PUBLICIDADE

Sina de time de basquete é perder para os Globetrotters

13 fev 2009 - 13h10
(atualizado às 16h22)
Compartilhar

Red Klotz não foi ao jogo em White Plains, Nova York, na noite anterior, e por isso não viu seu Washington Generals montar outra feroz reação diante do Harlem Globetrotters apenas para sair derrotado no final, mais ou menos pela décima milésima vez consecutiva.

» Veja fotos dos Globetrotters

Klotz estava em Margate, na casa de tijolos em que vive há 47 anos e serve como sede real dos perambulantes Washington Generals, equipe que ele fundou em 1952 e cujo nome celebra Dwight Eisenhower. Alguém com certeza telefonaria se seu time tivesse vencido.

"Não é questão de vencer e perder", disse Klotz, 88, na quarta-feira. Ainda bem. Klotz estava em um quarto repleto de recordações de alguém que viajou o mundo mesmo sem ser um Globetrotter. Ele aparece em companhia de famosos jogadores de basquete, políticos e até papas, nas fotos. Há reportagens emolduradas sobre ele, e as estantes contêm cadernos repletos de recortes de jornais.

Do lado de fora, as ondas chegam à areia em sucessão ininterrupta, nunca computadas e rapidamente esquecidas - como as derrotas do Generals.

Klotz se acomodou há muito a esse legado de basquete - o de vítima, perdedor, coadjuvante. Ele foi o fundador, jogador (até o final dos anos 80) e técnico (até 1995) de um time que provavelmente tem o pior histórico de qualquer esporte.

Enquanto o Globetrotters se prepara para uma semana de apresentação em Nova York e na região, entre as quais duas no Madison Square Garden sexta-feira, Klotz se declara feliz por ver o Generals de volta aos velhos uniformes verdes e amarelos.

Quando Kurt Schneider assumiu a presidência do Globetrotters, em 2007, pediu a Klotz que o nome de seu time voltasse a ser Washington Nationals, e não New York Nationals, New Jersey Reds, Boston Shamrocks ou qualquer outro apelido criado por Kloz a pedido da organização ao longo dos anos.

Scheneider diz que "é esse o time que joga contra eles desde o começo dos anos 50, e ao longo dos 60 e 70. São quase tão importantes quanto o Globetrotters na cultura pop, se bem que por motivos diferentes. Um vence e um perde".

O Globetrotters e o Generals têm um longo relacionamento, muitas vezes mal compreendido. São duas empresas separadas, que se enfrentam em quadra por força de um contrato. John Ferrari, o genro de Klotz, é o diretor do Generals, e sua tarefa é encontrar antigos jogadores de basquete universitário não muito famosos, dispostos a servir de escada aos truques já tradicionais do Globetrotters.

Os times não viajam juntos. Por trás do ginásio, no jogo da noite de terça, havia dois ônibus estacionados: o veículo de viagem do Globetrotters, pintado em cores brilhantes, e um ônibus fretado comum para o Generals.

E Klotz diz que nunca pediram que seu time perdesse. "De forma alguma", ele afirma. "Em nenhum momento. Nenhum dos proprietários me disse para perder. Os obstáculos que eles enfrentam são problema deles. Enfrento o Harlem Globetrotters há mais de 50 anos mas nada sei sobre os negócios deles. Nem quero saber. Tenho o meu time".

Klotz, que jogou como armador de 1,71 metro e boa pontaria por sua escola de segundo grau e pela Universidade Villanova, conquistou um campeonato da NBA jogando pelo Baltimore Bullets em 1948. (Ele continua em forma, e ocasionalmente brinca em quadra e acerta bom número de arremessos, ainda que não esteja jogando no momento porque deslocou o ombro arremessando no beisebol.)

Quando enfrentou o Globetrotters pela primeira vez, como parte do Philadelphia Sphas, na American Basketball League, nos anos 40, sua equipe venceu.

"Fiquei driblando para queimar o tempo, como Marques Haynes", relembra Klotz. Ele liderou times que venceram o Globetrotters em duas outras ocasiões, e por fim recebeu um telefonema de Abe Saperstein, então proprietário do Globetrotters.

"Ele me disse que queria que eu montasse um time bom para enfrentá-los todas as noites", conta Klotz. "Eu respondi que nós os derrotaríamos; ele rebateu dizendo que eu podia tentar".

Oficialmente, isso aconteceu uma vez; nas contas de Klotz, foram duas. O jogo controverso foi disputado em 1962, e o placar da quadra indicava vitória do Globetrotters enquanto o dos mesários dava a vitória ao Generals.

Em 1971, em Martin, Tennessee, o Generals ¿jogando com o nome de New Jersey Reds- venceu na prorrogação. Klotz acertou seu arremesso e Meadowlark Lemon perdeu o dele. O Generals celebrou no vestiário com refrigerantes despejados sobre os jogadores. Para os torcedores, diz Klotz, era como se seu time "tivesse matado o Papai Noel".

"Derrotá-los é a pior coisa que pode acontecer", diz. A linha que ele percorre é tênue. De um lado há o desejo de vencer e conquistar o respeito da audiência, permitindo aos jogadores mostrar talento que lhes valha contratos melhores no basquete -até mesmo com o Globetrotters, o que acontece bastante. Por outro, é preciso reconhecer porque os torcedores estão lá: para assistir ao Globetrotters, não ao Generals.

Os times exibem certo nervosismo quanto à legitimidade de seus jogos. O maior truque é fazer com que o Globetrotters pareça invencível mas o adversário pareça formidável.

O General é bom para o Globetrotters, e o Globetrotters foi bom para Klotz. Não existe dúvida de que ele se considera como vencedor. "Foi a maior experiência da minha vida", diz, "e não a trocaria por nada". Lá fora, as ondas rolavam até a praia, de novo, de novo e novo.

Washington Generals é o maior perdedor dos Globetrotters
Washington Generals é o maior perdedor dos Globetrotters
Foto: The New York Times
The New York Times
Compartilhar
Publicidade