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Palco da F1, circuito de Montreal vira parque aberto e agita verão canadense

12 ago 2013 - 20h36
(atualizado às 21h42)
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Deu até para sentir emoção quando o carro em que a reportagem do Terra estava, dirigido por um canadense, invadiu a reta de chegada do Circuito de Montreal, no Canadá. “Le circuit est ici”, repetia, orgulhoso, o motorista, seguindo cuidadosamente o traçado feito a toda velocidade pelos carros da Fórmula 1 uma vez por temporada. Em uma volta pelo local, pode-se confirmar a transformação de palco da principal categoria do automobilismo mundial para parque público e opção gratuita de lazer.

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Vettel venceu o GP do Canadá deste ano
Foto: Reuters

A área do circuito estava lotada na tarde de domingo, e carros dividiam espaço com ciclistas, patinadores, casais, famílias e curiosos. O Circuito Gilles Villeneuve é mais uma atração do movimentado verão canadense – no qual a temperatura, no início de agosto, é extremamente agradável e passa longe do calor sufocante que por vezes causa distúrbios no hemisfério norte. Localizada na zona portuária da cidade, a pista é uma das mais charmosas da Fórmula 1.

Pelo traçado, pode-se avistar o Cassino que dá nome à reta que leva à linha de chegada, bem como se vê quadras de vôlei de praia ao lado da largada e as raias de canoagem em um vistoso lago, espaço usado na disputa dos Jogos Olímpicos de 1976. Também há entrada para uma espécie de praia artificial, além de barracas de informação e alimentos. Quando não está ocupado por eventos de automobilismo, o Circuito Gilles Villeneuve – e a Ilha de Notre-Dame, onde está situado – é um parque público, com acesso quase irrestrito à população. Assim, qualquer um pode testar suas curvas, desde que em velocidade moderada de acordo com veículo.

Circuito Gilles Villeneuve, palco do Grande Prêmio do Canadá na Fórmula 1, se torna um parque aberto à população local quando não recebe competições de automobilismo
Circuito Gilles Villeneuve, palco do Grande Prêmio do Canadá na Fórmula 1, se torna um parque aberto à população local quando não recebe competições de automobilismo
Foto: Danilo Vital / Terra

O carro não foi além dos 20 km/h, desempenho muito abaixo do que costuma ser visto nas provas, nas quais a velocidade pode chegar a 309 km/h. Para um brasileiro, trata-se de uma experiência especial. Isso porque contorna-se, em uma extremidade do traçado, a Virage Senna, curva nomeada em homenagem a Ayrton, morto em 1994. Na outra ponta está a famosa Épingle, curva aguda onde Felipe Massa bateu a 300 km/h em 2004, após falha em sua Ferrari, e mesmo assim saiu ileso. A volta mais rápida da história do circuito durante um GP pertence a Rubens Barrichello: pela Ferrari, cravou 1min13s622 em 2004; terminou a prova em 7º lugar, e quem venceu foi Ralf Schumacher, então na Williams.

Só não é mais especial para os brasileiros do que para os canadenses, já que o traçado ganhou o nome de um ídolo da Fórmula 1: Gilles Villeneuve. Seu nome aparece traçado à frente da linha de chegada, uma homenagem à vitória no GP do Canadá em 8 de outubro de 1978: na primeira vez que foi disputado na Ilha de Notre-Dame, tornou-se o primeiro canadense a vencer na categoria. Anos depois, em 9 de maio de 1982, morreu no treino classificatório do GP da Bélgica após acidente impressionante, no qual seu carro decolou e seu corpo foi arremessado para fora do cockpit. Gilles permaneceu na história e até hoje é exaltado por quem quer que compareça para se divertir em uma tarde de domingo qualquer.

Zona portuária pode servir de exemplo para o Rio de Janeiro

A Ilha de Notre-Dame simplesmente não existia até 1965. Trata-se de uma elevação de terra construída no meio do monstruoso Rio Saint Lawrence, que liga a Região dos Lagos ao Oceano Atlântico, servindo de divisa natural entre Canadá e Estados Unidos. Foi criada a partir de 15 milhões de toneladas de pedras extraídas para a construção do metrô de Montreal e foi feita para receber a Expo 67, feira mundial que marcou o centenário canadense. Onze anos depois, em 1978, foi inaugurado o circuito, que também recebeu provas da Nascar, entre outras categorias.

O espaço está quase que encaixado com a Ilha de Santa Helena. Belas pontes ligam as partes aos continentes, com mais um dos visuais deslumbrantes da região. Quem não optou por visitar o circuito no domingo pôde, por exemplo, curtir um festival de música com diversas bandas. Só em agosto, estão programados 11 eventos –incluindo o Mundial Paralímpico de Natação -, agenda cheia especialmente no verão canadense, mas que contém atividades durante todo ano. Tudo isso em uma zona portuária, em meio a estaleiro, navios de carga e maquinaria pesada, fatores que já integram o turismo e se tornam cartões-postais.

Esse, portanto, é um dos exemplos a serem seguidos pelo Rio de Janeiro, que tem a revitalização de seu porto, área extremamente degradada, como uma das bandeiras para os Jogos Olímpicos de 2016. Foi o que Londres, para 2012, fez com Stratford, na zona leste, área extremamente arborizada, com estádio com capacidade para 80 mil pessoas e o maior shopping da Europa ocidental. Barcelona fez algo parecido visando os Jogos Olímpicos de 1992. Em Montreal, a motivação foi diferente, mas os investimentos deram certo. O que não funcionou, para a cidade, foi a realização da Olimpíada.

Em 1976, o Canadá sediou uma edição de Jogos Olímpicos marcada pelo boicote vários países africanos contra a Nova Zelândia, que realizou excursão pela África do Sul quebrando o embargo contra o regime do Apartheid. Além disso, falhas de administração deixaram ao país a dívidas da ordem de US$ 2 bilhões, que levaram cerca de 30 anos para serem quitadas. Só na área do Porto, o Rio de Janeiro promete investir R$ 3 bilhões (US$ 1,32 bilhão). Hoje o canadense aproveita – e muito – sua zona portuária. Resta saber se o Rio de Janeiro será capaz.

O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro

Fonte: Terra
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