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Magnano fala sobre "missão" e avisa que volta de Nenê será avaliada

4 dez 2010 - 11h30
(atualizado às 11h58)
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Marcel Pedroza

Contratado em janeiro deste ano para ser o grande comandante do basquete brasileiro, tanto dentro, como fora das quadras, o técnico argentino Rubén Magnano teve seu primeiro grande teste no Mundial Masculino, disputado na Turquia, realizado em agosto, quando a Seleção terminou na nona colocação.

Agora, com mais calma, o treinador poderá exercer também sua função na formação dos jovens brasileiros nas categorias de base. Em entrevista exclusiva ao Terra, Magnano contou detalhes desta "missão", além de avaliar a participação brasileira no Mundial da Turquia, em que disse não saber se o pivô Nenê voltará a vestir a camisa verde-amarela.

"O que queremos é dar uma identidade às equipes, sobretudo, espírito de luta, vontade dos jovens em jogar e não ter medo de atuar pela Seleção", disse Magnano.

"Sobre sua volta, ainda estou avaliando a situação. Neste momento não posso te dizer nem que sim e nem que não", emendou o treinador sobre o retorno de Nenê à Seleção. Após um longo período de treinamentos com a Seleção Brasileira, o pivô foi cortado às vésperas do Mundial na Turquia, por conta de uma lesão muscular.

Confira abaixo a entrevista exclusiva na íntegra realizada no início de novembro:

Trabalho na base brasileira

Terra: Qual é a sua importância no trabalho da base do basquete brasileiro?
Rubén Magnano: Creio que há uma equação matemática, em que o maior percentual não é meu e sim das pessoas que praticam o basquete. Porém nós temos poucos clubes que têm basquete e isso é muito ruim. Isso faz com que a base da pirâmide de jogadores seja pequena e precisamos tratar de incrementar e aumentar essa base de meninos que praticam a modalidade. Agora, depois do Mundial, terei mais tempo para avaliar estas questões e conhecer melhor como é o processo das categorias de base no Brasil.

Terra: A sua intenção é dar um padrão único de jogo para todas as Seleções Brasileiras?
Rubén Magnano: Falar de padrão de jogo único é muito difícil. Cada treinador tem sua forma de pensar. O que queremos é dar uma identidade às equipes, sobretudo, espírito de luta, vontade dos jovens em jogar e não ter medo de atuar pela Seleção.

Terra: Como é o acompanhamento da CBB em relação aos jovens que atuam fora do país?
Rubén Magnano: A CBB está fazendo um trabalho muito legal quanto a estes meninos. Por exemplo, temos o Fabricio Mello que está muito bem na NCAA (Liga Universitária Americana de Basquete) e queremos ir a Syracuse para podermos vê-lo treinar e conversar com ele, explicar o comprometimento que queremos com a Seleção. Eu estou assistindo a maior quantidade de torneios e creio que quanto a isso não temos problema no Brasil.

Não é um problema eles saírem, é um empecilho menor, e às vezes é um "bom". O maior problema é o fato de os garotos irem embora e nós nem sabermos para onde eles vão. Precisamos de um cadastro, para saber onde está casa jogador. E, além disso, os clubes formam e trabalham estes jovens e eles vão embora sem deixar absolutamente nada, no lado financeiro. Devemos colocar algo para poder cuidar e resguardar o nosso material humano. Isso é uma tarefa dos dirigentes esportivos. Mas eu te pergunto: como se pode cuidar desse material humano?

Terra: Qual a diferença entre o Brasil e a Argentina neste processo de formação de jogadores?
Rubén Magnano: A estrutura da Argentina está muito bem conceituada por algo que o Brasil tem que ter novamente, porque já teve: que é o nome do clube. Os times na Argentina têm muito nome e por isso lá estão sempre surgindo novos talentos. Como falei anteriormente, 90%do trabalho na base é dos clubes e não das confederações.

Terra: Como será o aproveitamento destes meninos nas próximas competições com a Seleção adulta?
Rubén Magnano: Devemos ficar calmos, pois não temos pressa. Precisamos dos resultados nas categorias adultas e não podemos nos precipitar. Vamos ver o que podemos fazer para substituir alguns nomes que estão na Seleção principal há algum tempo e ainda não temos certeza que podemos fazer isso com qualidade. Estes meninos precisam ganhar certa experiência na base para conseguirmos colocá-los sem medo na Seleção principal.

Terra: Recentemente, o senhor acompanhou um campeonato brasileiro de base no Acre, qual foi o objetivo desta viagem?
Rubén Magnano: Não sei se minha presença lá (no Acre) ajuda. Mas eu fico seguro que ninguém vai falar pra mim como é jogar no Acre, porque eu vi e vivi esta experiência. Agora eu sei como é um torneio brasileiro de base da segunda divisão. Sei como são as coisas que se vivem no Acre, como é a realidade lá. E mesmo assim eu vi alguns meninos com algum possível potencial para o futuro.

Mundial

Terra: Como o grupo sentiu a sofrida derrota para os Estados Unidos?
Rubén Magnano: Tivemos uma grande chance e uma oportunidade de vencer e que talvez mudasse nossa história na competição. Nossa ideia era ficar em primeiro ou segundo no grupo e acabamos ficando em terceiro e sabíamos que o Mundial não seria fácil. Mas a partida (contra os EUA) me deixou com um sabor especial. Apesar de cairmos naquela ocasião, creio que a imagem que nossa equipe mostrou para o mundo foi muito positiva, com um basquete solidário e agressivo, sem medo de enfrentar qualquer adversário.

Terra: E o jogo contra a Eslovênia? O que deu errado?
Rubén Magnano: Nos três jogos em que perdemos, faltou a última pegada. Contra a Eslovênia estávamos perdendo por 15 pontos e chegamos a empatar o jogo faltando três minutos no último quarto. Mas não tivemos esse "punch", essa última força para conseguirmos a vitória que talvez mudasse nosso rumo na competição.

Terra: Como foi a sensação de enfrentar a Argentina nas oitavas de final, um time praticamente montado pelo senhor?
Rubén Magnano: Era um jogo diferente, todos sabiam. Há pouco tempo atrás eu dirigia aqueles jogadores e tive momentos especiais ao lado deles, como o ouro olímpico em 2004, em Atenas. Mas no momento em que começou o jogo, esqueci totalmente de tudo e pensei somente na vitória brasileira. Durante o jogo ficou claro que a partida iria ser decidida também pelo fator psicológico.

Terra: Qual sua análise dos desempenhos dos principais jogadores da Seleção Brasileira no Mundial, Huertas, Leandrinho, Varejão e Tiago Splitter?
Rubén Magnano: Tanto Huertas como Leandrinho fizeram um bom Mundial. Eu não concordo com as criticas que foram feitas ao Leandrinho, pois ele se superou e jogou da melhor maneira para a equipe, mudando suas características de jogo em prol do grupo.

Já o Tiago e o Anderson chegaram ao Mundial com apenas 50% de suas capacidades. Eles treinaram juntos no máximo sete vezes e o Splitter só jogou três jogos de preparação. Isso prejudicou muito o desempenho dos dois na competição. Acho que se eles não tivessem tido o problema físico mudaria e muito o desempenho de ambos na competição.

Terra: E em relação ao Nenê? Como foi o momento em que ele foi cortado?
Rubén Magnano: O momento em que ele deixou a Seleção foi muito ruim e não tivemos tempo de conversar muito. Durante toda a preparação, fizemos uma aposta na recuperação dele e eu particularmente tinha muitas ilusões que ele poderia jogar para nós. Depois desse episódio, Nenê pode se afastar da equipe e, sobre sua volta, ainda estou avaliando a situação. Neste momento não posso te dizer nem que sim e nem que não.

Rotina no Brasil e NBB

Terra: Como está sendo a sua rotina, agora que mora definitavemente no Brasil?
Rubén Magnano: Estou tratando de assistir jogos do NBB, jogos do Paulista. Além disso, procuro ver alguns jogos das categorias de base. Já quando estou em casa assisto jogos da NBA e Liga Espanhola para ver os brasileiros em ação. Outra coisa que faço bastante é viajar. Sempre vou a lugares diferentes e agora estou tendo a oportunidade de conhecer realmente toda a base brasileira.

Terra: Como o senhor vê o nível técnico apresentado na Liga Nacional de Basquete?
Rubén Magnano: Claro que o êxodo de jogadores para o exterior enfraquece um pouco a Liga. Mas também algo importante é que alguns outros jogadores de idade intermediária estão tendo a oportunidade de aparecer na Liga. Uma quantidade de jovens está ganhando mais tempo de quadra e isto é muito positivo para o progresso do basquete brasileiro.

Magnano é o técnico da Seleção adulta e também é responsável por trabalhar a base brasileira
Magnano é o técnico da Seleção adulta e também é responsável por trabalhar a base brasileira
Foto: AP
Fonte: Redação Terra
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