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Jogos Inverno 2010

Caçadora de receitas, brasileira tenta se superar em Vancouver

14 jan 2010 - 09h58
(atualizado às 11h59)
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Julio Simões

Depois de três Jogos Olímpicos (dois de verão e um de inverno), a esquiadora Jaqueline Mourão já sabe exatamente o ambiente e a rotina que vai encontrar em Vancouver: atletas de diversos países reunidos em busca de medalhas, uma Vila Olímpica tão animada quanto a de verão e a bela paisagem que a neve pode proporcionar. Porém, ela quer mais do que isso, quer melhorar o 67º lugar alcançado em 2006, na Olimpíada de Turim, já que agora está se dedicando integralmente ao cross country.

Porém, entre os intensos treinos e as competições que têm disputado na Europa, Jaqueline mostra um pouco de seu lado "cozinheira" e pratica as receitas que aprendeu com outros atletas, em competições passadas. Para ela, trocar receitas é a melhor forma de integração e uma das maneiras de aproveitar tudo o que os Jogos têm a oferecer. "Cada vez que eu preparo estas receitas, me lembro da pessoa e dos bons momentos vividos", justifica a atleta, que já separa algumas receitas brasileiras para trocar em Vancouver.

Nesta entrevista exclusiva ao Terra, Jaqueline Mourão ainda conta como foi a preparação para a competição mais importante dos esportes de neve e a compara com a Olimpíada de Verão, na qual já esteve por duas vezes (Atenas e Pequim), quando ainda competia na modalidade Mountain Bike. "Espero que o resultado de Vancouver seja melhor que o de Turim", deseja ela, que compõe a equipe brasileira ao lado de outros quatro atletas.

Terra: Como está a sua expectativa para os Jogos de Inverno 2010?
Jaqueline Mourão: Vancouver vai ser uma Olímpiada especial para mim. A expectativa é muito grande porque esta foi a primeira temporada em que me dediquei 100% ao cross country e já colhi muitos bons resultados. Estou vendo minha melhora a cada competição, então acredito que vai ser muito legal como experiência. Em Turim 2006, na minha primeira Olimpíada (de Inverno), eu tinha apenas três meses de cross country, e agora estou bem feliz de ter me dedicado mais e estar conseguindo melhores resultados. Isso motiva muito, não vejo a hora de começar logo.

Terra: O fato de estar se dedicando integralmente ao cross country mudou seu desempenho?
Jaqueline Mourão: Com certeza. O cross country é um esporte muito técnico, então a maior parte do tempo a gente trabalhou esse lado, já que a parte física eu tinha do mountain bike. Então foi mais a transferência da parte técnica para o esqui, que é um esporte que necessita muita dedicação para cada movimento de braço, de abdômen, das pernas, da transferência de peso de uma perna para a outra, tudo isso sem contar as descidas. Fora o fato de estar competindo com atletas que começaram no esporte com três anos de idade, que tiveram contato com a neve ainda novas. Então a decisão de me dedicar 100% foi porque eu precisava saber até onde eu poderia chegar, e com esta dedicação eu poderia melhorar essa parte técnica, fazer muita filmagem e análise de movimento, e isso tem me ajudado bastante.

Terra: Há quanto tempo você está no cross country?
Jaqueline Mourão: Comecei três meses antes de Turim. Em setembro de 2005, decidi que iria tentar classificar para a Olimpíada de 2006 e, a partir daí, fiquei mesclando o mountain bike e o esqui até a Olímpíada de Pequim 2008. Só depois, em setembro de 2008, passei a me dedicar integralmente ao cross country.

Terra: Em 2006, você terminou a prova em 67º lugar. Como foi?
Jaqueline Mourão: Naquele ano, o objetivo era completar a prova e conseguir o melhor resultado possível considerando toda a falta de experiência em Olímpiada (de Inverno). Com certeza, naquela prova eu era a atleta com menos horas de esqui nos pés, mas foi uma ótima experiência, um grande desafio estar nos Jogos em tão pouco tempo e ainda conseguir completar sem ser a última colocada. Foi uma boa experiência para esta próxima Olímpiada que vou enfrentar. Já sei o que vou enfrentar e agora a estrutura vai ser outra, com certeza.

Terra: E agora, acha que dá para melhorar esse desempenho em 2010?
Jaqueline Mourão: Com certeza. Eu acredito bastante. No cross country, existe um sistema de pontuação chamado pontos da FIS (Federação Internacional de Esqui), que sempre é calculado com relação ao tempo em que a atleta ficou atrás do primeiro colocado e as penalidades. Achei muito interessante, porque no mountain bike é diferente. Lá, as provas tinham os mesmos pontos, fossem elas disputadas no Brasil ou no Canadá. Em 2006, por exemplo, fiz 230 pontos no FIS em Turim e hoje estou girando em torno dos 120, o que representa uma melhora de 100 pontos. Isso motiva muito. Espero que o resultado de Vancouver seja melhor que o de Turim.

Terra: A poucas semanas dos Jogos, o que falta completar na preparação?
Jaqueline Mourão: Agora, estamos em uma fase mais específica. Fiz uma maratona de provas aqui na Europa desde novembro até o finalzinho do ano passado e agora estamos na fase de colhimento mesmo. Vamos fazer um bloco de duas semanas de treinamentos longos e depois especificar com exercícios de velocidade para ter um pico de performance no dia. Dentro disso, ainda tem mais uma participação em Copa do Mundo uma semana antes de Vancouver, o que vai ser um aquecimento para os Jogos.

Terra: Depois de três Olimpíadas, qual o sentimento nesses momentos pré-competição?
Jaqueline Mourão: Estou ansiosa para começar. Representar meu país é sempre uma honra para mim, mas eu não esperava chegar a quatro Olímpiadas. Lembro quando eu sonhava com a minha primeira Olímpíada em Atenas e passei quatro anos buscando essa vaga. Hoje, estou muito feliz em ter conquistado tudo isso e acho que é muito legal esse exemplo, para mostrar que é possível conquistar quando se coloca bastante dedicação e vontade naquilo que se quer. Então estou ansiosa sim e esperando o melhor resultado possível para o Brasil. Acredito que nossa equipe também está se esforçando ao máximo para conseguir representar o país da melhor maneira e mostrar que não é porque não temos neve que não podemos fincar nossa bandeira lá.

Terra: Tirando a parte óbvia, há muita diferença em disputar uma Olímpíada de Inverno e de Verão?
Jaqueline Mourão: Não. A estrutura é a mesma, a vila é a mesma, toda a parte de credencial e segurança é a mesma. A diferença é que a de Inverno tem menos atletas e o contato é maior, principalmente porque você fica mais na vila. E, também, claro, a neve, que dá um clima especial e é lindo.

Terra: E qual das vilas é a mais animada?
Jaqueline Mourão: Acredito que a de Verão. Tem muito mais gente e faz sol, o que facilita a integração. No final, aliás, sempre tem a festa no refeitório da Vila. Em Pequim, lembro que tinha muita reunião nos prédios dos países, onde todos se juntavam, trocavam roupas e objetos, interagiam. Outra diferença é que nos Jogos de Inverno tem uns países mais "frios", que não se misturam muito.

Terra: E quais são os grandes adversários do Brasil?
Jaqueline Mourão: Acredito que os adversários diretos do Brasil serão Armênia, Turquia, Bulgária, além de outros países bálcãs e que não tem tanta tradição no esporte. Já o favoritismo da prova estará com a Noruega, país que é referência no cross country, e o Canadá, que estará disputando em casa, além de Suécia e Finlândia, que também são fortes.

Terra: Mudando de assunto um pouco, há uma seção de culinária em seu site oficial. Já separou uma receita especial para levar para Vancouver?
Jaqueline Mourão: Na verdade, as receitas me vêm naturalmente. Considero essas receitas como uma forma de troca, de interagir. Uma pessoa, quando te passa uma receita, está passando também um pouco dela. Na Vila Olímpica não podemos cozinhar, temos quatro tipos de restaurantes - cozinha internacional, asiática, italiana e canadense - à disposição, mas vou estar antenada para qualquer coisa relativa a isso. Lá, eu sou uma caçadora de receitas, o prato a gente faz aqui em casa. (risos)

Terra: E o papel da culinária nas provas? Isso ajuda a relaxar, descansar e, quem sabe, até se concentrar?
Jaqueline Mourão: É mais uma maneira de interagir mais com as pessoas. As receitas vêm espontaneamente de amigos que fiz nesta minha trajetória de competições. Cada vez que eu preparo estas receitas, me lembro da pessoa e dos bons momentos vividos. E isso me ajuda a relaxar e a pensar em outras coisas nos momentos entre os treinos.

Terra: E tem alguma superstição para os dias de prova?
Jaqueline Mourão:

Conheça o esqui cross country:

Sempre levanto com o pé direito. Isso acontece no dia a dia, mas presto mais atenção quando é dia de prova. Nestes momentos, se torna um ritual.

Fonte: Especial para Terra
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