No Barcelona, brasileiro de 15 anos já sonha com Olimpíada
4 dez2010 - 11h39
(atualizado às 12h07)
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Dassler Marques
São só 15 anos de vida, mas Fernando Henrique tem inacreditáveis 2,07 m de altura e já impressiona. Um dos possíveis expoentes do futuro do basquete brasileiro, ele já deixou o País. Hoje defende o Barcelona, a Seleção infantil e se prepara para trilhar uma trajetória como a de Tiago Splitter.
Vice-campeão do Sul-Americano Sub-15 com o Brasil há algumas semanas, esse mineiro de Belo Horizonte foi parar em um dos times de ponta do basquete espanhol, acredite, sem sequer atuar por um clube brasileiro. "No ano passado estava em um campo de treinamentos em Uberlândia e um pessoal da Espanha me acompanhou jogando, convidou para fazer testes. Fui com a minha mãe e fiquei", lembra. Além dele, o amigo Daniel também foi para o Caja Laboral, outro grande da Espanha.
Quando também tinha 15 anos, em 2000, Tiago Splitter deixou o Brasil atrás do sonho europeu. Jogou uma década no basquete espanhol e se consagrou com o Caja Laboral na última temporada. Fez barba, cabelo e bigode: campeão nacional, melhor jogador do torneio e melhor jogador das finais. Desde o lituano Arvydas Sabonis, em 1994, esse feito não era alcançado. Splitter conseguiu e já se mudou para a NBA, onde defende o San Antonio Spurs.
Além da natural semelhança com Tiago Splitter, o garoto de 15 anos também é constantemente comparado a Anderson Varejão, que foi pivô do Barcelona antes de se mudar para a NBA. "O Splitter foi para a Europa com a mesma idade que eu, acho que tenho um pouco dos dois. Mas gosto mais do jeito de jogar do Splitter", admite.
Vanderlei Mazzuchini, diretor de seleções masculinas da CBB, elogia a postura de Fernando. "Teve uma atitude muito legal, porque ele tem o desejo de jogar pela Seleção Brasileira. O clube se negou a pagar a passagem dele para o Brasil e nós dissemos que isso não seria problema, pois vimos o interesse dele em jogar pela Seleção. Queremos essa ideologia".
As metas para o futuro
Fernando jamais tinha atuado em um clube brasileiro. Nem mesmo tentado a sorte. Estava desde os 10 anos na equipe do Colégio Magno, de Belo Horizonte, e começava a pensar sobre a possibilidade de partir de vez para o basquete. "Me convidaram para alguns testes, mas nosso time era forte", diz. Hoje, já faz planos ambiciosos: "Quero chegar aos profissionais por uma equipe europeia. Só não pretendo defender outra Seleção", afirma com convicção.
Vivendo na Catalunha, Fernando Henrique tem visto de estudante e, até por isso, é cobrado também fora das quadras e precisa estudar de verdade. Só assim poderá permanecer na república de atletas do exterior que o Barcelona lhe oferece. "Se eu reprovo, é difícil de renovar a permanência no país. E é assim: se eu não quero ir para a escola e digo que tenho algum mal-estar, sou proibido de treinar. Aí você acaba se prejudicando".
Além desse tipo de amadurecimento, o pivô de 2,07 m também reconhece que, na Europa, tem evoluído mais do que se estivesse no Brasil até hoje. "Antes tinha um jogo a cada duas semanas, na Espanha tem toda hora. Isso faz você trabalhar mais, se desenvolver mais, cada fim de semana é uma coisa diferente". Fernando cita a movimentação em quadra e a visão de jogo como pontos em que seu jogo tem evoluído. "Melhorei muito".
Crente nos planos da CBB para o basquete brasileiro, ele crê na evolução e aponta os Jogos de 2016 como um objetivo concreto. Só não descarta uma aparição surpreendente em Londres daqui dois anos. "Mas não depende de mim", observa. "No Sul-Americano Sub-15, nossa equipe foi a que teve mais recursos, como médico e fisioterapeuta".
Talento perdido pelos basquete brasileiro para um gigante da Europa, Fernando Henrique só espera que esses planos, de fato, sejam colocados em prática. Será a única chance de o País desfrutar de um jogador que já não lhe pertence mais.
O esporte é marcado por atletas que "viraram a casaca", trocando uma equipe por sua rival. O zagueiro Sol Campbell jogou por quase uma década no Tottenham, mas trocou a equipe londrina pelo rival Arsenal. Em seu novo time, venceu o Campeonato Inglês duas vezes e chegou à final da Liga dos Campeões
Foto: Getty Images
Formado no Internacional e ídolo no Beira-Rio, Batista trocou a equipe pelo arquirrival Grêmio em 1981
Foto: Gazeta Press
Revelado no Vitória, Bebeto foi um dos principais jogadores do Flamengo no final da década de 1980; transferiu-se ao Vasco em 1989, time em que foi campeão Brasileiro no mesmo ano
Foto: Gazeta Press
O quarterback Brett Favre era ídolo no Green Bay Packers, mas assinou com o rival Minnesota Vikings em 2009
Foto: Getty Images
O atacante Cléo, ex-Atlético-PR, destacou-se na Sérvia atuando pelo Estrela Vermelha de Belgrado; em 2009, acertou sua transferência ao rival Partizan, o que provocou ira e ameaças da torcida adversária
Foto: Getty Images
O holandês Johan Cruyff foi revelado no Ajax, clube em que jogou entre 1964 e 1973 e entre 1981 e 1983; já em fim de carreira, atuou no Feyenoord
Foto: Getty Images
Dagoberto sofreu com sérias lesões em sua passagem pelo Atlético-PR e, em 2007, acertou sua transferência ao São Paulo; o clube paulista ainda teve que pagar uma pesada multa para ficar com o atacante
Foto: AFP
Edmundo foi um dos principais ídolos do Palmeiras durante a década de 1990, mas para a frustração da torcida alviverde, atuou pelo Corinthians em 1996
Foto: Gazeta Press
No final da década de 1990, Luís Figo comandou o Barcelona no bicampeonato espanhol entre 1997/98 e 1998/99; quando Florentino Pérez assumiu o Real Madrid, teve como promessa de campanha contratar o português, o que cumpriu em 2000, enfurecendo a torcida catalã
Foto: Getty Images
Johnny Damon era center fielder do Boston Red Sox entre 2002 e 2005, e trocou a equipe pelo New York Yankees
Foto: Getty Images
LeBron James iniciou sua carreira no Cleveland Cavaliers, franquia de Ohio, seu estado natal; após sete anos na equipe, acertou polêmica ida ao Miami Heat, deixando os Cavs sem conquistar o título da NBA
Foto: AP
Luis Enrique teve passagem vitoriosa pelo Real Madrid na década de 1990 e acertou ida ao Barcelona em 1996; atualmente é treinador da equipe B do time catalão
Foto: Getty Images
Ídolo no Celtic, Mo Johnston foi parar no arquirrival Glasgow Rangers
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Ricardinho foi um dos ícones do Corinthians bicampeão brasileiro ao fim dos anos 90; em 2002, acertou ida ao rival São Paulo, mas jamais mostrou o futebol do time alvinegro
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Freddy Rincón foi o capitão do Corinthians campeão mundial em 2000; no mesmo ano, acertou transferência ao Santos
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Roberto Baggio era o grande ídolo da Fiorentina na década de 80; para decepção da torcida da equipe florentina, acertou ida à Juventus em 1990
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Revelado pelo Vasco, Romário acertou com o Flamengo em 1995 após passagem pelo futebol europeu
Foto: AFP
Ronaldo teve dois casos de "traição" no futebol europeu. O atacante se destacou no Barcelona, e anos depois jogou pelo rival Real Madrid; na virada do século, atuou pela Inter de Milão, e deu seu adeus ao Velho Continente com a camisa do Milan
Foto: Getty Images
Ronaldo conseguiu identificação com o Flamengo ao se assumir torcedor rubro-negro; ao fim de 2008, apesar de estar treinando na Gávea, acertou com o Corinthians
Foto: AFP
Revelado pelo Goiás, Túlio Maravilha admitiu ser torcedor do Vila Nova, time em que jogou por três oportunidades; em uma das idas, afirmou ser um "jogador melancia", por ser verde por fora e vermelho por dentro, justificando seu período pelo Goiás
Foto: Gazeta Press
Christian foi o grande nome do Internacional em 1996, quando marcou 23 jogos no Campeonato Brasileiro; em 2003, acertou ida ao Grêmio