Juiz que expulsou Seedorf é jornalista, tímido e fã de Elton John
Muito antes de expulsar Clarence Seedorf de Botafogo x Madureira por ouvir o termo "palhaçada", Philip Bennett já sonhava com o apito. Aos 7 anos, em 1993, no Maracanã, enquanto mais de 101 mil torcedores seguiam Romário e toda a Seleção Brasileira em jogo marcante contra o Uruguai, pelas Eliminatórias, Phillip, nas arquibancadas, estava obcecado. De binóculos, fitava o árbitro peruano Alberto Tejada insistemente. Nascia ali, segundo ele, a paixão que se transformaria em fama por um quase chocante cartão vermelho ao educado meia botafoguense nascido no Suriname.
Engana-se quem pensa, entretanto, que Philip Bennett, 27 anos, possa ser um sujeito que buscava a fama por meio da expulsão. Ele é descrito como um sujeito tímido e sério, segundo atesta PC Guimarães, seu professor na universidade Facha, onde Philip se formou jornalista há cinco anos. "Francamente, o estilo dele é sério, cara simples e muito humilde. Não tem nada de picaretagem", acrescenta PC, que curiosamente é Botafogo, ao Terra.
Enquanto cursava jornalismo, Philip Bennett já se formava juiz de futebol. Aos 18 anos, fez um pacto com o pai: passou no vestibular e, em troca, teve pago seu curso de arbitragem na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Naquele momento, se questionava como apitar, afinal tinha um clube do coração. "Ele nunca revelou o time na faculdade", confirma PC Guimarães, seu professor universitário. Graças a ele, a história de Philip foi retratada no Jornal Laboratório, de âmbito acadêmico.
Philip se espelha em Simon e tem respaldo de dirigentes do apito
Carlos Eugênio Simon é a principal referência do enérgico árbitro de nome britânico. Por pelo menos duas ocasiões, Philip Bennett procurou Simon para conversar e tirar fotos. Em comum entre eles, além do apito, a formação de jornalista. "Nos encontramos, batemos foto no Maracanã. Ele foi até o vestiário conversar comigo", explica Simon, que opina sobre Seedorf: "ele foi preciosista, não deveria expulsar. Exagerou", conta o juiz de três Copas do Mundo.
Bennett, que estreia pela primeira divisão do Campeonato Carioca em 2013, também se inspira em Simon para tentar realizar um sonho: apitar a final de Copa que, ele esperava, pudesse ser 2014, mas não se cumpriu. Punido pela expulsão polêmica de Seedorf, ao menos, ele não deverá ser. Jorge Rabello, presidente da Comissão de Arbitragem do Rio de Janeiro, deu respaldo a ele. A atuação no jogo do último domingo foi definida como "excelente" por Rabello.
Desde o cartão vermelho, Philip se reuniu com o próprio presidente da Comissão e, abordado por jornalistas, disse que não poderia dar entrevistas. Em seu Facebook, recebeu uma série de ofensas e deixou à mostra foto ao lado de Romário, o que deu margem a comentários sobre uma eventual paixão por Flamengo ou Vasco. No acervo pessoal, o árbitro ainda conserva foto com Eduardo Viana, ex-presidente da Federação do Rio, em sua formatura. Desde muito criança, na realidade, já posava para fotos com uniforme de juiz.
A música é uma de suas paixões fora do esporte e, além de fotografias, Philip Bennett também conserva com carinho uma camisa da Seleção Brasileira autografada pelo cantor inglês Elton John em show realizado há três semanas em Porto Alegre. O mês de março, que se iniciou com um momento marcante para o árbitro, se aproxima do fim com turbulência por conta do vermelho a Seedorf.