PUBLICIDADE

Brasileiro supera solidão e preconceito para chegar a MLB

4 ago 2013 - 11h09
(atualizado às 13h34)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>André Rienzo, acaba de estrear como arremessador do Chicago White Sox, sendo 2º brasileiro a jogar por uma equipe da Major League Baseball</p>
André Rienzo, acaba de estrear como arremessador do Chicago White Sox, sendo 2º brasileiro a jogar por uma equipe da Major League Baseball
Foto: AFP

Desde meados do século passado, quase todos os aspectos da cultura dos Estados Unidos são rapidamente assimilados e celebrados mundialmente. Uma das raras exceções é o beisebol. Apesar de países como Japão, Cuba e República Dominicana terem equipes com longa história, o esporte conhecido como "o passatempo americano" ainda é estranho para a maior parte da população mundial.

Agora, o Brasil está começando, pouco a pouco, a ocupar espaço na tão disputada modalidade nos campos dos EUA, um feito quase tão espantoso quanto se um americano fosse contratado para jogar em um dos principais times de futebol brasileiro. André Rienzo, 24 anos, acaba de estrear como arremessador do Chicago White Sox, sendo o segundo brasileiro a jogar por uma equipe da Major League Baseball.

O precursor foi Yan Gomes, que, coincidentemente, enfrentou Rienzo na estreia contra o Cleveland Indians, na última terça-feira. Um dia depois da estreia que impressionou a imprensa esportiva americana, o paulista de Atibaia, em entrevista exclusiva ao Terra, falou sobre o desafio de ser um estrangeiro na meca do beisebol, a solidão imposta pela rotina de treinamento e as dificuldades do esporte no Brasil.

Confira a entrevista exclusiva com André Rienzo:

Terra - Por que você se sentiu atraído pelo beisebol em vez de por outros esporte mais praticados no Brasil?

André Rienzo -

 Comecei a jogar beisebol porque meus dois irmãos mais velhos praticavam o esporte, minha mãe jogava softbol (versão feminina do beisebol). Então, no começo, eu fui meio forçado a praticar o esporte, pois todos finais de semana eles tinham treinos. Desde os quatro anos, eu era praticamente obrigado a acompanhá-los. Depois, comecei a notar que meu irmão do meio era um excelente jogador e eu queria ser ainda melhor que ele.

Terra - Você teve de deixar a casa da família ainda muito jovem para ir morar no Centro de Treinamento de Ibiúna e depois ir para a academia do Chicago White Sox, em 2007, na República Dominicana. Isso foi difícil para você?

Rienzo - 

Quando saí de casa para Ibiúna eu tinha 15 anos e gastava o pouco dinheiro que tinha para voltar para casa de ônibus todos os fins de semana. Mas o pior momento da minha vida foram os dois anos na República Dominicana. Não tinha nada para fazer fora jogar beseibol, ficava isolado, no meio do nada, e nem pude conhecer as belezas do país. Além disso, dava muita saudade da família. Foi realmente muito difícil.

<p>Em seu primeiro jogo na MLB, Rienzo encarou de frente o compatriota Yan Gomes, que acabou rebatendo uma bola arremessada por ele</p>
Em seu primeiro jogo na MLB, Rienzo encarou de frente o compatriota Yan Gomes, que acabou rebatendo uma bola arremessada por ele
Foto: AP
Terra - E o que o motivou a fazer tantos sacrifícios pelo beisebol?

Rienzo -

 O que fez eu prosseguir foi o amor pelo jogo, pois é difícil mesmo. Tenho amigos que desistiram do beisebol porque não conseguiram lidar com a solidão. Mas parece que estou sendo recompensado e estou vivendo o meu sonho, que é jogar beisebol profissional.

Terra - Deve ser difícil ser um atleta estrangeiro na terra dos melhores da modalidade. Você foi bem recebido nos EUA?

Rienzo - 

O começo nunca é fácil e não vou negar que há preconceito, e mesmo racismo, nas ligas menores contra os jogadores que vêm de outros países.  Algumas pessoas não gostam de quem é latino e nos tratam mal. Agora, na MLB, é um mundo completamente diferente. Todos me tratam bem porque são veteranos, têm experiência de vida e não se sentem ameaçados. Quando cheguei na MLB, a primeira coisa que me disseram é que sabiam que eu estava nervoso, que todos passavam por isso, mas que era para eu fazer o que sabia fazer bem. E os fãs só me mandam mensagens positivas.

Terra - E como é a sua vida fora do campo nos Estados Unidos?

Rienzo - 

Não tenho muita vida fora do campo e não sobra tempo para hobbies. Chego no campo às 14h e treino até a meia-noite, todos os dias. Só tenho uma folga por mês. Nos Estados Unidos sou sozinho, sem família e sem amigos, fora uns poucos companheiros de equipe. Sinto falta da família, dos amigos e do churrasco brasileiro. Mas é vida de primeiro mundo e não há comparação com as outras experiências que tive.

Terra - Em 2012 você foi suspenso por 50 partidas por motivo de doping. O que aconteceu exatamente?

Rienzo -

 Eu jamais arriscaria minha carreira com uma coisa dessas. O que aconteceu é que eu comprei um suplemento pelo Brasil, porque comprando de lá custava US$ 60, enquanto que nos EUA custava US$ 100. Fui pelo mais barato e acabou me custando caro, pois não tinha o certificado da MLB. Agora só compro suplemento aprovado pela MLB.

Terra - Como foi enfrentar o outro brasileiro da Liga, Yan Gomes, na sua partida de estreia? Vocês se comunicaram durante a partida?

Rienzo - 

Foi um prazer imenso jogar com outro brasileiro aqui nos EUA e realmente espero que muitos outros ainda venham para cá. Eu e o Yan trocamos mensagens e conversamos antes e depois do jogo. Durante o jogo nos comunicamos com uma troca de sorrisos, como aconteceu depois da rebatida que sofri dele na 3 ͣ entrada. Nós já nos conhecíamos superficialmente, mas agora está se desenvolvendo uma amizade entre a gente.

<p>Rienzo defendeu a Seleção Brasileira no World Baseball Classic, em março deste ano</p>
Rienzo defendeu a Seleção Brasileira no World Baseball Classic, em março deste ano
Foto: AP
Terra - Você tem sido muito elogiado pela imprensa esportiva americana, que chamou a atuação na estreia de "impressionante".  Você acha que causou a mesma impressão dentro do Chicago White Sox e tem lugar já garantido com o time ou pode voltar para o Triple A para ganhar mais experiência?

Rienzo -

Até segunda ordem, eu fico com o White Sox e não há planos de voltar para o Triple A. Quero ficar por aqui por muito tempo, e minha vida deve melhorar bastante. Se tudo der certo, terei um futuro muito mais glamouroso adiante do que a realidade jogando nas Minor Leagues.

Terra - Como você avalia a situação do beisebol brasileiro?

Rienzo - O beisebol no Brasil não conta com incentivo algum. Quando fui participar de um campeonato sul-americano, na Argentina, no ano passado, tive de pagar minhas despesas. A confederação brasileira tenta, mas não recebe recurso algum. É difícil correr atrás de uma coisa, sem receber nada de volta. Mesmo assim, há excelentes jogadores que têm potencial para jogar na MLB, como Paulo Orlando, Thyago Vieira e Murilo Gouvea. O Luiz Gohara, apesar de ser muito jovem, já é bastante promissor.

Terra - Apesar de sua vida ser toda ao redor de um esporte tão pouco popular no Brasil, você curte o mais brasileiro dos esportes, o futebol?

Rienzo -

 Claro que sim. Adoro futebol. Torço para o meu "pobre" Palmeiras e vou ser sempre leal ao meu time.

Fonte: Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade