Laje com vista garante "caixinha" de comerciante em Interlagos
- Emanuel Colombari
- Direto de São Paulo
Nos últimos oito anos, a casa de Gilmar de Santana tem sido um ponto alternativo para os fãs de Fórmula 1 que acompanham o Grande Prêmio do Brasil em São Paulo. Do alto de seu sobrado, construído no número 5813 da Avenida Interlagos, o comerciante, 37 anos, tem acompanhado as edições recentes da corrida - e mais do que isso, encontrou no fim de semana da etapa paulistana da F1 uma importante fonte provisória de renda e diversão.
Em sua laje, com vista privilegiada para o Autódromo de Interlagos, Gilmar conta com churrasqueiras, mesas, cadeiras, TVs e freezer. Com seu churrasco montado, espera receber até 100 convidados para acompanhar a corrida de 2010. Quem não pode ver das arquibancadas do circuito, desembolsa até R$ 100 para olhar partes da prova. "Não estou querendo dar desconto. Antes, era R$ 150", diz.
"Não vou dizer que meu comércio é isso. O troco da manutenção é isso aí", explica o comerciante, que também é estudante e conta até com a parceria de uma cervejaria para equipar o topo de seu sobrado. "É tipo uma ajuda. Não é um patrocínio, mas ajuda a não passar sede e a não ficar em pé", comenta ele, que recebe cadeiras e mesas emprestadas, além de bebidas fornecidas para o evento.
Com o capital levantado, Gilmar trabalha em melhorias de seu sobrado. O local, por sinal, é decorado com diversas miniaturas de carros e capacetes de Fórmula 1, além de exibir um mural de fotos da casa em outros anos de corrida. Para os finais de semana do GP do Brasil, a construção ganha bandeiras do Brasil.
"A cada ano, você melhora uma coisa fixa. Troca um cabo, reforma um banheiro, instala uma churrasqueira. Se dormir no ponto, acaba sendo mais investimento que retorno", diz o responsável pela festa, que conta com 15 familiares trabalhando no local - com uma pequena ajuda financeira. "Eu convido para a festa, mas não deveria nem pagar. Como eles dão uma força, a gente ajuda", conta.
Segundo Gilmar, o público começa chegar a sua casa por volta das 11h - a corrida começa às 14h (horário de Brasília) e terá acompanhamento volta a volta do Terra. Mesmo assim, segundo ele, há casos de torcedores que chegam em cima da hora, ou até mesmo com a prova já em andamento. "Tive um caso de um pessoal mexicano que veio, perdeu o hotel e pagou para ver a última volta. Até tentei explicar, naquela conversa meio enrolada. Mas ele pagou o dele, da mulher e do filho, sem chorar", lembra.
Entre os convidados, diz também que alguns saem antes mesmo da bandeirada final, especialmente no caso de um acidente que comprometa a torcida por determinados pilotos nas primeiras voltas. E com um boné e um casaco da Ferrari, apesar do sol forte do domingo, Gilmar não esconde sua torcida pela escuderia pela escuderia de Fernando Alonso e Felipe Massa.
Porém, espera que o brasileiro não decepcione. "Eu torço pela Ferrari, torço pelo meu pão do dia a dia", explica, lamentando a estratégia da equipe ao longo de 2010 e criticando os pilotos brasileiros, que "não aprenderam que (a Fórmula 1) virou um jogo sujo". "Hoje, você já perde 40% do interesse. Meu piloto está na frente, mas a gente já sabe o resultado".
Mas mesmo com a frustração de um possível favorecimento a Fernando Alonso, o dono da vista para a reta oposta de Interlagos faz o convite para quem quiser comparecer. Segundo ele, o local é um "ponto seguro e bom" na vizinhança. "Você está aqui (na Avenida Interlagos) e já vai embora quando sai", afirma. E se algum piloto quiser se juntar ao churrasco na laje, as portas do sobrado de Gilmar de Santana estão abertas.
"Faço o convite para ter um monte de brasileiro torcendo. Dá para passar o helicóptero do piloto e fazer um tchauzinho. Deixo o convite, e nem escolho o piloto. Para mim, todos eles são bons", diz, admitindo que não espera modelos e celebridades em sua cobertura. "A laje é famosa, mas não é para tanto. O convite está aberto para todos os brasileiros. Não dá tudo de uma vez, mas vamos fazendo a caixinha", brinca.
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