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Atletas comentam estudo sobre direitos humanos na Bahia

15 abr 2014 - 17h08
(atualizado às 17h32)
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Representante do Bom Senso FC, Fahel cobrou mais estrutura para a formação de atletas
Representante do Bom Senso FC, Fahel cobrou mais estrutura para a formação de atletas
Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia / Divulgação

Durante a manhã desta terça-feira, foi lançado em Salvador um estudo inédito sobre direitos humanos das crianças e adolescentes no futebol brasileiro. O livro "A Infância Entra em Campo – Riscos e Oportunidades para Crianças e Adolescentes no Futebol" tem dados e análises sobre a violação dos direitos dos jovens que buscam seguir carreira no esporte e tem como objetivo orientar o debate sobre a mudança do panorama da formação de futebolistas no país. O estudo, realizado entre 2012 e 2013 em clubes e escolinhas de toda a Bahia, é fruto da parceria entre a Unicef, o Centro de Defesa da Criança e Adolescente Yves de Roussan – CEDECA e do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Estadual para Assuntos da Copa – Secopa.

A entrevista coletiva para o lançamento do estudo aconteceu no centro de convenções da Arena Fonte Nova, e contou com a presença dos jogadores Fahel, do Bahia, e Mauri, do Vitória, que comentaram os resultados do estudo. Além dos dois jogadores, participaram da mesa as coordenadoras do projeto, Maria Aparecida de Roussan (CEDECA) e Casimira Benge (Unicef), o representante da Unicef no Brasil, Gary Stahl, Waldemar Oliveira, coordenador executivo do CEDECA, Ney Campello, secretário da Copa na Bahia e de Emanuel Macedo de Medeiros, antigo diretor-executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL) e membro do conselho consultivo do Centro Internacional para Segurança do Esporte (ICSS). Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da Seleção Brasileira, comporia a mesa, mas teve compromissos com a CBF e não pode comparecer.

No discurso que abriu a mesa de debates, Maria Aparecida de Roussan destacou que o estudo gerou mais novas dúvidas do que respostas. A coordenadora da pesquisa ainda afirma que, após a publicação do livro, será mais fácil implementar mecanismos eficazes de fiscalização nos centros de prática esportiva, além de adequar os intrumentos jurídicos para que haja mais clareza na lei. Maria Aparecida ainda espera que a questão seja levada ao congresso.

"Recebemos denúncias sobre violação dos direitos das crianças e adolescentes no futebol sistematicamente. O estudo traz dados que já tínhamos noção, mas saímos do 'achismo' e fomos ouvir as pessoas para termos visão qualitativa e quantitativa. Meninos e meninas frequentemente estão expostos a situações de vulnerabilidade e violação de seus direitos básicos, como ameaças à saúde e a seu desenvolvimento pleno, além de interferência na frequência escolar. Muitos deles são privados de ficar com a família, muitos sofrem violência física ou psicológica, e casos de racismo, discriminação e abuso sexual infelizmente também acontecem. Por outro lado, as leis do esporte são pouco claras no que diz respeito aos deveres dos clubes e dos formadores. Esperamos que agora estas questões possam ser discutidas no congresso", explicou.

Fahel e Mauri, representantes dos jogadores na mesa de debate, comentaram a fala da diretora do instituto e um vídeo de apresentação exibido, confirmando as más condições às quais a grande parte dos jogadores de futebol são expostos, principalmente no início de sua trajetória. Os atletas também comentaram um dado presente no estudo: apenas 1% das crianças que participam de "peneiras" consegue se profissionalizar. Destes, segundo dados da CBF, 84% recebem menos de R$ 1000. Os dois jogadores, se dirigindo a garotos das categorias de base de Bahia e Vitória, presentes na plateia, salientaram que o estudo deve ser priorizado.

"Tudo discutido aqui é verdade e eu vivi isso. Me vi no depoimento de alguns dos jogadores e cheguei a me emocionar. Precisar deixar seus pais para seguir carreira e asusmir posições que não deveriam ser as nossas, como ajudar em casa. Sei que isso acontece com quase todos os jogadores. Eu e meus três irmãos queríamos ser jogadores, mas só eu consegui. Eles estudaram, alguns tem mestrado. Minha mãe, que teve dificuldades de ficar perto da gente e nos apoiar na época da base, sempre dizia para a gente estudar também. Era difícil, às vezes eu treinava e caía de sono na escola. Infelizmente, tive de trancar a faculdade de Educação Física, mas vou me formar", disse Fahel.

Mauri lembrou ainda que a carreira de um jogador de futebol é curta e que, aos 30 anos, enquanto em outras áreas, o profissional está apenas no início de sua carreira, na modalidade funciona diferente.

"Vivi essa vida de ficar longe da família há pouco tempo, acabei de sair da base. Infelizmente ainda estou cursando o ensino médio, mas tenho em mente concluir e fazer ensino superior. A carreira de um jogador é curta. Infelizmente, começamos cedo e terminamos cedo. Com 30 anos, em outros empregos, a pessoa está no auge. No futebol, começamos a terminar nossa carreira. E depois disso, como vai ficar? Por isso tenho em mente concluir os estudos e fazer algum curso que me agrade, relacionado ao futebol, para trabalhar posteriormente nisso", disse.

Fahel foi ainda mais longe na análise das questões debatidas na mesa, que abria o seminário desta terça. Como representante do movimento Bom Senso Futebol Clube, que tem pressionado os clubes e a CBF a debater e reavaliar alguns pontos na gestão do esporte no Brasil, o jogador cobrou dos clubes uma postura mais humanizadora na formação de novos craques.

"Estou aqui representando o Bom Senso FC, que quer melhorias para todo o futebol brasileiro. Muitas vezes os clubes não estão preparados para receber jovens em formação, que vem com essa pressão e abrem mão de seus direitos por causa dos seus sonhos. A categoria júnior é a porta de entrada, mas também a de saída do futebol, porque muitos não vão conseguir se profissionalizar. Muitos atletas nem conhecem seus direitos e os clubes precisam oferecer uma estrutura adequada para todos, com alimentação, psicólogo, escola, apoio médico. O futebol não tem que ser a única opção de vida, tem de ser mais um caminho", concluiu Fahel.

"Legado mais importante", diz secretário

Para o secretário Ney Campello, representante do governo do estado no evento, o estudo é um dos mais importantes legados que a Copa do Mundo pode render ao Brasil. O executivo declarou que também espera que o debate seja ampliado e que o estudo seja utilizado como exemplo para o restante do país. Antes de concluir sua fala, Campello aproveitou para alfinetar aqueles que criticam que a competição não rendeu, até o momento, frutos para o Brasil.

"Quando se fala em legado para a Copa, fala-se muito em obras, em estádio, em mobilidade urbana. Esta aqui é uma obra intangível, que não é feita de concreto. Na minha opinião, é o maior legado que deixamos para o Brasil, e é o momento mais representativo para mim desde que assumi o cargo, em 2009. Mais do que a realização dos jogos na Fonte Nova, da vitória da Seleção na Copa das Confederações ou a realização do sorteio aqui em Sauípe. É algo que fica por mais de 30 dias e algo que espero que seja levado em consideração fora do estado. Não concordo com quem disse que as manifestações de junho eram contra a Copa. As pessoas queriam Copa, e também educação, saúde e cultura. Estamos tentando deixar esse legado", argumentou.

Fonte: Paço Virtual - Comunicação, Consultoria e Projetos LTDA - ME - Especial para o Terra Paço Virtual - Comunicação, Consultoria e Projetos LTDA - ME - Especial para o Terra
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