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Fórmula Indy

"Racha" na Fórmula 1 quase levou Ferrari à Indy em 1987; relembre

6 jun 2013 - 11h06
(atualizado às 11h06)
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Entre as décadas de 80 e 90, o automobilismo mundial vivia um cenário bastante peculiar: ao mesmo tempo em que a Fórmula Indy ganhava espaço e superava as fronteiras dos Estados Unidos, a Fórmula 1 via a Ferrari apresentar um desempenho pouco competitivo, que nem mesmo o vice-campeonato de Michele Alboreto no Mundial de 1985 atenuou. Nos bastidores, a escuderia de Maranello vinha se mostrando incomodada com as regras de motores impostas pela FIA no início da década. Assim, criou-se a possibilidade de a mais tradicional equipe da F1 romper com a categoria para protagonizar um movimento inesperado: disputar a Indy.

Eis o cenário: Enzo Ferrari nunca escondeu seu desejo de vencer as 500 Milhas de Indianápolis, e o desentendimento com os organizadores da Fórmula 1 em 1985, época da negociação em torno do afastamento dos motores aspirados, foi o estopim para que o comendador declarasse no time que levava seu nome suas intenções de trocar de categoria. Por indicação da Goodyear, o homem forte da equipe italiana conversou então com a equipe TrueSports - então principal rival da Penske nos EUA - para avaliar a viabilidade de sua participação na Indy.

<p>Primeiros testes da Ferrari com um carro da Indy aconteceram em Fiorani, com Michele Alboreto (foto) e Bobby Rahal</p>
Primeiros testes da Ferrari com um carro da Indy aconteceram em Fiorani, com Michele Alboreto (foto) e Bobby Rahal
Foto: Museo Ferrari / Divulgação

No fim do ano, a TrueSports então enviou para Itália seu chassi March 85C, pintado em vermelho e movido pelo motor Cosworth, para que a Ferrari avaliasse a performance. Em Fiorano, o carro da Indy foi testado por Bobby Rahal (piloto da equipe na Indy) e por Michele Alboreto (representante da Ferrari na F1). Os resultados agradaram tanto à equipe italiana que o carro acabou ficando em Fiorano para que fosse analisado e detalhado. A partir daí, Enzo Ferrari pediu ao engenheiro austríaco Gustav Brunner que projetasse uma Ferrari naqueles moldes para competir nos Estados Unidos. Era o primeiro passo para sair da F1.

Em poucos dias, Brunner entregou o projeto do carro, construído pela equipe de Harvey Postlethwaite e batizado de Ferrari 637. A expectativa era que a Ferrari começasse a temporada de 1986 da F1, entrando na Indy nas últimas provas do ano e competisse apenas nos EUA a partir de 1987. Assim, no meio de 1986, a Ferrari já tinha um carro pronto para a Indy – e não por acaso, as imagens do bólido passaram a “vazar” para a imprensa, deixando claras as intenções de Enzo Ferrari.

<p>Com carro próprio, Ferrari entraria na Fórmula Indy no meio de 1986, trocando definitivamente de categoria em 1987</p>
Com carro próprio, Ferrari entraria na Fórmula Indy no meio de 1986, trocando definitivamente de categoria em 1987
Foto: Museo Ferrari / Divulgação

No segundo semestre de 1986, a Ferrari então convocou uma entrevista coletiva, gerando muita expectativa. O que se anunciou foi a contratação de Gerhard Berger (então na Benetton) e do engenheiro John Barnard (então na McLaren). Porém, pela primeira vez, a equipe falou abertamente de seus planos para os EUA, inclusive mostrando à imprensa seu motor V8 construído com as especificações da Indy. Nos EUA, Bobby Rahal e a TrueSports venciam as 500 Milhas de Indianápolis, enquanto Alboreto desempenhava papel fraco na F1.

Neste momento, entretanto, de maneira um tanto quanto obscura, a Ferrari decidiu manter seu foco na Europa. A meta de John Barnard era construir um carro competitivo para 1987, de forma que a ida para a Indy só acontecesse quando a Ferrari estivesse “no topo” da F1 novamente. Assim, por pressão do novo engenheiro, a Ferrari decidiu engavetar o projeto 637. Nem mesmo a visita de Steve Horne (chefe de equipe da TrueSports) no fim de 1986 foi capaz de demover a escuderia da ideia.

<p>Sem jamais ter corrido oficialmente, Ferrari 637 é hoje item de exposição pelo mundo e destaque no Museo Ferrari</p>
Sem jamais ter corrido oficialmente, Ferrari 637 é hoje item de exposição pelo mundo e destaque no Museo Ferrari
Foto: Museo Ferrari / Divulgação

Para ajudar, em 1987, a equipe foi protagonista na mudança da regra de motores, que valeria a partir de 1989. A FIA queria trocar os motores turbo por V8 aspirados, mas Enzo Ferrari pretendia correr com motores de 12 cilindros. Para selar de vez o acordo entre a entidade e a equipe, a FIA aceitou os motores V12 na F1. Em troca, a Ferrari encerrou de vez seu projeto Indy e ajudou a manter a popularidade da categoria máxima do automobilismo mundial. Em março daquele ano, foi assinado um novo Pacto de Concórdia.

Hoje, a Ferrari 637 é vista em raras exposições pelo mundo. Já foi vista em Indianapolis Motor Speedway Museum Hall of Fame, e ocupa lugar de destaque do Museo Ferrari, em Maranello, onde é exposto ao lado de carros que fizeram sucesso na Fórmula 1 e dos veículos de passeio mais famosos da marca italiana.

Fonte: Terra
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