brasileiro, sem citar o finlandês, 25 anos. “Por sorte, ninguém se machucou, mas poderia ter acontecido. Quero deixar claro que, se continuar assim, também vou começar a jogar duro; aí, vai sobrar gente para todo lado”, completou. Assim como Senna, o finlandês também não pontuou nas duas primeiras etapas da temporada, abandonando as corridas em Interlagos e em Aida. SEXTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 1994 Senna lança bicicletas na chegada à Itália Antes de GP de San Marino, piloto da Williams exibe produtos que levam seu nome Ayrton Senna desembarcou ontem na Itália para o Grande Prêmio de San Marino, terceira etapa da temporada 1994 da Fórmula 1. Ainda sem pontuar no ano, após abandonar as corridas no Brasil e no Pacífico, o tricampeão da Williams chega à corrida deste final de semana com a expectativa de reagir em busca dos primeiros pontos. A chegada de Senna à Itália foi feita em escalas. Primeiro, em um avião particular, o brasileiro desceu na cidade de Pádova, a cerca de 80 km de Ímola. Lá, lançou a bicicleta da empresa Carraro que leva seu nome – dias antes, na Alemanha, visitou a fábrica das bicicletas. De Pádova, voou de helicóptero até Ímola. Ao chegar, hospedou-se em San Pietro di Terme, pequena cidade nos arredores do circuito. Em conversa rápida com a imprensa, mostrou otimismo para começar a tirar os 20 pontos de diferença que tem para Michael Schumacher – o alemão da Benetton venceu as duas primeiras corridas do ano. “Prefiro encarar assim: para mim, o Mundial começa com a prova de Ímola”, comentou Ayrton Senna na Itália. Hoje, as equipes participam dos primeiros treinos livres para o Grande Prêmio de San Marino. SÁBADO, 30 DE ABRIL DE 1994 Rubinho sofre acidente grave em treino na F1 Brasileiro atinge carro da Jordan a 220 km/h durante treinos em Ímola; “ele está bem”, assegura Ayrton Senna após visita O brasileiro Rubens Barrichello sofreu ontem um grave acidente nos treinos livres para o Grande Prêmio de Santa Marino de Fórmula 1, no Circuito de Ímola. O brasileiro da Jordan entrou muito forte em uma curva, passou reto e atingiu o muro a cerca de 220 km/h. A Jordan de Rubinho capotou duas vezes antes que ele fosse resgatado. Com um nariz quebrado, uma costela luxada e um corte na boca, o brasileiro passou a noite em um hospital na cidade de Bolonha. “Nasci de novo”, disse ele. Após os treinos, Ayrton Senna visitou Rubinho no hospital. “Está tudo bem. Ele está bem. Tomou um susto – está meio chocado, mas está bem. Ele não tem nada quebrado, aparentemente. Está falando normal”, disse Senna, o mais rápido do dia. Hoje, os pilotos participam dos treinos que definem o grid de largada para a corrida deste domingo. Senna otimista para reviravolta na temporada Ayrton Senna chegou à Itália otimista com a possível retomada da Williams para a temporada. Depois de largar na pole position nos GPs do Brasil e do Pacífico, e de abandonar as duas provas, o tricampeão quer iniciar a volta por cima de sua nova equipe a partir da prova deste fim de semana, o Grande Prêmio de San Marino, no Circuito de Ímola. “Estamos aqui neste circuito começando a parte europeia da temporada e partindo do zero. Nosso campeonato começa aqui. Não é uma posição ideal para se estar, mas é a realidade. A equipe está consciente do desafio que temos, de recuperar terreno”, disse Senna ontem. Diante das duas vitórias de Michael Schumacher (Benetton), que lidera o campeonato com 20 pontos, Senna espera mudanças no carro para reagir a tempo de buscar o tetracampeonato ainda em 1994, sua primeira temporada na equipe de Frank Williams. “Temos problemas, mas acho que temos um carro bom. Temos potencial. Apenas precisamos trabalhar nos problemas neste momento – o que o time tem feito”, assegurou. DOMINGO, 1 DE MAIO DE 1994 F1 em choque: austríaco morre em acidente nos treinos em Ímola Roland Ratzenberger não resiste a batida nos treinos para GP de San Marino; morte é a primeira da categoria desde Elio de Angelis, em 1986 A Fórmula 1 viveu a conviver ontem com um fantasma que parecia ter se afastado na década de 80: depois de oito anos, um piloto da categoria morreu a bordo do carro. Roland Ratzenberger, 33 anos, se acidentou com gravidade durante a segunda sessão de treinos de classificação de ontem para o Grande Prêmio de San Marino, no Circuito de Ímola. O piloto da Simtek não resistiu e foi declarado morto horas depois. Ratzenberger corria a 315 km/h quando seu carro escapou da pista na Curva Villeneuve – analistas na pista apontam um problema na asa dianteira como possível causa da perda de controle. Após o choque, parte de seu corpo ficou exposta pela lateral do carro, enquanto sua cabeça caía para o lado esquerdo, inconsciente. Transferido da pista para o Hospital Maggiore, em Bolonha, Ratzenberger não resistiu aos ferimentos. Segundo os médicos, a causa da morte foi uma fratura na base do crânio. “Senhoras e senhores, os organizadores do Grande Prêmio de San Marino foram informados pelo Hospital Maggiore, de Bolonha, que o piloto do carro número 32 da MTV Simtek Ford, Roland Ratzenberger, sucumbiu às lesões sofridas durante o acidente ocorrido no Circuito de Ímola no treino qualificatório deste sábado, 30 de abril”, anunciou o comunicado lido na sala de imprensa de Ímola durante a tarde de ontem. A morte de Ratzenberger foi a primeira de um piloto durante uma atividade com a Fórmula 1 desde o acidente fatal do italiano Elio de Angelis, então na Brabham, durante testes no Circuito de Paul Ricard (França) em 15 de maio de 1986. O último piloto a morrer em uma prova foi o italiano Riccardo Paletti (Osella), que bateu durante o Grande Prêmio do Canadá de 1982, em 13 de junho daquele ano, há 12 anos. Simtek é convencida a largar em GP; Senna é pole O chefe de equipe da Simtek, Nick Wirth, estava decidido a não alinhar no grid para o GP de San Marino, hoje, no Circuito de Ímola. No entanto, o time foi convencido a não desistir da prova por Bernie Ecclestone, diretor executivo da Fórmula 1. Desta forma, o australiano David Brabham largará da 24ª colocação, graças ao tempo de 1min26s817 conquistado no treino de ontem. O 26º lugar conquistado por Roland Ratzenberger, que tinha a marca de 1min27s584, ficará vazio no grid. A pole position ficou com Ayrton Senna (Williams), que marcou 1min21s548 na primeira sessão de treinos de classificação. É a 65ª vez que que Senna larga na frente, recorde absoluto da categoria. Em primeiro, Senna se revolta com morte de austríaco Pole position para o Grande Prêmio de San Marino, Ayrton Senna não falou com a imprensa após a morte de Roland Ratzenberger em Ímola. Ainda assim, o brasileiro da Williams estava visivelmente abalado. Senna acompanhava o treino quando o austríaco se chocou contra o muro da Curva Villeneuve. Imediatamente, balançou a cabeça negativamente. De acordou com a assessora de imprensa do piloto, Betise Assumpção, o brasileiro foi para trás dos boxes da Williams e chorou por alguns minutos. “Ele ficou assim, chorando, uns quinze minutos”, disse. A tristeza, no entanto, logo virou revolta. Após os treinos, Senna manifestou irritação com as condições de segurança para a prova – antes da batida de Ratzenberger ontem, Rubens Barrichello (Jordan) já havia se acidentado com gravidade nos treinos livres de sexta-feira. Senna foi então chamado pela direção de prova e repreendido. O único momento de menor tensão da tarde de Senna aconteceu durante a visita de Rubinho. Com o braço engessado, o brasileiro da Jordan voltou a Ímola e conversou com o tricampeão. SEGUNDA-FEIRA, 2 DE MAIO DE 1994 Ayrton Senna: 1960-1994 Automobilismo mundial de luto: acidente em Ímola tira a vida do tricampeão de F1 Eram 18h50 (horário da Itália, 13h50 em Brasília) quando os fãs do automobilismo mundial receberam uma notícia amarga e indesejada: Ayrton Senna da Silva morreu. Horas antes, o piloto brasileiro da equipe Williams se acidentara com gravidade na quinta volta do Grande Prêmio de San Marino, no Autódromo de Ímola. Senna liderava a prova, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos resultantes do violento choque a 200 km/h na Curva Tamburello. Inconsciente, Senna foi socorrido por paramédicos ainda na pista, menos de dois minutos após o choque, e levado de helicóptero ao Hospital Maggiore, em Bolonha, onde foi atendido. Segundo boletim médico divulgado no local, o piloto brasileiro perdeu suas funções cerebrais às 18h03 (horário local, 13h03 em Brasília). Poucos minutos depois, o tricampeão mundial de Fórmula 1 foi declarado clinicamente morto. O anúncio da morte foi feito pela médica Maria Teresa Fiandri, chefe de anestesia e reanimação do hospital. “Do ponto de vista cerebral, já não havia atividade após o acidente. Ele chegou ao hospital com o pulso fraco e a pressão baixa. A pressão foi se reestabelecendo, mas a atividade cerebral não se recuperou”, afirmou a médica. O acidente fatal do brasileiro causou grande comoção no Circuito de Ímola, que havia presenciado um dia antes o óbito do austríaco Roland Ratzenberger, piloto da Simtek, nos treinos de classificação. Horas antes da largada, Senna foi apontado como um dos diretores da Associação de Pilotos de Grandes Prêmios (GPDA, em inglês). Ao lado de Michael Schumacher (Benetton) e Gerhard Berger (Ferrari), o brasileiro tinha a missão de buscar condições mais seguras de competição para os pilotos. A iniciativa, no entanto, veio tarde demais. Em cinco voltas, a Fórmula 1 perdeu um de seus nomes mais respeitados. Antes de última prova, Senna pediu segurança e propôs boicote Diante dos acidentes assustadores de Rubens Barrichello (Jordan) e Roland Ratzenberger (Simtek), Senna chegou a cogitar a possibilidade de não disputar a corrida em Ímola. A namorada do piloto, a modelo Adriane Galisteu, conversou com Senna durante o final de semana da corrida e afirmou que o brasileiro estava disposto a boicotar a prova. “Estou apavorado com o que aconteceu com esse garoto”, confidenciou Senna a Galisteu por telefone, referindo-se à morte de Ratzenberger. “Não vou correr mais, não quero correr. Não vou sair mais de carro nessa pista”, afirmou. A modelo estava hospedada em Portugal, em uma das casas registradas no nome do piloto. A mãe de Adriane, Emma, reforçou a posição tomada por Senna na noite de sábado. “Uma tristeza isso tudo. Ele não queria correr, estava nervoso e desanimado, muito chocado com o acidente do Barrichello na sexta e do Ratzenberger no sábado”, disse, lamentando ainda pela filha. “Ela está sofrendo muito, sem poder fazer nada.” Antes da largada, nos boxes da Williams, Senna conversou com o diretor comercial da escuderia, Michael West, a respeito da segurança da categoria. Senna temia pela próxima etapa da F1, em Mônaco. “É um pitlane muito estreito, com muitas pessoas por ali (...). Será muito, muito perigoso", disse Ayrton Senna, segundo o próprio West. "Conversamos hoje sobre isso, e estamos pensando em pedir aos comissários da FIA que introduzam um limite de velocidade no pitlane.” Sem festa, Schumacher vence e dispara O alemão Michael Schumacher, da Benetton, venceu o GP de San Marino de Fórmula 1, etapa marcada pelo luto da morte de Ayrton Senna em plena corrida. Foi a terceira vitória de Schumacher, que disparou na liderança da temporada com 30 pontos. Damon Hill (Williams) e Rubens Barrichello (Jordan) vêm atrás, com 7 pontos cada. O italiano Nicola Larini (Ferrari) cruzou a linha de chegada em segundo lugar, com o finlandês Mika Hakkinen (McLaren) completando o pódio. Christian Fittipaldi, da Footwork, rodou durante a corrida e não completou a prova. Cientes da morte de Senna, os pilotos compareceram cabisbaixos à cerimônia de premiação. “Venci a corrida, mas não estou satisfeito. Não estou feliz. O que aconteceu neste final de semana... Eu nunca havia visto nada assim”, disse Schumacher após a corrida. “O que posso dizer é que temos muito a aprender”, completou o alemão da Benetton, candidato ao título da temporada. Classificação F1 1994 (box na página) M. Schumacher (ALE/Benetton): 30 D. Hill (GBR/Williams): 7 R. Barrichello (BRA/Jordan): 7 G. Berger (AUT/Ferrari): 6 N. Larini (ITA/Ferrari): 6 Itamar decreta luto oficial de três dias O presidente da república, Itamar Franco, decretou luto oficial de três dias em sinal de respeito à morte de Ayrton Senna. Em decreto, Itamar ainda concedeu a Senna a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito. Segundo o texto do decreto, Senna foi homenageado “por ter simbolizado em seu campo de atividade as qualidades de determinação e coragem do povo brasileiro”. A honraria será entregue à família em cerimônia oficial. Autópsia acontece amanhã; corpo chega ao Brasil na quarta-feira O corpo de Ayrton Senna está desde ontem no Instituto Médico Legal de Bolonha, onde será submetido a autópsia na manhã desta terça-feira. No dia seguinte, segundo programação oficial, será enviado para o Brasil em avião fretado pelo governo brasileiro. A viagem faz escala em Paris. A negociação foi toda intermediada pelo presidente Itamar Franco e pelo ministro das relações exteriores, Celso Amorim. Para o desembarque, agentes da Polícia Federal aceitaram suspender a greve – que já chega a 20 dias – para receber o caixão do piloto. A chegada do voo no Aeroporto de Guarulhos (SP) é prevista para quarta-feira, às 5h50. O corpo de Senna será velado durante toda a quarta-feira na Assembleia Legislativa de São Paulo. Na manhã de quinta-feira, seu corpo será enterrado no Cemitério do Morumbi, também na capital paulista. Em pronunciamento, o porta-voz da família Senna, Charles Marzanasco, pediu para que as pessoas evitem homenagens no aeroporto. “A melhor forma de mostrarem amor e respeito a Senna e visitarem-no de forma ordeira no edifício da assembleia”, disse Marzanasco. TERÇA-FEIRA, 3 DE MAIO Italianos lotam IML em adeus a Senna Público espera para se despedir de corpo de tricampeão Enquanto o corpo de Ayrton Senna não é liberado para viajar ao Brasil, o que deve acontecer hoje, centenas de fãs se aglomeram diante do Instituto Médico Legal de Bolonha (Itália) para homenagear o tricampeão, morto no domingo (1) em um acidente durante o Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1. Pelo local, cercado de grades, muitos fãs levavam bandeiras do Brasil e faixas em verde e amarelo, além de imagens do piloto e flores. Nenhum deles foi autorizado a passar pelo portão de entrada. A autópsia do corpo de Senna será realizada hoje. Só depois do procedimento, que deverá determinar a causa exata da morte, é que o brasileiro poderá ser velado e enterrado em São Paulo. Na tarde de ontem, o empresário de Ayrton Senna, Julian Jacob, esteve no IML de Bolonha para reconhecer o corpo do piloto. Mais tarde, dois caixões foram levados ao local – além do brasileiro, o corpo do austríaco Roland Ratzenberger, vítima de um acidente fatal no sábado, também está no local à espera de liberação. Também ontem, o promotor Maurizio Passarine determinou a interdição do Circuito de Ímola, além de iniciar um processo contra os organizadores do GP de San Marino. O capacete de Senna, bem como os restos da Williams acidentada, foram apreendidos pela justiça da Itália como provas na investigação do acidente. Mãe de Christian Fittipaldi quer aposentadoria de filho A mãe de Christian Fittipaldi, Suzy Fittipaldi, não quer que o filho continue no automobilismo. Na tarde de ontem, ela esteve no prédio da família de Ayrton Senna em São Paulo, e, emocionada, torceu para que o filho mude de rumos. Suzy teme que o piloto da Footwork em seu terceiro ano na Fórmula 1, corra o mesmo risco de Ayrton Senna. “Aquilo não é uma arena, é um esporte. O pessoal que faz aquilo faz por amor. Quando eu quis falar com o Christian ontem (domingo) à noite, nem liguei para ele. O que eu vou falar para ele? ‘Christian, sai fora disso.’ O que eu vou falar?”, questionou a mulher de Wilsinho Fittipaldi. O prédio da família de Senna foi cercado por dezenas de fãs de Ayrton Senna. Nas sedes da holding que leva o nome do piloto, as portas não abriram ontem. Em nota oficial, os funcionários de Senna declararam que “o Grupo Senna recebe como herança a obrigação de disseminar ai filosofia do piloto e empresário Ayrton Senna”. Os pais de Ayrton Senna, porém, estão longe de São Paulo desde o final de semana. Milton e Neide, os pais do piloto, estão na fazenda da família em Tatuí (SP). O retorno do casal à capital paulista amanhã, quando o corpo do filho deve chegar ao Brasil. QUARTA-FEIRA, 4 DE MAIO Senna morreu na pista, diz autópsia Laudo divulgado ontem por legistas diz que piloto morreu ainda no autódromo A autópsia do corpo de Ayrton Senna, realizada ontem em Bolonha, apontou que a morte do piloto aconteceu de forma praticamente instantânea, logo após a batida contra o muro de concreto da Curva Tamburello. O piloto escapou do traçado na quinta volta do GP de San Marino, no domingo (1). A possibilidade havia sido descartada inicialmente pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), uma vez que a legislação italiana determina a suspensão de corridas em caso de morte durante o transcorrer do evento. Por isso, a própria FIA descartou a morte enquanto os competidores seguiam na pista. O irmão de Ayrton Senna, Leonardo, e a assessora do piloto, Betise Assumpção, receberam ainda nas dependências do Circuito de Ímola a informação da morte. Entretanto, segundo Bernie Ecclestone, vice-presidente administrativo da Fórmula 1, a informação não seria divulgada oficialmente. O fim de semana acabou com três nomes indiciados por homicídio culposo – não apenas no caso envolvendo Senna, mas também pela morte do piloto austríaco Roland Ratzenberger no sábado (30). O diretor do GP de San Marino, o administrador do Circuito de Ímola e um médico responsável foram inicialmente acusados e devem responder na justiça pelos dois acidentes. QUINTA-FEIRA, 5 DE MAIO (chegada do corpo e velório) Senna é recebido por 1 milhão de fãs em SP Público toma as ruas para chorar a morte do tricampeão; enterro acontece hoje Cerca de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas de São Paulo ontem para se despedir de Ayrton Senna da Silva. O corpo do tricampeão de Fórmula 1 chegou ontem ao Brasil e foi homenageado por fãs que acompanharam nas ruas o carro de Corpo de Bombeiros que levou o caixão de Senna. O trajeto terminou na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde uma missa reservada à família foi celebrada. Foi o primeiro contato que os pais de Ayrton, Milton e Neide, tiveram o primeiro contato com o corpo do filho. Os irmãos do ex-piloto, Leonardo e Viviane, também estiveram no local, bem como amigos mais próximos. Durante o velório de Ayrton na Assembleia Legislativa, cerca de 100 mil pessoas passaram pelo local para dar adeus ao tricampeão. Muitas delas esperaram por horas na fila, levando para o local o choro que tomava conta das ruas da capital paulista. Torcedores chegaram a ser atendidos no local, sentindo-se mal. Os pilotos brasileiros Rubens Barrichello e Christian Fittipaldi também passaram pelo local. Hoje, Senna será enterrado às 11h da manhã no Cemitério do Morumbi, na capital paulista. Comandante lembra condolências em último voo de Ayrton O voo RG723 que trouxe o corpo de Ayrton Senna ao Brasil recebeu as condolências de diversas aeronaves que dividiam o espaço aéreo. A informação foi divulgada pelo comandante Gomes Pinto, responsável por conduzir o jato MD-11 com o tricampeão entre Paris e Guarulhos. Antes disso, o caixão de Senna foi conduzido de Bolonha à capital francesa por um DC-9 da Força Aérea Italiana. Na segunda parte do trajeto, os passageiros do voo da Varig rezaram em memória do tricampeão. “Todas as vezes que passávamos junto de outro avião, a tripulação enviava-nos as condolências pelo rádio”, disse Gomes Pinto. O voo com o corpo de Senna desembarcou no Brasil na manhã de ontem, por volta das 6h05, cerca de 15 minutos depois do previsto. Na chegada ao espaço aéreo brasileiro, o voo foi escoltado por caças da Força Aérea Brasileira. Ao desembarcar no aeroporto, cadetes da Polícia Militar conduziram o caixão ao caminhão de bombeiros. Da pista, foi levado à Assembleia Legislativa de São Paulo, onde foi velado durante todo o dia. SEXTA-FEIRA, 6 DE MAIO Campeões dão adeus a Senna em SP Grandes nomes da história da F1 carregam caixão de tricampeão em funeral O enterro de Ayrton Senna, realizado no final da manhã de ontem, reuniu um grande número de pilotos e ex-pilotos da Fórmula 1. Nomes como Emerson Fittipaldi, Alain Prost, Jackie Stewart, Gerhard Berger, Damon Hill, Rubens Barrichello, Christian Fittipaldi, Roberto Pupo Moreno, Derek Warwick e Thierry Boutsen estiveram no local para o adeus ao brasileiro. Emerson e Berger lideravam a fila dos pilotos que carregavam o caixão. A emoção tocou até mesmo o principal rival de Senna em seus dez anos de Fórmula 1, o francês Alain Prost. “Em homenagem a Ayrton, eu nunca mais me sentarei em um carro de F1”, disse Prost na cerimônia. O francês vinha logo atrás de Emerson Fittipaldi no cortejo que carregava o caixão de seu ex-companheiro de McLaren. Prost ainda relembrou as conversas com Senna, retomadas recentemente após longa inimizade entre eles. “Senti-me orgulhoso por competir com ele”, afirmou. “Profissionalmente, era o único piloto por quem eu sentia respeito”, acrescentou. A família de Senna vetou a presença de Bernie Ecclestone no local. Vice-presidente administrativo da Fórmula 1, Ecclestone chegou a comparecer ao funeral, mas foi convidado a abandonar o local. Em meio à comoção dentro e fora do cemitério, aviões da Força Aérea Brasileira sobrevoavam a região – dois deles desenhavam a letra S no céu. No local onde foi enterrado o corpo, o nome de Ayrton Senna da Silva é acompanhado de uma frase do próprio ídolo: “nada pode me separar do amor de Deus”. Berger relembra Senna como melhor amigo na F1 Um dos mais abalados na cerimônia de adeus a Senna, o austríaco Gerhard Berger não descartou a possibilidade de se retirar da Fórmula 1. Os dois foram companheiros de McLaren entre 1990 e 1992. “Ayrton foi o melhor amigo que eu já tive na F1”, afirmou o piloto da Ferrari. “Durante os três anos que guiei com Ayrton na McLaren, percebi que ele era o melhor, que estava a um nível superior ao do restante dos pilotos”, elogiou. Berger retornou à Áustria imediatamente após o funeral, mas deixou elogios a Ayrton Senna. Segundo ele, o amigo era “mais chegado do que qualquer outra pessoa do meio”. Falar com Cabrini (SBT) Amanda Cardoso Moreira Central de Comunicação - Relações com a Imprensa T. +55 11 3687-3062 | F. +55 11 36873129 mais especiais de esportes