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Kelly mira ouro no Pan, aprova Iziane e critica troca de técnicos

14 jul 2015 - 15h42
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Remanescente da "geração de ouro" do basquete feminino, a pivô Kelly está de volta à Seleção Brasileira para buscar a medalha que nomeia os bons tempos da modalidade, mas que a atleta nunca teve oportunidade de colocar no peito. Aos 35 anos, Kelly aceitou a convocação do técnico Luiz Augusto Zanon e vai disputar os Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 em busca do lugar mais alto do pódio. Ela já conquistou o bronze em Santo Domingo (2003) e a prata no Rio de Janeiro (2007), além do histórico bronze olímpico em Sydney 2000.

Apesar das medalhas no Pan, como o bronze em Guadalajara 2011, o basquete brasileiro exibiu campanhas pífias nas últimas edições das Olimpíadas. Em entrevista à Gazeta Esportiva, a jogadora de 1,92 metros avaliou os recentes resultados inexpressivos e responsabilizou as falhas na gestão da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), principalmente em relação à troca excessiva dos treinadores.

Entre 2009 e 2013, cinco nomes passaram pelo comando da equipe. Paulo Bassul (2007-2009), pivô do afastamento de Iziane, Carlos Colinas (2010), espanhol que morava fora do Brasil e não se dedicava integramente à equipe, Ênio Vecchi (2011), que nunca havia treinado uma equipe feminina e foi demitido pouco depois de fazer uma cirurgia na próstata e Luiz Cláudio Tarallo (2012), com experiência apenas nas categorias de base. Nesse período, a campeã Hortência foi diretora da seleção feminina na CBB a convite do então presidente Carlos Nunes.

Após a saída de Tarallo em 2013, Luiz Augusto Zanon chegou à Seleção Brasileira com uma proposta de renovação e trouxe Iziane de volta para a preparação para a Copa América. Kelly, que esteve presente no ciclo olímpico de Pequim, aprova tanto o projeto do treinador de São Carlos quando o retorno da ala-armadora maranhense.

Atualmente no América de Pernambuco, Kelly pretende buscar em Toronto a medalha que lhe falta no Pan e não vê as Olimpíadas do Rio de Janeiro como sonho, mas como meta a ser alcançada. A indefinição da Federação Internacional de Basquete (Fiba) quanto ao convite para Rio 2016 não incomoda a atleta, para quem cabe ao time buscar dentro de quadra não apenas a vaga, mas o título do Pré-Olímpico.

Como exatamente se deu o retorno à Seleção?

Foi em janeiro. Eu estava na Turquia e o Bruno, supervisor da Seleção, me ligou e disse que eu estava entre as relacionáveis para o Pan. Eu tive que correr atrás da documentação, já que o meu passaporte vencia em agosto e o COB exige que ele vença pelo menos seis meses depois da competição. Eu fui até a embaixada brasileira na Turquia, renovei meu passaporte e mandei os documentos para o Brasil.

Como é a troca com as atletas menos experientes?

Eu me sinto necessária para a Seleção. Fiz parte da geração de ouro e agora volto para passar minha experiência, mas também é uma troca. As meninas são muito atléticas, cheias de energia, e eu tento pegar isso delas, continuo aprendendo. Para mim, é muito válido e muito importante poder levar experiência para elas e isso ser transformado em uma troca. Elas trazem para mim energia, paixão, aquele amor pelo esporte. Fiquei extremamente honrada.

Como remanescente do bronze de Sydney, como vê os resultados inexpressivos nos últimos Jogos Olímpicos e Mundiais? Depois de perder a disputa de terceiro lugar para a Rússia em Atenas 2004, a equipe venceu apenas um em cinco jogos disputados em Pequim 2008 e Londres 2012, terminando em 11º e 9º lugar, respectivamente. A situação nos Mundiais não foi muito diferente. Na República Tcheca 2010, o Brasil ficou em nono lugar, pior resultado desde 1990, e no ano passado foi eliminado pela Turquia nas oitavas de final na Austrália.

Nos últimos sete anos a Seleção feminina teve cinco treinadores diferentes. Como cobrar uma filosofia, cobrar um foco ou objetivo de qualquer coisa? Eu nunca havia trabalhado com o Zanon, mas gosto dessa política de renovação dele e aprovei quando ele entrou com essa proposta. Diante de tantas bobagens que fizeram, o que o Zanon oferece pode ser uma solução. Renovação para mim é um caminho. Infelizmente, a modalidade inteira sofre pela má administração, pela má gestão anterior. Não no total, mas as pessoas direcionadas à Seleção feminina foram infelizes ou mal assessoradas. Houve erro que todo mundo sabe de gestão financeira, mas também na gestão de pessoas. A Seleção não pode ter cinco treinadores em sete anos, isso não existe, não acontece nem em futebol. Agora isso é passado. A gente tem que tentar olhar para a frente e acreditar que a renovação é o caminho.

No entanto, levam anos até aparecerem os resultados. Existem exemplos de outras seleções, como a da França, que se renovou há 10 anos, e da Sérvia, atual campeã da Europa e um time de jovens. É uma boa escola, é antiga, tem grandes pivôs no masculino, mas do feminino não sabemos falar nada. Elas surpreenderam. Por isso tem que ter paciência, trabalhar duro e não parar de acreditar.

Tem o desejo de disputar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016?

Não é apenas meu desejo, mas meu objetivo. Eu tenho o sonho de participar e vou trabalhar duro para isso.

Você participou do ciclo olímpico de Pequim 2008, quando Iziane se desentendeu com Paulo Bassul, se recusou a entrar em quadra na prorrogação diante da Bielorrússia no Pré-Olímpico de Madri e foi cortada. Quando Hortência assumiu a direção da seleção, pressionou Bassul a convoca-la para a Copa América, mas a ala-armadora recusou o pedido e só voltou à equipe sob o comando de Tarallo. A maranhense fez alguns jogos pela Seleção, como no Pan de Guadalajara, mas levou seu namorado para a concentração pouco antes das Olimpíadas de Londres e foi cortada novamente. O que achou do retorno da Iziane à Seleção? Ela foi bem recebida pelo grupo?

Eu fiquei feliz com o retorno dela, achei uma atitude corajosa ela aceitar. Eu disse para ela que a Seleção precisa de uma pessoa com a ousadia, a velocidade e a determinação que ela tem. Hoje nós temos um treinador que é uma pessoa que está sempre aberta a opiniões e dá liberdade. A resposta dela tem que ser em quadra. Ela tem muito a acrescentar. Todo mundo já errou, um atleta dizer que teve uma trajetória de glória sem erros é impossível. Todos tiveram dificuldade e erraram, é isso que faz as pessoas crescerem. Se ela aprendeu isso e amadureceu, está pronta e vou dar suporte. O grupo a recebeu com respeito e ela também nos respeitou muito.

O que te motiva a continuar aos 35 anos de idade?

O que motiva é o amor pelo esporte. O basquete é um jogo muito difícil, que exige equilíbrio emocional. Quando era jovem como essas meninas, era apaixonada, mas hoje é um sentimento mais centrado, o amor. É uma coisa que eu gosto de fazer e enquanto tiver prazer e condições técnicas de estar na Seleção Brasileira, eu vou jogar.

A CBB tem uma dívida com a Fiba de R$ 3 milhões referente ao convite pago para a Seleção Masculina participar da Copa do Mundo da Espanha 2014. A CBB propôs quitar a dívida parceladamente até 2019, mas a entidade internacional não aceitou e deu um prazo até o dia 30 de julho para definir a situação. Se não acertar o débito, o Brasil não terá vaga direta nas Olimpíadas do Rio, garantida ao país-sede, e terá que buscá-la no Pré-Olímpico do México, em agosto. Está receosa com a situação?

Nós ouvimos falar da situação, que a Confederação Brasileira de Basquete gastou mais do que podia e acabou com uma dívida, é o que todo mundo sabe. Nós, como atletas, temos que fazer tudo o que for possível dentro de quadra e não contar com o convite. Conseguirmos a vaga dentro de quadra é o que está ao nosso alcance.

A indefinição da vaga atrapalha a preparação?

A minha preparação não estão atrapalhando. Estamos focadas no objetivo de jogar a Copa América. Primeiramente o Pan, mas também temos esse objetivo. Se vai ter convite ou não, eu quero o título, independentemente da vaga olímpica. Sobre a má gestão e os erros financeiros, já não tenho como falar, porque não entendo do assunto. Sei que eles estão lutando em busca de consertar isso. A gente vai tentar buscar a vaga em quadra, e independentemente disso, queremos ser campeãs.

A dívida foi originada porque a Seleção masculina não conseguiu se classificar para o Mundial na quadra e precisou de convite. Acha injusto que a equipe feminina também possa ser prejudicada?

Embora a dívida tenha surgido a partir da Seleção masculina, o que todo mundo precisa entender é que a CBB é uma entidade só, nós somos uma coisa só, então não adianta pensar nisso. Eu não tenho outra opção senão acreditar que a gente vai se classificar.

Quais são suas expectativas para os Jogos Pan-Americanos de Toronto?

Medalha. De ouro.

Em entrevista ao site da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), você disse que precisou abdicar de várias coisas pelo basquete. O que, por exemplo?

Abri mão de muitas coisas, como estar com minha família, me divertir com meus amigos e ir para baladas. Abdiquei de muitas coisas pelo basquete, mas só me favoreceu. Isso me afastou das drogas, não que eu estivesse nisso, mas manteve longe da minha vida. Foi muito sacrifício, foi difícil, mas tenho muitos benefícios e não posso reclamar da minha vida hoje. Está valendo a pena.

Você já atuou na WNBA e na Europa. Vê o intercâmbio de atletas necessário para a evolução do Brasil?

A Seleção precisa fazer mais amistosos internacionais para pegar ritmo de jogo e ir para as grandes competições. As meninas que estão lá já jogaram na Europa e na WNBA, mas não é jogar fora do país para melhorar a situação. O caminho é inverso. Eu só joguei na Europa, WNBA e Ásia porque estava na Seleção. Quem pensa em carreira internacional precisa vestir a camisa da Seleção e trazer resultado para o Brasil. Os convites que eu tive foram consequência natural. E por isso que eu voltei, tenho essa dívida com o Brasil, ele que me lançou para o mundo.

Quem você vê como suas sucessoras na Seleção?

Injusto falar o nome de qualquer uma porque todas são muito esforçadas e comprometidas. Grupo de um comprometimento incrível.

Você acabou de assinar por dois anos com o América. Quais os planos para o futuro?

Eu vou jogar até quando eu quiser, enquanto tiver condições física e mental. Quero conquistar o título da LBF pelo América e buscar a classificação para o Sul-Americano de clubes. E claro, ir para as Olimpíadas.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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