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Jogos Inverno 2010

Canadá e Rússia fazem duelo inevitável no hóquei

24 fev 2010 - 18h21
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Kevin Paul Dupont
Do Boston Globe

Os canadenses reencontraram parte do talento que pareciam haver perdido no hóquei, na noite de terça-feira, destroçando impiedosamente a seleção da Alemanha por 8 a 2. O time parecia confiante nos passes e arremessos, especialmente os arremates contra o goleiro Thomas Greiss, e em suas manobras defensivas; o goleiro (Roberto Luongo) chegou a se levantar da meta e beber água em determinados momentos do jogo, tamanha a fraqueza do ataque alemão, que produziu 23 arremates mas apenas alguns poucos que mereceriam registro estatístico sério.

A vitória, conquistada apenas 48 horas depois da derrota do Canadá diante da seleção dos Estados Unidos por 5 a 3, levou a equipe canadense às quartas de final, nas quais hoje enfrentará os poderosos - e descansados - russos. Assim, embora a fácil vitória conquistada na noite de terça no Canada Hockey Place tenha poupado a arena de uma possível mudança de nome por usucapião, os canadenses agora enfrentam um rival mais feroz; a seleção russa, liderada pelo superastro Alexander Ovechkin, tem como peça principal um ataque visto como o mais temível do torneio.

"Mais cedo ou mais tarde iria acontecer", disse o pivô e astro canadense Sidney Crosby, um dos sete jogadores que marcaram contra a Alemanha. "Vamos jogar o nosso máximo. Não acredito que eles relaxem no rinque, e garanto que nós tampouco o faremos".

A verdade é que quase todo mundo, de Moosejaw a Moscou, tinha calculado que a final do torneio de hóquei dos jogos olímpicos do inverno, no domingo, seria disputada entre o Canadá e a Rússia. Mas um dos dois times terá de fazer as malas hoje à noite, eliminado de maneira decepcionante, se não devastadora, nas quartas de final. Para que os canadenses saiam vitoriosos, terão de jogar mais do que mostraram contra a Alemanha, e muito melhor do que em sua derrota para os norte-americanos, que serão lembrados para sempre como a casca de banana na qual o Canadá tropeçou em seu caminho para a final, caso os canadenses não consigam chegar à disputa do ouro.

"Tivemos muitas chances de gol contra os Estados Unidos", apontou o atacante canadense Patrick Bergeron, pivô do Boston Bruins, na NHL, e reserva na equipe olímpica canadense. "Acredito que não tenhamos conversado o suficiente no gelo, e que isso tenha nos prejudicado. Contra a Alemanha, já nos saímos melhor, e teremos de melhorar ainda mais diante da Rússia, que é uma grande seleção. Temos a obrigação de jogar bem".

Antes de os canadenses encararem os russos, a seleção dos Estados Unidos enfrentará a Suíça, pela segunda vez no torneio. Antes da partida canadense, na terça, a Suíça derrotou a Bielorrússia por 3 a 2, o que levou os suíços, vistos como azarões, às quartas de final, dando-lhes nova oportunidade de mostrar que são capazes de jogar bem contra as equipes de elite. O ataque suíço não é dos mais potentes, e eles tiveram momentos de pânico em sua defesa na partida de estreia que travaram contra os Estados Unidos, mas provaram ao longo de seus quatro jogos que são capazes de resistir a uma ofensiva poderosa à moda da NHL, e algumas de suas jogadas ofensivas são bastante ardilosas.

Os suíços também dispõem da principal arma necessária a uma vitória, para um time mais fraco: um goleiro competente e sortudo, Jonas Hiller, do Anaheim Ducks, que continua furioso com sua falha no gol marcado por seu colega de time, Bobby Ryan, na partida de abertura do torneio, que deu vantagem por um a zero aos Estados Unidos.

"Eu já avisei a Ryan que ele não vai mais marcar gols fáceis", disse Hiller, sorrindo, depois de defender 20 arremates da Bielorrússia. "Ele já teve toda a folga que pretendo lhe dar".

Além de terem passado para a próxima etapa em sua versão coletiva do programa "Survivor", a parte mais importante da vitória do Canadá sobre a Alemanha foi o fato de que o time enfim conseguiu mostrar seu domínio da zona de ataque. Os canadenses controlaram o fundo de quadra do adversário, apesar dos esforços fúteis de Greiss para proteger sua meta. Em uma de suas jogadas Joe Thornton marcou com um arremate de 1,5 m perto da trave direita depois de um passe de Dany Heatley, que apanhou um rebote por trás da linha do gol e serviu seu companheiro pela ala direita.

Para resumir, os canadenses demonstraram tanto presença ofensiva quanto capacidade de finalização, e o duelo com a Rússia estava praticamente garantido desde o gol de Shea Weber no segundo período, seguido por um par de tentos marcados por Jarome Ingila, jogando na ala direita e com o apoio da firme linha formada por Eric Staal e Crosby.

"Queremos a Rússia", gritava a torcida, formada por mais de 90% de canadenses, ostentando os casacos vermelhos de sua equipe. "Queremos a Rússia!"

O desejo deles será realizado na noite de quarta-feira, e é bem possível que os torcedores se assustem ao ver jogadores como Ovechkin avançando em velocidade e trocando passes com Evgeni Malkin e Alexander Semin. Não existem garantias na olimpíada, mas os russos entrarão no rinque confiantes, seguros de que uma vitória sobre seus rivais permanentes deve lhes valer pelo menos a prata.

Os russos não tentarão marcar os canadenses com truques, como os alemães fizeram, e não terão medo de arriscar arremates. Na verdade, arrematar muito pode ser sua abordagem preferencial, porque isso favorece o aspecto mais forte do jogo de Ovechkin, e porque talvez a defesa seja seu ponto fraco. Raramente vemos times da NHL dispostos a um jogo aberto. Mas os russos, especialmente porque o Canadá ainda não desenvolveu plenamente a estrutura de seu time e vem sentindo a forte pressão reservada ao anfitrião de qualquer torneio, podem vir preparados para ditar o ritmo da partida, e para tentar sufocar a saída do adversário.

"Creio que a atmosfera no rinque será incrível", disse Crosby. "Tudo decidido em um só jogo. Será muito difícil. Não acho que eles conseguirão nos intimidar, mas a parada será complicada".

"Queremos jogar solidamente na defesa", disse o corpulento Chris Pronger, um dos defensores canadenses. "Tentaremos forçá-los a nos encarar em seu lado do rinque, pelo maior tempo que pudermos".

Os canadenses estão lentamente desenvolvendo o seu jogo. Estão fazendo com que as peças se encaixem. Isso é algo que veio naturalmente para os russos, e até o momento essa suposição vem sendo confirmada pelo desempenho de sua equipe.

Hóquei no Gelo (M) - SUI 2 x 3 CAN:
The New York Times
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