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Jogo 7: conhecido dos times, novidade para os jogadores

17 jun 2010 - 16h09
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Jonathan Abrams

Por seis jogos, o balanço de forças oscilou entre o histórico Boston Celtics e o vitorioso Los Angeles Lakers. O êxtase estava de verde e o desespero vestia dourado, mas subitamente os sentimentos associados às cores se invertiam.

Agora chegou o jogo sete - apenas a segunda ocasião em que os playoffs finais da NBA requerem decisão em sete partidas nos últimos 16 anos, e a primeira experiência de um jogo sete nessas circunstâncias para o técnico Phil Jackson, dos Lakers, a despeito dos 10 títulos que ele já conquistou e o fazem o técnico mais vencedor na história da liga. Ou os Celtics conquistarão seu segundo título em três anos ¿ambos com vitória sobre o Lakers - e o 18° de sua história ou as faixas amarelas e púrpuras penderão do teto do ginásio para celebrar o bicampeonato dos Lakers, e 16° título no retrospecto do time.

A noite de quinta-feira oferecerá um daqueles momentos que vive apenas nos sonhos de alguns jogadores, o tipo de jogo capaz de cimentar uma reputação ou destruí-la permanentemente. "Quando você é criança e está no quintal brincando e batendo bola, sonha fazer o arremesso decisivo em um jogo sete das finais", disse Derek Fisher, dos Lakers, que como todos os seus demais colegas, entre os quais Kobe Bryant, jamais teve de passar por um jogo como esse. "É isso que a NBA deseja", disse Glen Davis, do Boston, outro estreante no que tange a uma final decidida no sétimo jogo. "É isso que os torcedores desejam. É isso que o mundo deseja".

O que os Celtics não desejavam, no entanto, era chegar à final com uma baixa importante por lesão. Mas para seu azar foi exatamente isso que aconteceu: o pivô Kendrick Perkins está definitivamente fora do jogo, depois de sofrer uma lesão nos ligamentos de seu joelho direito. É um prejuízo significativo. Ainda que não esteja entre os jogadores mais cintilantes do time, Perkins é uma das peças centrais de sua defesa, um jogador forte e com 2,14 metros que ocupa os espaços, bloqueia arremessos e protege os atacantes com corta-luzes. Ele foi titular do time em todas as partidas nas três últimas temporadas, mas para o jogo decisivo será substituído por Glen Davis ou Rashid Wallace.

Enquanto isso, Andrew Bynum, o pivô dos Lakers, está mancando mas deve começar jogando na noite de quinta-feira, a despeito de mais um surto inflamatório em seu joelho direito lesionado. Tanto a lesão de Perkins quanto a convincente vitória dos Lakers por 89 a 67 no jogo seis parecem favorecer o time de Los Angeles na partida decisiva. No entanto, é os Celtics, e não os Lakers, que tem a história a seu lado, nessa longa e feroz rivalidade, e isso também pode influenciar o resultado no jogo sete.

Trata-se da 12ª vez que essas equipes se defrontam com um título em jogo, e a quinta ocasião em que conduzem a batalha a um sétimo jogo que decidirá tudo. Não só os Celtics venceram nove das 11 finais precedentes entre as duas equipes como saíram triunfantes nas quatro séries que foram ao sétimo jogo. E em algumas dessas ocasiões, se deram bem graças à colaboração inesperada do fator imprevisto.

No jogo sete da decisão de 1962, por exemplo, Frank Selvy, que chegou a marcar 100 pontos em uma partida universitária devido ao seu arremesso rápido e certeiro, errou um arremesso completamente sem marcação que teria evitado uma prorrogação. E quando os Lakers foram à prorrogação, saiu derrotado por 110 a 107, no Boston Gardens, o ginásio histórico do Celtics.

Quatro anos depois, o técnico dos Celtics, Red Auerbach, desafiou as demais equipes a derrotar o seu time, anunciando que aquela seria sua última temporada como técnico. Os Lakers tentaram, mas não conseguiram, perdendo o jogo sete no Boston Garden por 95 a 93, apesar de uma recuperação no final do jogo que quase lhe valeu a vitória. Sob o comando do exultante Auerbach, os Celtics conquistram seu oitavo título consecutivo.

Três anos mais tarde, em Los Angeles, com a partida empatada em 106 a 106 e 20 segundos ainda por jogar em mais um jogo sete, Don Nelson, ala reserva dos Celtics, recuperou uma bola perdida pelo companheiro John Havlicek e fez um arremesso que atingiu a porção traseira do aro, subiu e caiu direto para a cesta. O jogo terminou com vitória dos Celtics por 108 a 106.

"Foi um arremesso de pura sorte", disse Nelson, hoje técnico do Golden State Warriors, em entrevista por telefone. "Chegamos a estar 20 pontos na frente, eles se recuperaram e empataram; pareciam um trem desgovernado, que não seríamos capazes de deter". O quarto e último jogo sete de finais nessa longa rivalidade só viria a acontecer 15 anos depois, a última ocasião em que as duas equipes decidiram um título no Boston Garden. E nele Larry Bird liderou os Celtics em vitória por 111 a 102 contra os Lakers de Magic Johnson.

Depois da partida, um grupo de torcedores dos Celtics cercou o ônibus dos Lakers, jogou lixo e sacudiu o veículo enquanto os jogadores derrotados tentavam deixar o ginásio. "Foi assustador", recordou Johnson em entrevista a Jackie McMullan para o livro "When the Game Was Ours". "Já estávamos arrasados devido à derrota devastadora e todo mundo se assustou ainda mais quando não pudemos ir embora. Não tínhamos escolha. Tivemos de ficar lá parados e aguentar".

Bryant provavelmente sentiu sensação parecida em 2008, depois que os Celtics conquistaram seu 17° título em uma vitória contra os Lakers no jogo seis da decisão. O ônibus dos Lakers estava parado diante do TD Garden, e não do velho e assustador Boston Garden, mas os torcedores dos Celtics repetiram o gesto de sacudir o veículo. Johnson conseguiu sua revanche ao derrotar os Celtics na luta pelo título do ano seguinte, e uma vez mais em 1987. Na quinta-feira, pode ser a vez de Bryant conseguir a sua revanche.

Depois do jogo da terça-feira, e no treino da quarta, ele manteve a postura de completa seriedade que sustentou durante toda a série, rebatendo ferozmente a todas as perguntas que falavam sobre os tabus do jogo sete. "Se estou envolvido no jogo, o momento é de jogar o meu melhor", disse ele. "Tenho de me concentrar no jogo. Não quero saber das discussões a respeito".

No período em que vêm conduzindo os Lakers juntos, Bryant e Jackson venceram três e perderam um jogo sete em séries de playoff anteriores. Mais disposto a reconhecer o simbolismo do momento do que parece ser o caso de Bryant, Jackson disse na quarta-feira que "todo mundo precisa manter a pose" em um jogo sete das finais. "É uma espécie diferente de partida, mas é algo que todos precisamos ser capazes de enfrentar, mantendo a nossa compostura", disse.

O único jogador em qualquer dos dois times a já ter disputado uma partida sete nas finais é Wallace, que fazia parte da equipe do Detroit Pistons derrotada pelo San Antonio Spurs no jogo sete da final de 2005. E Nelson, que conhece tudo sobre a rivalidade entre os dois times, e ainda consegue recordar aquele arremesso afortunado que subiu e voltou a cair na cesta 41 anos atrás, parece acreditar que os Lakers são favoritos. "Phil fez um trabalho maravilhoso na marcação e nos confrontos homem a homem", disse. E, se Jackson conseguir repetir esse bom trabalho apenas uma vez mais, os Lakers enfim terão uma vitória em jogo sete para alardear.

A sétima partida da decisão será no Staples Center, em Los Angeles
A sétima partida da decisão será no Staples Center, em Los Angeles
Foto: AP
The New York Times
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