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Felipe Nasr prepara vida dupla por vaga na F1 e fim de jejum

Aos 21 anos, brasileiro vai para sua terceira temporada na GP2. A meta é voltar a vencer, o que não consegue desde 2011, para buscar o título que escapou em 2013. Com a taça em mãos, quer buscar o acesso à Fórmula 1 em 2015, meta que bateu na trave neste ano

22 mar 2014 - 08h34
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Aos 21 anos, Felipe Nasr pode ser considerado um “experiente novato” do automobilismo mundial. Foi apenas em 2014 que ele fez sua estreia na Fórmula 1, como piloto reserva da Williams – no mesmo ano em que disputará a GP2 pela terceira temporada seguida.

Não que participar da categoria-escola mais uma vez seja um problema para Nasr. Em 2013, no volante da equipe Carlin, ele brigou pelo título, terminando o ano em quarto. Com a permanência selada na tradicional escuderia, o brasiliense quer ganhar terreno e fechar 2014 com o título.

Para isso, porém, ele precisa driblar um pequeno obstáculo: a falta de vitórias. O brasileiro não sobe ao topo do pódio desde 17 de julho de 2011, quando ainda disputava a Fórmula 3 britânica (pela mesma Carlin, por sinal). Naquele ano, o grid da categoria contava com o dinamarquês Kevin Magnussen e com o finlandês Valtteri Bottas, titulares hoje na F1 por McLaren e Williams, respectivamente.

Pneus terão novidades na GP2 em 2014

A regra dos pneus para a GP2 mudou na temporada 2014, ficando mais próxima do que se vê na F1. Assim como na elite do automobilismo mundial, os pilotos têm dois diferentes jogos de pneus para as provas, e devem usar ambos.

A diferença é que a GP2 tem duas corridas por final de semana, então os dois pneus (moles e duros) devem ser usados na feature race, mais longa e realizada no sábado. A sprint race, no domingo, é mais curta e não tem pit stops - logo, é feita com um jogo só.

Até 2013, a feature race permitia que os pilotos da feature race utilizassem o mesmo tipo de pneus ao longo da prova, embora trocados. Assim, todos podiam correr apenas de pneus duros, sem poupar composto para a sprint race, que tem pontuação menor.

“Eu não fico satisfeito por não ter ganhado corrida. Esse não é meu desejo. Esse ano, vou estar com tudo para ganhar o campeonato”, prometeu Nasr, citando uma série de problemas nos dois últimos anos para justificar o jejum de vitórias na GP2 – entre eles, o regulamento (box ao lado).

Nasr sabe a importância do título da GP2 para poder brigar por uma vaga de titular na Fórmula 1 em 2015. Desde que a categoria foi criada para substituir a Fórmula 3000 a partir de 2005, apenas três campeões não subiram: Giorgio Pantano (2008), Davide Valsecchi (2012) e Fabio Leimer (2013), sendo que Pantano já havia disputado a Fórmula 1 pela Jordan em 2004.

A meta é seguir o caminho de outros campeões da categoria, como Nico Rosberg (2005), Lewis Hamilton (2006) e Nico Hulkenberg (2009), para chegar à Fórmula 1. No entanto, a chance poderia ter pintado já para 2014, caso as negociações com Toro Rosso e Sauber tivessem evoluído.

“A gente esteve em contato com a maioria das equipes medianas. Essa da Toro Rosso, que eu me lembro, foi o próprio Helmut Marko (dirigente da Red Bull que trabalha, entre outras funções, como uma espécie de olheiro de novos talentos para os programas da equipe) que veio atrás em uma corrida em Monza, para saber se a gente estaria disponível em ter a vaga na Toro Rosso. Houve uma breve negociação, mas nada foi levado mais a frente”, contou.

A Toro Rosso não levou a conversa adiante, optando pela contratação do russo Daniil Kvyat – que Nasr elogiou com alguma ressalva. No entanto, pintou a chance de ocupar a vaga de piloto reserva da Williams, onde ele é companheiro dos titulares Felipe Massa e Valtteri Bottas, bem como da piloto de desenvolvimento Susie Wolff.

<p>Contratado em fevereiro, Nasr estreou como reserva da Williams nos testes de pré-temporada no Bahrein</p>
Contratado em fevereiro, Nasr estreou como reserva da Williams nos testes de pré-temporada no Bahrein
Foto: Getty Images

“Eu estou acompanhando a Williams todos os finais de semana, e, ao mesmo tempo, competindo na GP2. Vai ser só uma fase de adaptação. Para mim, vai ser muito importante. Estou aprendendo muita coisa. O meio da Fórmula 1 é muito diferente, é um nível de profissionalismo muito maior. Para mim, foi muito importante ter dado esse passo na minha carreira”, comentou Nasr, que não deixou de apontar problemas iniciais no novo carro da Williams, o FW36.

“Eles viram que, na chuva, o carro não funcionou como eles esperavam, principalmente pelo fato de não estarem com muito downforce, muita aerodinâmica se comparado a outros carros. A velocidade de reta neles era muito boa, o que pode ser uma coisa ruim para a chuva. O carro precisa de pressão aerodinâmica, precisa de mais aderência”, completou.

Ao longo de um bate-papo com o Terra, Felipe Nasr falou de tudo: Williams, GP2, Felipe Massa, Susie Wolff, GP da Austrália, planos para 2015, Ferrari, Mercedes, Red Bull, Ayrton Senna, Michael Schumacher... Confira abaixo a conversa na íntegra com um dos pilotos brasileiros que podem pintar na F1 a curto prazo:

Terra - Vamos falar sobre sua chegada à Williams. Como foi esse primeiro fim de semana com a equipe na Austrália? Você já se sentou antes no carro (na pré-temporada), já deu muitas voltas... O que você pode falar sobre a sua chegada?

Felipe Nasr - Vamos falar sobre o meu primeiro treino, na segunda semana de treinos no Bahrein (em fevereiro, na pré-temporada). Foi quando eu tive a oportunidade de guiar um carro de Fórmula 1 pela primeira vez, no carro da Williams. Foi tudo meio corrido: eu só fui sair mesmo da pista na sexta feira à noite, até finalizar contrato. Fui sair da pista, era quase 0h. Sentei no carro no sábado. Mal consegui dormir para o dia seguinte. Mas foi um dia muito intenso, do começo ao fim. Uma experiência única, uma sensação única. Com certeza, o primeiro dia a gente não esquece.

F1: Felipe Nasr explica negociação com a Sauber em 2014:
Terra - Antes desse acerto, você esteve muito perto de acertar com a Sauber. O que faltou nesse possível contrato? O que você pode falar sobre isso?

Felipe Nasr - Foi uma série de fatos. Mas acho que o que mais pesou foi o lado financeiro. Tive, digamos, concorrentes com uma quantidade maior nesse lado financeiro. Infelizmente, essa é a Fórmula 1 que a gente vive hoje. A própria Sauber vem sofrendo muito com esse lado financeiro da equipe, que anda muito instável. Eles preferiram mais o dinheiro.

Terra - Você comentou dessa conversa com a Sauber e, até onde a gente sabe, existia uma conversa com a Toro Rosso para a vaga que hoje é do Daniil Kvyat. Você confirma essa história?

Felipe Nasr - Confirmo.

Terra - Até que ponto avançou essa história? Você conversou com outras equipes?

Felipe Nasr - Na verdade, a gente esteve em contato com a maioria das equipes medianas. Essa da Toro Rosso, que eu me lembro, foi o próprio Helmut Marko (Red Bull) que veio atrás em uma corrida em Monza, para saber se a gente estaria disponível em ter a vaga na Toro Rosso. Houve uma breve negociação, mas nada foi levado mais a frente. Mas aconteceu, sim.

F1: Felipe Nasr acreditava em pódio de Felipe Massa :
Terra – Você vai continua como piloto da GP2 em 2014, dividindo essa função de piloto de testes na Williams. Como você vai fazer com a sua agenda? A gente sabe que é muito corrido, você está cada dia em um país diferente... Você repensou alguma coisa?

Felipe Nasr - Esse começo está complicado. Deve ter mais de um mês que eu não paro – é um avião para lá, um para cá. Já fui para Bahrein, Abu Dhabi, Austrália, voltei, já treinei de GP2, voltei da Fórmula 1 na Austrália... Esse comecinho de campeonato (GP2) vai ser bem ocupado para mim. Mas dá pra conciliar os dois, porque é tudo no mesmo fim de semana. A GP2 e a Fórmula 1 fazem 11 eventos juntos (em 2014), então, para mim, facilita. Eu estou acompanhando a Williams todos os finais de semana, e, ao mesmo tempo, competindo na GP2. Vai ser só uma fase de adaptação. Para mim, vai ser muito importante. Estou aprendendo muita coisa. O meio da Fórmula 1 é muito diferente, é um nível de profissionalismo muito maior. Para mim, foi muito importante ter dado esse passo na minha carreira.

<p>Às vésperas da terceira temporada na GP2, Nasr estreia na F1 como reserva da Williams; para 2014, Nasr negociou com Toro Rosso e Sauber, mas não chegou a acordos para correr</p>
Às vésperas da terceira temporada na GP2, Nasr estreia na F1 como reserva da Williams; para 2014, Nasr negociou com Toro Rosso e Sauber, mas não chegou a acordos para correr
Foto: Getty Images
Terra - No GP da Austrália, a corrida que o Bottas fez deixou todo mundo animado. Como vocês na Williams viram essa primeira corrida? Pelo que a gente viu aqui, a Williams pode brigar por um pódio, por vitórias... Como vocês estão vendo isso?

Felipe Nasr - A corrida em si foi uma aventura. Começou mal porque tiraram o Massa logo na primeira curva da corrida, né? Logo depois, o Valtteri Bottas, que vinha fazendo uma corrida boa, tocou no muro e furou um pneu, tendo que fazer um pit stop e caindo para 17º. Mas o carro se mostrou muito rápido. A equipe fez um trabalho fantástico de recuperação e terminou em sexto, marcando mais pontos que no ano passado inteiro.

Terra – Você está em um momento novo na sua carreira, na Williams, fazendo inclusive um caminho que o Ayrton Senna fez em 1983 – ele foi campeão da Fórmula 3 inglesa antes de chegar na F1, enquanto você foi campeão da F3 em 2011. Você já pensa em, de repente, ser o titular de uma equipe em 2015?

Felipe Nasr - Esse é o plano. Fazendo esse primeiro passo em 2014, de estar participando dentro de uma equipe de Fórmula 1, tendo conhecimento com o carro, com a categoria em si... Isso está sendo essencial e fundamental para acontecer alguma negociação para o ano que vem. Esse é o nosso objetivo, e assim que tiver a oportunidade, a gente vai estar de olho em uma vaga de titular para 2015.

Terra - A Williams apresentou quatro pilotos para 2014: além do Massa e do Bottas, você e a Susie Wolff. A gente viu que ela deve participar de alguns treinos de sexta feira. Como é que, no seu contrato, está dividido isso? Quem participa de treinos livre? Você tem algum número de treinos para participar neste ano?

Felipe Nasr - Ela é considerada piloto de desenvolvimento da Williams. Ela não é piloto reserva, que é o meu caso. Eu sou o reserva oficial da equipe. Caso os pilotos se machuquem e não possam assumir o carro, sou eu que pego essa vaga. Acho que ela tem dois treinos marcados para o ano - se não me engano, um na Inglaterra e um na Alemanha. Ela faz parte da equipe, tem o papel dela, mas o importante é que essa vaga de reserva mesmo está no meu contrato.

<p>Estreia de Felipe Massa pela Williams acabou na primeira curva do Grande Prêmio da Austrália; brasileiro largava em nono lugar, mas foi atingido pela Caterham do japonês Kamui Kobayashi</p>
Estreia de Felipe Massa pela Williams acabou na primeira curva do Grande Prêmio da Austrália; brasileiro largava em nono lugar, mas foi atingido pela Caterham do japonês Kamui Kobayashi
Foto: AP
Terra - Esse contrato é por essa temporada só ou é mais longo?

Felipe Nasr - Por enquanto, só essa temporada.

Terra - E como vocês viram internamente esse acidente do Massa? Como repercutiu para os mecânicos, para os dirigentes da equipe? O Kobayashi não assumiu a culpa pessoal dele no acidente, falou que teve um erro mecânico. Como vocês receberam essa informação? No dia do acidente, o Felipe Massa estava muito nervoso...

Felipe Nasr - A equipe toda estava chateada. Nenhuma equipe gosta de ver um carro saindo na primeira curva. (Massa) não deu nem meia volta na pista. Além do mais, depois eles viram a oportunidade que eles perderam. Eles poderiam ter colocado os dois carros na zona de pontos, e eu acredito até mesmo no pódio - um dos dois (pilotos), se não tivessem problemas. É uma perda de oportunidade da equipe. Mas essas coisas a gente não controla. O Massa tinha feito a largada dele, ia fazer a primeira curva e tomou a pancada por trás do japonês. Parecia, olhando, que ele freou mais tarde que todo mundo, mas ele teve o problema (de freios). Mas é como eu falei: é uma corrida que não foi aproveitada. A equipe poderia ter os dois carros na zona de pontuação.

Terra - Deu para sentir que essas corridas em 2014 devem ser partidas de xadrez. A Williams deve mudar muita coisa para o próximo GP, na Malásia?

Felipe Nasr - Olha, sempre tem uma atualização ou outra no carro. A Malásia é uma pista um pouco mais de alta. A pista da Austrália é um pouco particular - é uma pista meio estreita, vamos dizer. Não é bem um autódromo, como é a Malásia. Outra coisa positiva da Williams é que eles tinham um carro muito rápido em reta comparado aos outros - até mesmo o consumo de combustível era muito bom durante a prova. Melhor que nas outras equipes. Eles estão bem confiantes de que, na Malásia, vão continuar esse processo. Acho que vão ter um bom resultado.

Terra - A torcida por você aumentou bastante nos últimos dias. Você tem sentido esse calor do público?

Felipe Nasr - Com certeza, aumentou muito. O pessoal dando muito apoio, acreditando... Afinal, a gente quer ver mais um brasileiro lá, né?

F1: Piloto da Williams avalia equipe no GP da Austrália:
Terra - Felipe, você andou com o carro nos testes de pré-temporada, e pelo que a gente viu nos treinos oficiais da Austrália, pareceu - você pode confirmar ou não - que o carro apanhou um pouco na questão de aderência em pista molhada. A gente sabe que a corrida na Malásia é sempre com umidade grande, aquele calor forte... O que dá para trabalhar nesse sentido até a próxima etapa?

Felipe Nasr - É, esse foi o ponto negativo da equipe. Eles viram que, na chuva, o carro não funcionou como eles esperavam, principalmente pelo fato de não estarem com muito downforce, muita aerodinâmica se comparado a outros carros. A velocidade de reta neles era muito boa, o que pode ser uma coisa ruim para a chuva. O carro precisa de pressão aerodinâmica, precisa de mais aderência. Eles já estão trabalhando isso aí, caso tenha mais um treino molhado, uma corrida molhada.

F1: Piloto brasileiro compara forças de Mercedes e Williams:
Terra - Na sua avaliação, depois dessa primeira prova, quem vai ser a maior concorrente da Williams? Qual é a equipe que está se destacando hoje na sua avaliação para essa temporada?

Felipe Nasr - Por enquanto, é a Mercedes. É a equipe que, por enquanto, tem o melhor carro em qualquer condição, o carro mais rápido no momento. Você viu na prova, o Nico (Rosberg) liderou de ponta a ponta sem ter nenhuma dificuldade. Por enquanto, é a equipe a ser batida. Claro, de agora em diante, a maioria das equipes vai estar evoluindo, principalmente a Renault (como fornecedora de motores): eles têm alguns problemas no motor, mas acredito que logo vai ter uma mistura. Essas coisas vão mudando.

Terra - Nós temos a McLaren também com motor Mercedes, que já mostrou nessa corrida que pode ser considerada uma das grandes forças para esse ano. Isso é normal para a Fórmula 1: a gente tem umas convicções, faz umas análises, mas na hora que vale mesmo, as coisas acontecem diferente. Me parece que a Mercedes deve se destacar. Mas temos a Williams também entre as principais equipes...

Felipe Nasr - É a surpresa do ano, a Williams ter voltado competitiva depois desses últimos anos. É uma surpresa muito grande. Dentro da equipe, o pessoal está muito animado. Acho que vamos ter mais surpresas no ano. Vamos esperar essa próxima prova.

Terra - E a Ferrari, Felipe? Como você vê o primeiro “teste oficial” da Ferrari? É uma equipe grande, sempre com grande investimento, tem dois ótimos pilotos, experientes, vencedores... A Ferrari não vai deixar esse bastão fácil na mão dos motores Mercedes, né?

Felipe Nasr - É começo de temporada, as coisas só iam se justificar agora na Austrália. Nos treinos, a Ferrari não pareceu tão mal. Eles viram o resultado agora na Austrália e vão ter que trabalhar no carro. A gente já viu várias vezes equipes que conseguem reagir durante o ano. Eu não duvido nada da Ferrari, em breve, estar disputando as primeiras posições.

Terra - Até que ponto um piloto experiente, em uma equipe que não tem um carro inicialmente ideal, influencia o que eles podem ter para melhorar - no caso, a própria Ferrari? Com essas mudanças da F1, somente ser um piloto experiente é suficiente para fazer o carro brigar lá na frente?

Felipe Nasr - Olha, ajuda muito. O piloto está ali dentro, ele está sentindo, está vendo o que está acontecendo em volta dele. Acho que ficou claro que a Ferrari não tinha a mesma eficiência, a mesma velocidade dos outros carros. Acho que ficou nítido nas retas que o motor Ferrari não estava indo bem. Nesse lado do equipamento, no motor, não tem muito que o piloto fazer. Vai mais da equipe trabalhar, desenvolver. Tem muita coisa para eles melhorarem nesse sentido. Agora, a gente sabe que a Ferrari tem dois campeões mundiais no carro, e nenhum deles vai estar satisfeito enquanto não estiver andando lá na frente.

Terra - O nosso internauta diz que a Williams do Felipe Massa parecia sair muito de traseira. Isso é um problema aerodinâmico ou efeito do ganho elétrico? O que você pode responder?

Felipe Nasr - O principal fator para isso aí é a quantidade de torque do motor. É muita potência, principalmente em curva de baixa. É muito difícil tracionar com esse carro. E como eu disse, na Williams, está faltando um pouco de aderência aerodinâmica na parte traseira. A equipe já sabe disso, e é uma coisa na qual eles estão trabalhando. Mas o torque não ajuda também. O torque é muito forte, o piloto está corrigindo essa traseira do carro o tempo inteiro.

Terra - A gente tocou no assunto do Kvyat na Torro Rosso. Ele foi um concorrente direto nessa vaga que você disputou na equipe. Pelo que eu me lembro, vocês não chegaram a competir na mesma categoria - ele veio da GP3, de categorias inferiores da GP2 e queimou algumas etapas. Você pode comentar alguma coisa dele? Você chegou a conhecer ele?

Felipe Nasr - Eu conheci quando ele foi fazer o primeiro treino de Fórmula BMW. Eu tinha acabado de ganhar o campeonato naquele ano, em 2009, e a equipe (EuroInternational) me chamou para ajudar eles nesse treino .Eles vinham com esse piloto russo e com o Carlos Sainz (Junior) para andarem a primeira vez de Fórmula BMW. Fui acompanhar eles. O menino era muito jovem ainda, muito novo. Tinha acabado de sair do kart, mas já mostrava esse lado de que ia ser um menino rápido. Agora, questionando essa vaga na Toro Rosso, não sei o quanto foi um interesse do próprio país dele para estar na Fórmula 1 (a Rússia recebe um GP a partir de 2014). Mas que o moleque ia ser rápido, isso já vinha dando sinal.

Terra - O motor Mercedes da equipe de fábrica é idêntico ao usado por outras equipes? O motor da Williams é o mesmo da equipe Mercedes ou tem alguma mudança?

Felipe Nasr - Olha, eles dizem que sim. Dizem que é o mesmo motor. Agora, vai saber? A equipe Mercedes é equipe oficial. Se eles têm um pouco a mais no motor, ninguém vai saber. A princípio, sim. Isso é o que está escrito, que as equipes que usam motor Mercedes tem o mesmo motor.

Terra - A Wiliams é o segundo carro mais rápido, somente atrás do Mercedes na reta. Será que isso está dando dificuldade nas curvas no carro da Williams?

Felipe Nasr - Volta o que eu comentei no começo: o carro é muito rápido de reta. Acho que eles precisam melhorar um pouco essa aerodinâmica para terem um pouco mais de aderência nas curvas. Isso não ajuda no desgaste do pneu - por isso você vê o carro bem traseiro ainda. Quem viu a corrida viu que ainda é um carro difícil de pilotar. Quando eu guiei o carro, ele já apresentava o mesmo sintoma.

Terra - Vamos falar um pouco a GP2. Vai começar a temporada. O que você pode falar do seu carro? A competitividade é muito parecida, né? A espinha dorsal da GP2 é parecida com a da F1, dadas as devidas proporções.

Felipe Nasr - Estou indo para mais um ano na equipe Carlin, a mesma que eu corri no ano passado. As principais mudanças são no regulamento esse ano: agora, na corrida de sábado, é obrigatório o uso dos dois compostos de pneus, um mole e um duro – no ano passado, você podia usar dois moles ou dois duros, que fazia aquela misturada toda. Eu não achava justo para algumas pessoas. Isso vai acabar sendo no mesmo formato da F1 - você tem que usar os dois compostos de pneus na corrida do sábado. Eu tive três idas de treino no Bahrein. Já deu para ver que os pneus mudaram também, como na Fórmula 1. Amanhã (hoje), começo mais uma série de treinos no Bahrein. Voltando mais um ano na GP2, já tenho a experiência do carro, já conheço a categoria; é um ano que eu estou querendo brigar pelo campeonato, como fiz no ano passado. Volto mais experiente, com mais conhecimento das pistas, e com a própria Carlin. Tem tudo para começar o ano bem - que começa no Bahrein nos dias 4, 5 e 6 de abril, temos nossa primeira prova. Essa foi a principal mudança na regra dos pneus. Isso vai acabar equilibrando o campeonato.

Terra - Felipe, nas duas primeiras temporadas da GP2, tanto pela DAMS quanto pela Carlin, você sofreu com um pequeno jejum de vitórias, que vem desde a Fórmula 3 britânica (2011) - embora você tenha sido competitivo no ano passado, conseguindo regularidade, pódios para brigar pelo campeonato. Neste ano, para encerrar esse jejum de vitórias e valorizar na hora de dar esse salto para vaga de titular da F1, o que pesa mais: a experiência na categoria, a permanência na equipe, o próprio jejum motiva de alguma forma? Como dar esse salto na hora de buscar resultados?

<p>Em 2013, Nasr correu pela Carlin e brigou pelo título da GP2</p>
Em 2013, Nasr correu pela Carlin e brigou pelo título da GP2
Foto: Paolo Pellegrini / Divulgação
Felipe Nasr - São alguns fatores. No primeiro ano, na DAMS (2012), eu mal terminava corridas porque o carro só quebrava. O segundo na Carling (2013), a gente fez uma boa temporada até metade do ano; depois começou a acontecer muito de pilotos usarem dois pneus duros na primeira corrida (sábado), atrapalhando. Eu e os outros pilotos que estavam entre os quatro primeiros no campeonato tínhamos que ser mais conservadores nessa primeira corrida, usando pneus mole e duro, salvando pneu duro para o domingo, porque não tem pit stop no domingo. Você tem que fazer a corrida inteira com um pneu só, e normalmente eu uso pneu duro. Por conta disso, como eu usava um pneu macio e um duro na primeira corrida, tinha muita gente que usava pneu duro nas primeiras corridas e tinha um resultado melhor, até ganhava corrida, e na corrida do domingo nem pontuava. Não tem como fazer uma corrida inteira com pneu macio. Isso atrapalhou muito a categoria. Eu liderei corrida três, quatro vezes, e não ganhei por esse motivo. Esse ano, foi uma mudança que eu acho que vai ser muito positiva. Essa regra do pneu, de ter que usar os dois compostos na primeira corrida, guardando o pneu duro para o domingo - isso vai dar uma equilibrada no campeonato. Eu não fico satisfeito por não ter ganhado corrida. Esse não é meu desejo. Esse ano, vou estar com tudo para ganhar o campeonato.

Terra - Esse ano, a gente completa 20 anos da morte do Ayrton Senna. Você está em uma casa bastante ligada à trajetória dele. Como esse legado do Senna no automobilismo brasileiro e mundial te influencia?

Felipe Nasr - Eu não peguei a época do Senna. Eu nasci em 1992, ele faleceu em 1994. Tudo que eu tenho dele são memórias de alguns vídeos, documentários que eu vi. Mas sempre tive ele como um ídolo, mesmo sem ter conhecido pessoalmente ou ter visto corrida dele. Vi a era do Schumacher, vi o Schumacher ganhando e aquilo era superinteressante. Mas é marcante: até hoje na própria Williams você vê, o pessoal ainda tem uma memória muito boa do Ayrton. O pessoal no mundo da Fórmula 1 ainda mantém viva essa lenda, esse ídolo que foi o Ayrton. Para mim, sempre foi uma inspiração. Até me espelhei em muitas coisas. Mas, como eu falei, peguei uma era totalmente diferente.

Terra - Agora, toma cuidado com esse caminho agora para a Malásia, depois do avião desaparecido... Passa pela sua cabeça esse perigo?

Felipe Nasr - Também não sei. Nem sei se vou mais de Malaysia Airlines.

Fonte: Terra
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