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Falência ou segurança? Torcida única no dérbi gera polêmica

6 fev 2015 - 10h13
(atualizado às 14h57)
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Palmeiras e Corinthians se enfrentarão neste domingo, às 17h (de Brasília), em um clássico que será muito mais do que apenas válido pela terceira rodada do Campeonato Paulista. O dérbi do dia 8 de fevereiro de 2015 entrará para a história como o primeiro da história do Allianz Parque, o reformulado estádio alviverde. Contudo, o jogo só poderá ser acompanhado "in loco" por torcedores palmeirenses.

Na noite de quinta-feira, a Federação Paulista de Futebol (FPF) acatou pedido do Ministério Público (MP) e decretou que o primeiro clássico do Allianz Parque terá torcida única. O local que antes seria destinado aos fãs corintianos, então, será frequentado somente por palmeirenses. Esta medida não é nova no Brasil (aconteceu, inclusive, em alguns dos muitos clássicos entre Atlético-MG e Cruzeiro no ano passado), mas tem gerado polêmica em São Paulo.

O Palmeiras gastou bastante dinheiro, reformou o seu estádio, mas ele não terá condições de sediar um duelo contra o Corinthians com torcedores de ambos os times. No primeiro dérbi na Arena em Itaquera, em julho do ano passado, torcedores do Palmeiras puderam ir ao local, mas, após derrota por 2 a 0, quebraram assentos. Havia expectativa de vingança neste domingo, e brigas, inclusive, já estavam marcadas pela internet.

A decisão por torcida única em um clássico desta tradição é sintoma da falência do futebol brasileiro ou pode ser encarada como uma medida correta por questões de segurança? É isto (com foco no caso do Allianz Parque) que será destrinchado abaixo.

“Ineditismo” do jogo

Palmeiras e Corinthians já se enfrentaram quase 400 vezes na história, mas, desde 1976, não duelam no Palestra Itália. O último dérbi na casa alviverde aconteceu em 21 de janeiro de 1976, pela já extinta Taça Governador do Estado de São Paulo, e teve modesto público de 14.234 pessoas. Desde então, o jogo de maior rivalidade da capital paulista nunca mais aconteceu no local que sediará o clássico deste domingo.

Há 39 anos, corintianos não vão à Barra Funda ver um jogo do seu time. Há 39 anos, palmeirenses não veem alvinegros circularem ao redor do seu estádio para acompanhar uma partida. Ainda não há esse “costume”.  Assim, o “quase ineditismo” do confronto no local e a dificuldade de prever situações podem ter contribuído para que o MP fizesse o pedido por torcida única.

<p>Palmeiras x Corinthians é o jogo de maior rivalidade de São Paulo</p>
Palmeiras x Corinthians é o jogo de maior rivalidade de São Paulo
Foto: Miguel Schincariol / Agência Lance

Acesso problemático

O Allianz Parque fica localizado no meio de um “emaranhado” de três ruas: Avenida Turiaçu, Avenida Francisco Matarazzo e Rua Padre Antônio Tomás. De acordo com o planejamento do estádio, os ônibus das equipes deveriam ingressar no estádio utilizando a primeira destas vias. Porém, é exatamente na Turiaçu que as torcidas organizadas palmeirenses costumam se posicionar para fazer o chamado “esquenta” antes das partidas, com bandeiras, faixas, rojões, baterias e sinalizadores.

Assim, os times têm entrado no Allianz Parque pela mais tranquila Padre Antônio Tomás. De lá, os jogadores pegam carona em carrinhos elétricos, passam por debaixo do gol das piscinas e chegam aos vestiários. O problema é que a entrada da torcida visitante também se dá pela Padre Antônio Tomás – que ainda conta com portão destinado ao acesso de torcedores palmeirenses que vão assistir aos jogos do setor leste do Allianz Parque. Imagine, então, fanáticos de Palmeiras, Corinthians e os ônibus das duas equipes em uma única rua. Certamente não daria certo.

<p>Acesso de torcida e jogadores ao Allianz Parque ainda é confuso</p>
Acesso de torcida e jogadores ao Allianz Parque ainda é confuso
Foto: Paulo Preto / Futura Press

Setor de visitantes “exposto”

O Allianz Parque, diferente do antigo Palestra Itália, é um estádio “fechado” e circular – ou, seja, onde quer que sente, uma pessoa estará cercada por outros trechos de arquibancadas por todos os cantos. O setor de visitantes fica no anel inferior e entre os setores sul e leste – destinados aos palmeirenses. A separação só é feita por grades. Isto quer dizer que os torcedores de outros times que vão acompanhar os jogos no Allianz Parque ficam “expostos” aos alviverdes.

<p>Área destina à torcida visitante no Allianz Parque (próxima à marca do escanteio) é cercada por palmeirenses</p>
Área destina à torcida visitante no Allianz Parque (próxima à marca do escanteio) é cercada por palmeirenses
Foto: Bruno Landi / Terra

A situação seria amenizada no clássico deste domingo, porque os lugares imediatamente acima do setor visitante acabariam interditados pela PM para evitar arremesso de objetos. Isto, contudo, acarretaria em um considerável prejuízo ao Palmeiras, que deixaria de vender praticamente seis mil assentos aos seus torcedores. Esta combinação de fatores fez com que o presidente do clube alviverde, Paulo Nobre, fosse o maior defensor da realização de clássico com torcida única – não só diante do Corinthians e também não só no Allianz Parque.

“Quando o Batalhão de Choque me diz que não basta grade para dividir as torcidas - e sim que são precisos grades e tapumes, porque os torcedores não podem se olhar senão se matam - é muito preocupante”, disse Nobre, nesta quinta-feira, antes de ainda listar mais dois motivos para ser a favor de torcida única em clássicos. “Você tem que economizar o dinheiro público. Não faz o menor sentido a polícia ter que escoltar 1,5 mil, 2 mil torcedores no caminho a um estádio de futebol enquanto ela poderia estar fazendo um bem à sociedade. E também tem o fator econômico do time mandante. No nosso caso, são pelo menos 6 mil lugares inutilizados”, acrescentou.

<p>Nesta quinta-feira, os pouco ponte-pretanos que foram ao Allianz Parque ouviram provocações por todos os lados (inclusive de cima)</p>
Nesta quinta-feira, os pouco ponte-pretanos que foram ao Allianz Parque ouviram provocações por todos os lados (inclusive de cima)
Foto: Bruno Landi / Terra

O outro lado...

Se decretar a realização de clássico com torcida única aumenta (teoricamente) a segurança do jogo, por outro lado, pode ser encarado como uma “derrota” do futebol para a violência e um atestado de incapacidade para combatê-la. Um Palmeiras x Corinthians apenas com torcedores de uma equipe certamente não é a mesma coisa que um Palmeiras x Corinthians com fãs de ambos os times. A rivalidade e provocação sadia fazem parte e são, também, a razão de ser do esporte mais popular do planeta.

<p>Torcida corintiana não poderá comparecer ao Allianz Parque</p>
Torcida corintiana não poderá comparecer ao Allianz Parque
Foto: Rodrigo Gazzanel / Futura Press

É isto o que defende o Corinthians, que divulgou nota nesta quinta garantindo que irá à Justiça para lutar por seus direitos. “Se o Poder Público não consegue conter e combater os torcedores violentos – estes sim os que deveriam ser afastados dos estádios – não é determinando a realização de partidas com torcida única que o problema será resolvido", disse o clube. “O Corinthians é, foi e sempre será favorável à presença das torcidas das duas equipes nas partidas de futebol. Qualquer medida em sentido contrário atenta contra a própria razão de existir do esporte”, acrescentou.

O próprio técnico do Palmeiras, Oswaldo de Oliveira, pensa de modo parecido. “(Clássico com torcida única) é uma medida extrema para tentar equilibrar uma situação que vem se agravando ao longo dos tempos. É claro que algo precisa ser feito, mas acho que ter só torcedores de um time tira muito da beleza do futebol. A iminência da violência está aí e ela precisa ser coibida de alguma forma. Mas a gente está amputando o espetáculo desta forma. Tomara que seja uma medida agressiva, mas que, depois, alguma coisa seja feita para reestabelecer o que achamos que é o mais bonito do futebol: a bipolaridade das torcidas”, declarou.

<p>Oswaldo de Oliveira disse que torcida única "tira a beleza" do futebol</p>
Oswaldo de Oliveira disse que torcida única "tira a beleza" do futebol
Foto: Leandro Martins / Futura Press

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Fonte: Terra
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