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Libertadores

Guerrero renuncia ao verde e avisa que só tem um time no Brasil

16 fev 2013 - 08h04
(atualizado às 11h30)
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Guerrero virou ídolo do Corinthians após marcar os dois gols do time na campanha do título mundial em 2012
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

A cabeça que tantos gols tem marcado para o Corinthians (entre eles, dois dos mais importantes da história do clube) estava protegida por um boné azul claro. A tonalidade é a mais próxima do verde que Paolo Guerrero se permite usar. Encantado com os corintianos, a ponto de entoar "aqui tem um bando de loucos" no meio da conversa, o centroavante peruano renunciou à cor que remete ao rival Palmeiras.

Na aba reta do boné azul - e não verde - de Guerrero, a palavra "monster" estampada em letras garrafais era mais uma representação do patamar que ele atingiu no Corinthians. O monstro do Parque São Jorge, no entanto, é humilde. Faz cara feia quando o chamam de ídolo e abre um sorriso tímido ao imaginar o seu registro ao lado da imagem em tamanho real de Ronaldo no museu do clube. Como um torcedor qualquer, o atual camisa 9 corintiano ainda sonha com a oportunidade de pedir, gaguejando, para tirar uma fotografia com o seu antecessor.

Em um eventual encontro com Ronaldo, Guerrero certamente não terá problemas para se comunicar. Calçado com chinelos nos quais bandeiras do Brasil se destacavam entre os seus dedos, o centroavante concedeu esta entrevista em bom português. Se não repetiu o palavrão que fez sucesso no Mundial de Clubes do Japão, mostrou familiaridade com o idioma e com a brasilidade de companheiros como o falso "quietinho" Douglas. Só não quis posar para fotos com alguns símbolos da cultura peruana. "Nossa! Isso eu não faço", assustou-se.

O que Guerrero faz - para satisfação de corintianos e peruanos - são gols. O centroavante que tem deixado o astro Alexandre Pato no banco de reservas precisou de apenas um semestre de Corinthians para provar ser artilheiro. O primeiro confronto com o verde do Palmeiras só será neste domingo, no Pacaembu. Ele mesmo diz não saber quantos clássicos mais terá pela frente para perpetuar a ligação com os corintianos. A única certeza do guerreiro é a de não jogar jamais em outro clube brasileiro.

 Você já é um ídolo do Corinthians?

Paolo Guerrero: Não me vejo como um ídolo do Corinthians nem do Peru. Sou apenas um jogador que quer ajudar o meu time a ganhar todas as competições. Só isso.

"Só isso" costuma ser valorizado no Corinthians: a torcida gosta de jogadores ambiciosos e brigadores como você, que não desistem de nenhum lance...

Guerrero: Quando cheguei aqui, as pessoas com quem conversei me falavam exatamente a mesma coisa. Elas diziam: "Você vai se adaptar rapidamente porque tem a característica exigida pela torcida corintiana. É louco e luta em campo como um guerreiro". Sei que me identifico com os torcedores do Corinthians.

<p>Centroavante peruano vem deixando o astro Alexandre Pato no banco de reservas</p>
Centroavante peruano vem deixando o astro Alexandre Pato no banco de reservas
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Qual foi a primeira vez em que você ouviu falar sobre o Corinthians?

Guerrero: Ah, faz muito tempo. O Corinthians é muito conhecido mundialmente. Sempre soube de algumas coisas sobre o time.

Desde criança? O que exatamente você sabia antes de defender o clube?

Guerrero: Quando criança, eu ainda não tinha noção das coisas. Mas, assim que comecei a jogar futebol profissional, passei a conhecer o Corinthians. Sabia que era o maior time do Brasil, que tinha jogadores importantes, que conseguiu muitos títulos em sua história...

Já imaginava que a torcida era tão fanática?

Guerrero: Não! Não sabia como era a torcida. Escutei algumas coisas por ter jogado com muitos brasileiros na Alemanha. Eles contavam que a torcida do Corinthians era a maior do Brasil, a mais louca, a melhor... Mas eu não sabia disso com exatidão porque nunca tinha jogado no futebol brasileiro.

Agora que está aqui, aprendeu alguns gritos de torcida?

Guerrero: Gosto muito dos gritos. Gosto, gosto, gosto. "Aqui tem um bando de louco!" Tudo isso eu sei. Escuto os torcedores cantando e vou aprendendo.

Também passou a incorporar alguns hábitos dos corintianos? Como não se vestir de verde, cor do maior rival, por exemplo.

Guerrero: É! Sim! Eu sei, eu sei, eu sei. Verde aqui é proibido. Proibido.

A torcida do Corinthians também passou a te conhecer melhor de seis meses para cá. Sua capacidade para cabecear não era tão famosa no Brasil. É verdade que o seu pai foi também seu professor no fundamento?

Guerrero: Isso! Eu ia com o meu pai à praia para treinar. Ele me falava como cabecear, como chutar e tudo o mais. Meu pai não foi um atleta profissional, mas jogou futebol. Antes, há muito tempo, o esporte não era tão importante para as pessoas. Os pais não queriam que seus filhos fossem jogadores, e ele não seguiu carreira. Vocês viram como isso mudou agora, né (risos)?

Seu pai era bom jogador?

Guerrero: Muitos amigos dele me disseram que ele foi, sim, um bom jogador. Era ele quem me falava como chutar, com a parte interna ou externa do pé, como cabecear...

Quando entrevistamos o seu pai, ele contou que se inspirava no ídolo peruano Valeriano López para te ensinar a cabecear.

Guerrero: Sim. López também é um ídolo meu, pelos gols que fazia. Para o meu pai, foi um jogador muito importante.

É verdade que o Valeriano López fumava os dólares recebidos dos dirigentes? Ou essa é só uma lenda que se propagou no Peru?

Guerrero: Dessa história, não sei (risos)! Eu nem existia ainda naquele tempo! O meu pai até falava muito dele: "Valeriano López, um jogador muito importante e tal...". Mas ficava nisso. Acompanhei mais a época do Waldir Sáenz, que jogava no Alianza Lima nos anos 1990.

Seu pai contou que havia referências brasileiras. Segundo ele, você gostava de pedalar como o Ronaldo.

Guerrero: É verdade. Quando pequeno, eu pedaleava muito. Vocês falam pedalear? Pedalar! Isso mudou quando fui jogar na Alemanha. Lá, o centroavante não pode pedalar de jeito nenhum. Há muita pressão da marcação, contato. O jogo é mais físico. No Brasil, posso retomar um pouquinho do que eu fazia antigamente.

O Ronaldo é o seu maior ídolo no futebol?

Guerrero: Para mim, Ronaldo foi o maior de todos. Não pude ver Maradona nem Pelé. Ou melhor, vi um pouco do Maradona... Mas, particularmente, Ronaldo Fenômeno foi o cara que, que... Nossa!

Já teve a oportunidade de se encontrar com o Ronaldo?

Guerrero: Ainda não o conheço. Quero muito conhecê-lo porque foi o melhor jogador que já vi.

O que você falaria para ele nesse encontro?

Guerrero: Ro-ronaldo! Tire uma foto comigo!

Quem sabe a sua foto não vai parar ao lado da do Ronaldo no Memorial do Corinthians, no Parque São Jorge?

Guerrero: P...! Como eu falei, para mim ele é o maior jogador de todos. Seria lindo. Quem dera um dia eu possa chegar a essa posição. Já conheço bem o museu, o Parque São Jorge, até porque já fiz muitas coisas lá.

Para merecer um lugar incontestável no museu, só resta você passar mais tempo no Corinthians. Ficará no clube até quando?

Guerrero: Tenho três anos de contrato e... Não sei o que vai acontecer. Gosto de jogar pelo Corinthians, tenho orgulho disso, mas não sei sobre o meu futuro.

Jogaria em outro clube do Brasil?

Guerrero: Não! No Brasil, só quero jogar no Corinthians. Só no Corinthians!

Essa ligação com certeza foi fortalecida por causa do Mundial de Clubes. Você pensava na conquista desde o acerto com o Corinthians?

Guerrero: Sim, eu sabia que era possível. Quando cheguei ao Corinthians, vi que o time tinha muita qualidade. Vim para cá com o objetivo de ser campeão mundial. Depois, eu me preparei bem, sabendo que a concorrência seria forte, pois há muitos bons jogadores aqui. Comecei a fazer gols e cheguei com confiança para o Mundial, que era o que eu queria. Eu sonhava com as partidas. Estava focado, confiante.

Você sonhou com os gols que marcou?

Guerrero: Sim, eu sonhava muito. Já pensava nisso. Queria que o tempo passasse rapidamente porque estava ansioso para jogar o campeonato. Enquanto isso, sonhava demais à noite. Quando cheguei ao Japão, fiz a concentração correta: deixei o telefone celular desligado e não falei nem com a minha família, só para me concentrar para os jogos.

A ambição para ganhar o Mundial foi tamanha que, em determinado momento da final, parecia que você brigaria com o David Luiz.

Guerrero: Estava só conversando com ele, né? É um cara gente boa, bom jogador, novo, com muito futuro pela frente.

Vocês conversaram depois do jogo?

Guerrero: Ah, não houve nem briga. Teve um contato de jogo, mas ficou tudo tranquilo mais tarde. Só não nos falamos depois da partida porque o cara estava chorando (risos). Ficou bravo por perder, né? Prefiro que as coisas sejam tranquilas. Se eu tivesse sido derrotado, não gostaria que ele viesse até mim e falasse: "E aí! Tudo bem?". Vamos deixar as coisas acontecerem dentro de campo.

Então hoje você é um jogador mais tranquilo? (Na Alemanha, o centroavante ficou marcado por um carrinho violento em um goleiro e até por arremessar uma garrafa na cabeça de um torcedor do Hamburgo.)

Guerrero:

Agora, sim. Conforme os anos vão passando, a gente fica mais sossegado, focado na carreira. Sei que fiz muitas coisas erradas. Aprendi com as minhas falhas. Tive várias experiências negativas. São coisas da vida.

Qual foi o seu maior aprendizado?

Guerrero: Foram muitos, muitos (risos). Tive que aprender, né?

Nem o seu pavor de viajar de avião foi motivo para sair do sério na viagem para o Japão?

Guerrero: (Risos) A viagem até que foi tranquila. A gente só teve um probleminha de Dubai para o Japão (uma fresta se abriu em uma das portas da aeronave), e eu fiquei muito nervoso. Sou assim. Não sabia o que tinha acontecido. Mas, no geral, eu estava bem sereno. Na minha cabeça, a maior preocupação era a recuperação da lesão no joelho. O resto ficava para depois. Felizmente, joguei bem, sem nenhuma dor. E agora está tudo legal.

Você não jogou bem. Jogou para c... (Guerrero soltou o palavrão para se referir ao seu desempenho, antes e depois da final contra o Chelsea)

Guerrero: 

(

Risos

) É verdade. Mas o time inteiro jogou muito, muito. Houve sacrifício da nossa parte. A gente tinha a consciência de que precisava dar felicidade para os 30 milhões de corintianos que estavam torcendo por nós. Foram uns 50 mil corintianos para lá, e... Tudo isso influenciou para que a gente se matasse dentro de campo.

Seus amigos e companheiros brincaram com o palavrão que você falou?

Guerrero: Não muito (risos). Só fiquei sabendo da repercussão quando voltei para o Brasil, depois das férias. Muitas coisas que acontecem aqui não chegam até o Peru, onde eu estava. Então, quando voltei a São Paulo, todo o mundo dava risada de mim, e eu não entendia o motivo. Eles escutaram o palavrão que eu disse e ficaram repetindo. Mas falei aquilo em um momento de felicidade, de vibração. Acabou saindo naturalmente.

Quem são os jogadores do Corinthians que mais brincam com você?

Guerrero: Falo com todos. O Douglas e o Fábio Santos são os mais brincalhões. O Sheik e os goleiros também são gente boa. Todos são legais. Tenho muitos bons contatos no Corinthians.

Quer dizer que o Douglas é brincalhão? Diante das câmeras, ele é mais quietinho.

Guerrero: Ah, quietinho? O Douglas? Quietinho? Não! Pode ser que seja só com vocês (risos).

Você tinha até um compatriota como colega, o Cachito Ramírez.

Guerrero: Ainda não nos falamos direito depois que ele saiu (foi emprestado para a Ponte Preta). Na seleção peruana, vamos trocar telefones. Eu tinha o número de rádio dele, mas perdi. É um jogador de qualidade, bom tecnicamente, mas acho que não chegou a ter muitas oportunidades. Poderia jogar tranquilamente aqui. Só que a concorrência é forte no Corinthians.

E você? Vai dar oportunidades para o Pato jogar?

Guerrero: Seguramente, dá para jogarmos juntos. Mas é o professor quem monta o time. Todo o mundo quer estar em campo. Dessa forma, o Corinthians fica mais competitivo. Formamos um grupo que todo o mundo vê como favorito na América do Sul, e as coisas estão ficando mais difíceis por isso. Na Libertadores, os adversários disputarão verdadeiras finais com a gente.

Será especial para você, que nunca jogou esse torneio?

Guerrero: A Libertadores é um objetivo de todos nós. Queremos ganhar para disputar novamente o Mundial. Para mim, de uma forma particular, é ainda mais importante. Vou fazer tudo para conquistar o título.

Precisará jogar mais para c... ainda na Libertadores?

Guerrero: É claro que sim (risos).

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