PUBLICIDADE

"Esquecido", Wlamir vê uso político e quer evitar homenagem póstuma

5 mar 2013 - 21h40
(atualizado às 22h24)
Compartilhar
Exibir comentários

Bicampeão mundial e dono de dois bronzes olímpicos, Wlamir Marques se diz esquecido. Cinqueta anos depois do título conquistado no Rio de Janeiro-1963, o ex-jogador reclama do uso político dos feitos de sua geração e quer evitar homenagens póstumas a si próprio e aos antigos companheiros.  

"Depois de 50 anos, não somos lembrados. Em 2009, o título do Chile-1959 fez aniversário e recebemos pouquíssimas homenagens. Viajamos para Brasília e fomos usados politicamente. A CBB também não prestou homenagem alguma. Eu cobrei e eles marcaram uma data, mas foi tudo esquecido", reclamou o ex-jogador. 

Segundo Wlamir, na visita à capital federal os veteranos de 1959 receberam, da presidência da república e do Ministério do Esporte, a promessa de que seriam embaixadores do esporte, algo que não foi cumprido. Ao lado do ex-companheiro Ubiratan, já falecido, ele contou que tentou conseguir auxílio financeiro para ex-jogadores, sem sucesso. 

"Tudo ficou na promessa. A vida não é fácil para ninguém, especialmente nessa idade. Quem fez o seu capital está satisfeito, mas muitos ficaram para trás. Eu tinha o projeto de que os ex-jogadores começassem a receber uma ajuda financeira a partir dos 65, 70 anos para que não precisassem morrer em quadra, mas acabei deixando de lado. Você cansa", afirmou. 

Na época em que Wlamir viveu seu auge, o Brasil era uma potência do basquete. Além das medalhas de bronze nas Olimpíadas de 1960 e 1964, a Seleção subiu ao pódio nos Mundiais de 1954 (prata), 1959 (ouro), 1963 (ouro), 1967 (bronze), 1970 (prata) e 1978 (bronze). Aos 75 anos, ele fala com certo pesar sobre a repercussão de seus feitos. 

"Nesse país, qualquer título que se tenha conquistado não representou absolutamente nada, a não ser a satisfação pessoal de cada um. Éramos amadores, entre aspas, e não tínhamos subvenção alguma. Joguei 18 anos pela Seleção sem ganhar 1 tostão. Os títulos ficaram para a história, mas não tivemos o privilégio de usufruir deles", disse.Wlamir ainda lembrou que a mídia era incipiente na época, a ponto de ser difícil encontrar simples imagens dos Mundiais de 1959 e 1963. Na tentativa de resgatar a história do bicampeonato, os ex-jogadores mundiais participarão de um documentário, idealizado por Paulista, a ser filmado em 2013. 

"Qualquer órgão público nem tomaria conhecimento de que o título de 1963 vai fazer 50 anos. Não é crítica, mas sim a realidade. Com essa iniciativa fantástica do documentário, até rejuvenesci e parece que tenho 18 anos. Quero fazer alguma coisa para deixar uma lembrança. Espero que minha voz ainda tenha forças para deixar uma mensagem positiva", afirmou. 

Além de Wlamir, Paulista, Amaury, Jatyr, Sucar, Mosquito, Fritz e Menon, o único que ainda não completou 70 anos, se reuniram para lançar o projeto do documentário na tarde desta terça-feira, em São Paulo, desta vez com apoio da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Ao lado de seus colegas, ele arrancou risos ao pedir homenagens rápidas. 

"Nós éramos 12 e já falecerem três. De 1959, somos apenas cinco. As homenagens não podem demorar muito, porque daqui a pouco serão todas póstumas. Sinceramente, estamos cansados de medalhas e diplomas. Eu mesmo tendei vender tudo isso. Fomos atletas amadores e continuamos sendo tratados assim. É difícil virar profissional", constatou Wlamir. 

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
Compartilhar
Publicidade
Publicidade