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Exclusivo: Razia reclama falta de apoio e vê Copa 2014 como obstáculo

Em entrevista ao Terra, brasileiro diz ainda buscar patrocinadores para correr na Fórmula 1 em 2014, mas critica falta de apoio para atletas no Brasil às véspera de Olimpíada de 2016: "se eu me sinto desleixado, imagine o esporte que precisa de R$ 30 mil reais por mês?"

22 mar 2013 - 14h48
(atualizado às 14h48)
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Luiz Razia ronda a Fórmula 1 pelo menos desde 2010, quando foi contratado como piloto de testes da equipe Virgin. De lá para cá, passou pela Lotus (atual Caterham), testou por Toro Rosso e Force India e esperou pela chance de correr. Ela chegou no início de 2013, pela Marussia, mas o brasileiro acabou ficando a pé. Motivo: a quebra de um acordo entre um patrocinador pessoal e a equipe russa.

Razia, o primeiro piloto do Nordeste brasileiro a pilotar oficialmente um carro de F1, não comenta muito sobre o assunto. Em entrevista exclusiva ao Terra, não mencionou o nome da empresa com a qual teve o problema, e afirmou apenas que conversa com o próprio patrocinador – entre outras empresas – para manter o acordo.

Mas o buraco é mais embaixo, e Razia sabe disso. Com uma postura crítica, sabe que o problema que envolveu patrocinador e Marussia é apenas um entre tantos e que atrapalham a chegada à Fórmula 1, as categorias de base do automobilismo brasileiro e até mesmo o desenvolvimento de modalidade olímpicas no Brasil. E “reclama muito”, como ele mesmo diz.

<p>Sem acordo entre patrocinadores e Marussia, Razia ficou a pé na Fórmula 1 em 2013</p>
Sem acordo entre patrocinadores e Marussia, Razia ficou a pé na Fórmula 1 em 2013
Foto: Getty Images

“A gente só tem um piloto na Fórmula 1 hoje, por falta de apoio. Nenhuma empresa, nenhum órgão... Não existe ajuda de ninguém. Nem da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo). A gente vai fazer o quê? Sem apoio, não existe esporte”, afirmou Razia ao Terra, vendo a verba para o esporte no Brasil concentrada em poucas modalidades, como o vôlei, e apontando até mesmo a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 como polarizadores que complicar atletas na busca por patrocínios.

“Muitas empresas já estão pensando em Copa (do Mundo) e Olimpíada. Isso gera uma certa dicotomia e cancela os outros projetos que chegam à empresa”, disse. “Sou um atleta de automobilismo, preciso defender muito o meu trabalho, mas vejo muitos outros atletas que não precisam nem de 10% do que precisam para os outros esportes a ver navios. Se eu me sinto desleixado, imagine o esporte que precisa de R$ 30 mil reais por mês?”

Durante o bate-papo, Luiz Razia explicou em detalhes os problemas que os atletas do automobilismo têm para conseguir apoio – e não só eles – há algumas décadas. No entanto, não deixou de lado o plano para chegar à Fórmula 1 – agora, como terceiro piloto em 2013, para tentar novamente ser titular em 2014. Confira:

<p>Fora da Caterham, Luiz Razia mira vaga como terceiro piloto em 2013 para, mais uma vez, buscar espaço em 2014</p>
Fora da Caterham, Luiz Razia mira vaga como terceiro piloto em 2013 para, mais uma vez, buscar espaço em 2014
Foto: Getty Images
Terra – Em momento algum, você chegou a mencionar quem seria o patrocinador com quem teve o problema na Marussia. Pode falar quem seria?

Luiz Razia - Não.

Terra – E você continua com a empresa?

Razia - A gente sentou para conversar nessa semana, mas ainda não decidi nada.

Terra – Na última semana, você mencionou que tinha como plano ser terceiro piloto na Fórmula 1, e testou bem por times como Force India e Toro Rosso na intertemporada. Como estão esses com equipes?

Razia - Existem algumas equipes que têm a possibilidade de fazer um terceiro piloto. Não que isso se reserve a uma equipe só. Esse seria meu passo à frente. Eu tive muitas reuniões no Brasil, com varias empresas que estariam interessadas em um projeto de dois anos. A gente está trabalhando em prol de fechar esse projeto. Aí, envolve o projeto junto com a equipe. A gente tem que reservar essas informações para divulgar. O que a gente tem feito até agora tem sido prospecção.

Terra – Esse projeto de dois anos seria para ser terceiro piloto neste ano e titular no ano que vem?

Razia - Certo. Esse seria meu plano, com certeza.

Terra – Anteriormente, você disse que não tinha um plano B para a carreira. Apenas um plano A, que era a Fórmula 1. Continua sendo assim?

Razia -

Com certeza. No ano passado, eu estava na Arden (na GP2). Continua sendo esse plano, que é chegar à Fórmula 1. Até então eu tinha conseguido. Não deu certo neste ano, infelizmente, tive que dar uma reestruturada nas coisas que preciso fazer. O objetivo continua o mesmo. Estou procurando

.

Terra – A gente viu problemas recentes de patrocínios com brasileiros – como o Rubens Barrichello e o Bruno Senna na Williams. Por que é tão difícil arranjar patrocinador para piloto brasileiro?

Razia -

Eu queria ter essa bola de cristal. Infelizmente, não tenho. Temos procurado desde que eu corro de kart. Essa luta para conseguir apoiadores vem desde a época do Emerson (Fittipaldi) na F1. Não sei se você leu os livros do Emerson, do Nelson Piquet, do Ayrton Senna, mas os três abrangem bem essa questão de patrocínio. Acho que todos os que chegaram na Fórmula 1 correram atrás disso. Tem sido difícil, não somente antigamente, mas também hoje em dia. Muitas empresas querem o retorno imediato, e a Fórmula 1 é um retorno prolongado. Às vezes, as empresas não veem esse retorno, que abrangem todos os países. Muitas empresas concentram na mídia brasileira.

<p>Brasileiro testou por equipes como Toro Rosso (foto), Force India, Marussia e Lotus (atual Caterham), mas sem conseguir vaga como titular na Fórmula 1</p>
Brasileiro testou por equipes como Toro Rosso (foto), Force India, Marussia e Lotus (atual Caterham), mas sem conseguir vaga como titular na Fórmula 1
Foto: Getty Images

Uma coisa com a qual também tem tive um pouco de dificuldade é que muitas empresas já estão pensando em Copa (do Mundo de 2014) e Olimpíada (de 2016). Isso gera uma certa dicotomia e cancela os outros projetos que chegam à empresa. Mas de qualquer forma, quem procura, acha. Estive mais tempo sentado esperando reunião do que trabalhando para correr. Tem que lutar para o que a gente quer. É difícil dizer por que a gente não consegue patrocínio. Realmente é uma parte muito complexa de entender.

Terra – A Fórmula 1 tem hoje apenas um piloto brasileiro, o pior número desde a década de 70. O que tem complicado tanto?

Razia -

Falta de apoio. A gente só tem um piloto na Fórmula 1 hoje por falta de apoio. Nenhuma empresa, nenhum órgão... Não existe ajuda de ninguém. Nem da CBA. A gente vai fazer o quê? Sem apoio, não existe esporte. Por mais que todos os atletas se esforcem para conseguir medalha nas Olimpíadas, a gente (atletas) não tem apoio. Não tem apoio para esporte, para boxe, para ginástica, para nada. Em vez de a verba ser bem distribuída, fica em uma coisa só – exemplo é o vôlei, que fica com uma concentração de dinheiro enorme.

Terra – O que atrapalha tanto o automobilismo de base no Brasil?

Razia -

Acho que se... Os pilotos sabem que precisam de patrocínio para chegar à Fórmula 1. Não existe nenhum tipo de apoio. Dificilmente as categorias irão sobreviver. Hoje, o Brasil está muito forte em categorias de turismo. Apesar de não ter uma exposição mundial, tem no Brasil, e a Stock Car acaba sobrevivendo mesmo com muitas dificuldades. Tem apoio de marcas, como Peugeot, Chevrolet. Nas categorias de base, como Fórmula 3 e Fórmula Future, que o Felipe Massa introduziu no Brasil, acabam morrendo porque não têm apoio. Ninguém quer manter o esporte vivo, o que acaba refletindo na falta de pilotos na Fórmula 1. Se não tem ninguém sonhando (nas categorias de base), querendo fazer carreira na Fórmula 1, realmente não tem ninguém chegando na F1. Isso não reflete somente no automobilismo. Isso reflete em muitos outros esportes. Eu reclamo muito porque vivo no automobilismo. Sou um atleta de automobilismo, preciso defender muito o meu trabalho, mas vejo muitos outros atletas que não precisam nem de 10% do que precisam para os outros esportes a ver navios. Se eu me sinto desleixado, imagine o esporte que precisa de R$ 30 mil reais por mês?

Guia Fórmula 1
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Foto: AFP
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Fonte: Terra
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