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Na torcida pelo Corinthians, "irmão inglês" sobrevive no amadorismo

4 jul 2012 - 09h31
(atualizado em 5/7/2012 às 10h21)
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EMANUEL COLOMBARI
VAGNER MAGALHÃES
Direto de Londres (Inglaterra)

Nesta quarta-feira, enquanto cerca de 30 milhões de torcedores estarão no Brasil ajudando a empurrar o Corinthians em busca de seu primeiro título de Copa Libertadores diante do Boca Juniors, um pequeno pedaço de Londres ajudará modestamente no apoio pelo time de Tite. Na região de Tolworth, mais exatamente no acanhado Estádio de King George's Field, está situado o centenário Corinthian-Casuals Football Club, justamente o time que "batizou" a equipe paulista.

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A sede do clube não lembra nem de longe a estrutura à disposição dos corintianos em São Paulo. Ao invés de obras de estádios e centros de treinamentos gigantescos, o Corinthian-Casuals dispõe de um campo pequeno, rodeado por uma arquibancada para cerca de 250 torcedores. Após passar pela entrada de terra e pedra do King George's Field, o visitante se depara com uma pequena construção que reúne cozinha, bar, sala de troféus e salão de bailes; aos fundos, os vestiários de mandantes, visitantes e de árbitros, além de um escritório.

Considerado uma potência do futebol inglês no começo do Século XX, o então Corinthian Football Club disputa hoje a Primeira Divisão Sul da Isthmian League, equivalente à sétima divisão do Campeonato Inglês. "Não é uma liga amadora. Nós somos amadores, os únicos. São 22 times, e nós somos os únicos amadores", explicou Brian Phillips, 66 anos, uma espécie de "faz-tudo" do clube, que recebeu a reportagem do Terra no estádio em Tolworth.

Diferente do "filhote" paulista, o time inglês teve um temporada discreta em 2011/2012. "Começamos bem em casa, mas começamos a empatar muito. Foram jogos muito, muito difíceis. Mas fizemos belos jogos no final da temporada", conta Phillips, lembrando o 13º lugar do time dentre os 22 que disputaram a competição.

A história do clube é bastante curiosa e vem de duas raízes: o Corinthian, de 1882, e o Casuals, de 1883. Considerado um time de destaque na Inglaterra nos tempos do futebol amador, o Corinthian viajava pelo mundo em excursões e passou pelo Brasil em 1910. Foram seis jogos e seis vitórias, com destaque para um 10 a 1 sobre o Fluminense. Tal apresentação impressionou os entusiastas do futebol em São Paulo, e daí surgiu o Sport Club Corinthians Paulista.

No início do século XX, o Corinthian era inclusive a base da seleção amadora da Inglaterra, que se dedicava a eventuais jogos contra a Escócia nos primeiros amistosos da história do futebol. Porém, com o profissionalismo do futebol inglês a partir da década de 30, o Corinthian passou a enfrentar dificuldades de conseguir bons jogadores. O mesmo acontecia com o Casuals, o que levou os dois times a se fundirem em 1939.

"Basicamente, o time era muito bom na época. Não havia futebol profissional. Era uma equipe muito boa para vencer os escoceses", conta Phillips, explicando a fusão. "O Corinthian estava tendo dificuldades para conseguir jogadores para a Copa da Inglaterra", completou.

Se a fusão poderia salvar o time de maus bocados, as esperanças para o futuro se acabaram ainda em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial. Já fora dos holofotes do futebol inglês, que tinha equipes como Arsenal e Everton em destaque, o Corinthian-Casuals disputou apenas uma partida na temporada, antes da paralisação oficial por conta dos conflitos. Nos anos seguintes, perdeu boa parte do que restava de sua força em campo.

Desde então, o clube tem mantido um papel discreto no futebol da Inglaterra. Seus rivais mais próximos são o AFC Wimbledon (que não deve ser confundido com o Wimbledon FC, hoje conhecido como Milton Keynes Dons) e o Kingstonian, com os quais as diferenças não são das mais profundas. Exemplo disso é que as categorias de base do AFC Wimbledon, cujo time profissional está na quarta divisão do Campeonato Inglês, utilizarão eventualmente o King George's Field para partidas - ao lado do estádio, um parque público permite treinamentos de atletas.

Mesmo longe do brilho que vivia há cem anos, o Corinthian-Casuals ainda hoje sabe que é um clube muito querido, especialmente pelos alvinegros do Brasil. "Eventualmente, recebemos uma ou duas visitas por ano", conta Brian Phillips, ciente do motivo das passagens dos turistas. "Fomos para lá (Brasil) em 1910. As pessoas de São Paulo fundaram um clube brilhante lá."

Na equipe da curiosa camisa marrom e rosa do subúrbio londrino, as notícias do Corinthians chegam com frequência, graças ao intermédio de Rob Cavallini - jornalista e escritor inglês, especializado em literatura esportiva, constantemente em contato com o Corinthian-Casuals. Por isso, a notícia da presença alvinegra na final da Copa Libertadores de 2012 não pegou Brian Phillips de surpresa.

"Libertadores?", pergunta Phillip, apostando "naturalmente" em uma vitória alvinegra. "Além disso, os argentinos têm uma reputação pobre na Inglaterra", completa, referindo-se à contenda com os sul-americanos na Guerra das Malvinas em 1982.

Reencontros entre Corinthian-Casuals e Corinthians

No salão de baile do clube, diversos pôsteres, troféus e medalhas contam a rica história do Corinthian-Casuals. Além de partidas em países como Escócia, Rússia, África do Sul e Japão desde a década de 80, o time mostra com orgulho uma camisa autografada do Manchester United, contra o qual a equipe fez um amistoso de pré-temporada em 31 de julho de 2004. No entanto, o Corinthians Paulista desfruta de grande atenção no espaço, em especial ao duelo de 5 de junho de 1988 entre o time inglês e o brasileiro.

"Em 1988, Sócrates jogou o primeiro tempo para vocês e fez 1 a 0. Depois, jogou alguns minutos conosco", contra Brian. A poucos metros do diálogo, um troféu referente à partida é exposto, próximo a medalhas da visita organizada pelo São Paulo Athletic Club em comemoração a seu centenário - o SPAC foi um dos rivais do Corinthian na viagem de 1910. Um novo confronto Corinthians x Corinthian poderia ter acontecido em 2010, ano do centenário alvinegro, mas não saiu do papel e deixou uma ponta de frustração em Londres.

"Em 2010, esperávamos jogar a partida do centenário, mas ficamos sem patrocinadores e não podíamos pagar. O Corinthians, pelo que eu soube, também tentou, mas parece que não conseguiu", conta o empregado do clube nas arquibancadas do King George's Field, ao lado da cabine de imprensa que é usada apenas pelos emissários da liga disputada, que relatam as partidas de forma oficial - no mesmo espaço, o locutor dos jogos faz seus anúncios pelo sistema de som do estádio em dias de bola rolando.

Hoje, longe de uma final continental como a que o Sport Club Corinthians Paulista disputa nesta quarta-feira, o Corinthian-Casuals Football Club tem planos bem mais modestos. "Na próxima temporada, teremos as categorias de base jogando aqui, nas tardes dos finais de semana", conta Brian, sonhando com o Troféu da Inglaterra (FA Trophy), "a maior competição fora da liga", dedicada apenas a times entre a quinta e a oitava divisões. "O York City jogou (a final de 2012) em Wembley. Poderíamos ser nós se tivéssemos ido melhor", lamenta Brian, lembrando a eliminação do time na primeira fase do torneio da última temporada com uma derrota fora de casa para o Burgess Hill Town por 3 a 0.

Londres 2012 no Terra

O Terra, maior empresa de internet da América Latina, transmitirá ao vivo e em alta definição (HD) todas as modalidades dos Jogos Olímpicos de Londres, que serão realizados entre os dias 27 de julho e 12 de agosto de 2012. Com reportagens especiais e acompanhamento do dia a dia dos atletas, a cobertura contará com textos, vídeos, fotos, debates, participação do internauta e repercussão nas redes sociais.

O Terra visitou o clube inglês que "batizou" o Corinthians
O Terra visitou o clube inglês que "batizou" o Corinthians
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
Fonte: Terra
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