PUBLICIDADE
Logo do Seleção Brasileira

Seleção Brasileira

Favoritar Time

Turrão e ultrapassado? Novo Dunga é moderno e segura nervos

19 nov 2014 - 11h38
(atualizado às 11h41)
Compartilhar
Exibir comentários

Turrão, ultrapassado, paranoico, agressivo? Nada disso. O Dunga que termina 2014 com 100% de aproveitamento à frente da Seleção Brasileira parece outra pessoa em comparação à sua primeira passagem como treinador, entre 2006 e 2010. Mais maduro aos 51 anos e "escaldado" após as críticas que sofreu depois da Copa do Mundo da África do Sul, o técnico tem se mostrado atualizado dentro de campo e controlado fora dele. De parecido, somente os ótimos resultados no gramado.

Engana-se quem pensa que a face que Dunga vem demonstrando se deve somente à boa fase da Seleção, que venceu as seis partidas com ele. Não é porque o time teve resultados positivos que ficou imune a polêmicas: nas três viagens, o treinador precisou contornar situações delicadas. E nos casos do corte de Maicon, da briga com a comissão técnica da Argentina e das reclamações de Thiago Silva, o comandante contornou os problemas sem se descontrolar.

Sem "patadas" e calmo para controlar turbulências

Dunga sabe que, em sua primeira passagem, a maior parte das críticas sobre ele não se devia aos resultados de campo, mas à sua postura fora dele, tanto pelo péssimo relacionamento com a imprensa quanto pelo ambiente quase militar imposto à Seleção. Quatro anos depois, o treinador parece ter entendido que passar uma imagem mais serena publicamente é quase tão importante quanto vencer partidas para evitar desgastes no cargo mais importante do futebol brasileiro.

Exemplos não faltam para retratar a mudança. O único descontrole aconteceu quando o técnico foi questionado sobre o gesto que fez para a comissão técnica da Argentina, em outubro, esfregando o nariz e gritando "tu é igualzinho!" – uma possível referência ao uso de cocaína pelo ídolo rival Maradona. Na ocasião, Dunga negou, dizendo que o gesto foi por causa da poluição na China. Saiu pela tangente, mas evitou respostas atravessadas e mal-educadas – algo bastante comum em seu primeiro comando. O assunto gerou um ligeiro desentendimento com um repórter da Globo, mas o problema também foi contornado.

Quando Maicon foi cortado por indisciplina e Thiago Silva se disse chateado pela falta de apoio no grupo, Dunga também foi exemplar. Sem ironias ou grosserias e sem brigar com a imprensa, deu seu recado de forma clara: na Seleção existe uma hierarquia e um método que compensa quem trabalha duro no dia a dia. Ele próprio admite que amadureceu.

"Nós melhoramos a cada dia, hoje eu sou melhor do que ontem", disse. "A cada dia a gente tem que ir se aprimorando, aprendendo com as outras pessoas, e principalmente, além de aprender, tem que colocar em prática. E aí é mais difícil, nem todo mundo consegue. Nesse tempo (quatro anos), minha vida foi futebol. Nós vivemos de informação e, quanto mais informação você tem e coloca em prática, mais você vai crescer".

Treino é jogo: atividades criativas e em alta velocidade

<p>Agora Dunga é mais ativo nos treinos e cobra muito dos jogadores</p>
Agora Dunga é mais ativo nos treinos e cobra muito dos jogadores
Foto: Bruno Domingos / Mowa Press / Divulgação

Quem se acostumou com os treinos de Felipão na Seleção, percebeu de imediato a mudança de foco com Dunga no comando. Enquanto Scolari priorizava atividades leves, com muitos trabalhos de fundamento e coletivos, o novo técnico quer que os atletas treinem como se estivessem disputando uma partida competitiva. As atividades nunca duram menos de 1h30 e são feitas em velocidade e ritmo altíssimos, sempre com os gritos do treinador como pano de fundo.

Nos seis treinos que teve para trabalhar com a Seleção para as partidas contra Turquia e Áustria, chamou atenção a diversidade de atividades. Dunga trabalhou toque de bola em campo reduzido, contra-ataques em altíssima velocidade e marcação de pressão intensa: características usadas pelos principais times do mundo atualmente. Os próprios jogadores admitiram que a carga de treinos foi pesada – Thiago Silva, que voltou a lesão há pouco tempo, chegou a dizer que estava difícil acompanhar o ritmo.

Em campo, o trabalho deu frutos, mesmo ainda no início. O Brasil de Dunga tenta trabalhar mais a bola no meio-campo, usa menos lançamentos da defesa e tem muito mais movimentação ofensiva, com quase nenhum jogador de frente guardando posição. Ainda falta melhorar – o time ainda depende largamente de contra-ataques, e sofre contra marcações fechadas como foi a da Áustria –, mas a Seleção já dá passos rumo a um estilo mais completo, que não se apoie tanto nas individualidades.

"Tentamos montar os treinamentos da melhor maneira possível, com muita eficiência e qualidade, porque aqui estamos trabalhando com jogadores de alto nível, e o treinamento tem que ser dessa forma. É treinamento de muita qualidade, eficiência, e trabalhar o máximo possível perto do jogo. Quanto mais eu instigar esses jogadores, mais eles vão ter o rendimento", disse Dunga.

Um claro contraste com a gestão de Felipão – que, antes da semifinal da Copa contra a Alemanha, fez só um coletivo, e sem testar Bernard entre os titulares, para "esconder o time" da imprensa. Pode dar certo ou errado, mas ninguém pode criticar Dunga por ser desatualizado e não tentar renovar.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade