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Pai de Kevin carrega cruz e reprova gritos de "assassino" ao Corinthians

5 abr 2013 - 13h32
(atualizado às 15h00)
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<p>Pai de Kevin demonstra incômodo por ver o nome do filho usado com a finalidade de provocar torcedores em estádios</p>
Pai de Kevin demonstra incômodo por ver o nome do filho usado com a finalidade de provocar torcedores em estádios
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press

A lápide de Kevin Douglas Beltrán Espada no Cemitério Parque de las Memórias continha uma pequena cruz. Incomodado, Limbert pediu para que a imagem fosse apagada. O gesto, simbólico, demonstra o grau de culpa sentido pelo pai do garoto atingido por um sinalizador de forma fatal no jogo entre San José e Corinthians. Ao lado da esposa e do cunhado, ele passou cerca de duas horas com a reportagem na cidade de Cochabamba. A poucos metros da tumba do filho, o professor de história condenou os gritos de "assasinos" ouvidos pelos corintianos recentemente. E lamentou, repetidas vezes, ter permitido que o jovem viajasse para ver a partida em Oruro.

"Não é que eu me sinta culpado, tenho certeza que sou. Éramos uma família tranquila e nos sacrificávamos pelos nossos filhos. Vivíamos com limitações, mas de uma maneira feliz. Arruinei tudo isso ao permitir que o Kevin viajasse para ver aquele jogo. Nunca vou me perdoar e por isso me comprometi com meu filho a visitá-lo todos os dias. Quem tem que carregar a cruz sou eu. Mandei apagar a imagem da lápide, porque não quero que ele precise lidar com isso no além. Se eu fosse um pouco mais duro e dissesse para ele ver o jogo pela televisão, ainda estaria aqui. Mas, como nunca me decepcionou, dei a permissão. Essa é a pena que carrego e que ninguém vai tirar", contou, resignado.

Fã do San José, ele tentou convencer o filho a torcer pelo Bolívar, mais poderoso, na infância, mas o garoto escolheu a equipe de Oruro. Kevin, admirador do futebol brasileiro, acompanhou o Mundial de Clubes conquistado pelo Corinthians no Japão e, desde que o sorteio dos grupos da Copa Libertadores colocou os dois times na mesma chave, começou a planejar a viagem para ver a partida em Oruro. Como era menor de idade, precisava de uma autorização dos pais para viajar ao lado do primo Beymar, 29 anos, desde Cochabamba. Coincidentemente, Limbert teve um tempo livre na véspera da partida e conseguiu formalizar o documento.

"Quando soube que o Corinthians jogaria contra o San José, nosso time de coração, o Kevin ficou inquieto, ainda mais depois que o Corinthians ganhou o Mundial, com os jogos televisionados aqui. Que venha a melhor equipe do planeta jogar contra o nosso time foi a maior motivação para o meu filho. Lamentavelmente, fui um pai débil e autorizei a viagem. Não pensei que o perderia, porque nem o abracei. Simplesmente mandei-o tomar cuidado e nem disse para ele se divertir. Essa é a dor que fica. Previa um futuro brilhante para o Kevin, tinha certeza que ele marcaria história na minha família e que marcaria também a nossa realidade sócio-econômica", lamentou Limbert.

<p>Limbert Betrán lamenta a situação dos brasileiros presos na Bolívia</p>
Limbert Betrán lamenta a situação dos brasileiros presos na Bolívia
Foto: EFE

Na medida em que Kevin foi atingido por um sinalizador lançado por um corintiano no Estádio Jesús Bermúdez, o clube sofreu algumas punições, como disputar uma partida sem torcida no Pacaembu e pagar multa à Conmebol. Os gritos de "assassinos" das torcidas adversárias, ouvidos por Tite e seus jogadores em algumas partidas, a exemplo do clássico contra o São Paulo, talvez sejam a pena mais dolorosa. Limbert sabe que é impossível controlar o comportamento dos fãs nas arquibancadas durante os jogos, mas reprova a atitude e demonstra incômodo por ver o nome do filho usado com a finalidade de provocar.

"É de mau gosto aproveitar uma tragédia para molestar um clube rival. Por outro lado, sabemos que as torcidas buscam erros e debilidades do adversário. Isso é ruim, mas difícil de evitar. Eu faço um pedido: não esqueçam que, fazendo isso, estão de alguma maneira revivendo o nome do meu filho, não estão deixando que ele descanse em paz, continuam colocando o meu filho em evidência. À torcida do Corinthians, solidariedade. Entendo que eles não gostem que digam isso ao clube. Às dos outros clubes, posso simplesmente pedir cordura. É um problema que pode acontecer que qualquer um, ninguém está livre dessas desgraças. Que entendam isso e sejam mais maduros e responsáveis", afirmou.

Desde o último dia 20 de fevereiro, data do jogo pela Copa Libertadores, 12 torcedores do Corinthians estão detidos em Oruro, a despeito de um menor de idade ter se apresentado em São Paulo como responsável por disparar o sinalizador que atingiu Kevin de maneira fatal. Limbert Betrán lamenta a situação dos brasileiros presos, mas desconsidera a possibilidade de o jovem de 17 anos ser o verdadeiro culpado pela morte de seu filho e acredita que o autor está no grupo recluso na Bolívia. Ao pedir desculpas às famílias dos corintianos, o pai do garoto lembrou que sua situação é irremediável e pediu compreensão.

"Enquanto não veja esse menor de idade se apresentar diante do juiz em Oruro, vou pensar que foi tudo tramado. Olhe que coisa irônica. Ele tem 17 anos, não pode sofrer um processo legal, não pode ser extraditado, a imprensa não pode mostrar o seu rosto nem dizer o seu nome. A pena mais rigorosa seria uma sanção social. Quando vejo toda a situação, não acredito nesse jovem. Cumprimento os familiares dos detidos e quero que me desculpem, mas também peço que entendam que o meu sofrimento é pior. Eles podem pelo menos falar e visitar os presos. Já eu preciso me contentar em chorar diante da tumba do meu filho e trocar suas flores", disse Limbert, inclinando a cabeça na direção do túmulo.

<p>Pai de Kevin não se perdou por ter deixado filho assistir jogo do San José contra o Corinthians</p>
Pai de Kevin não se perdou por ter deixado filho assistir jogo do San José contra o Corinthians
Foto: Facebook / Divulgação

Os vídeos do momento do disparo do sinalizador que atingiu Kevin Beltrán no Estádio Jesús Bermúdez mostram que o artefato foi liberado para o lado. A defesa sustenta que o torcedor que causou a morte do garoto de 14 anos o fez de maneira involuntária. Limbert, por sua vez, acredita que o indivíduo teve a intenção de causar dano. O pai do garoto se emocionou em diversos momentos da entrevista e precisou de esforço para conter as lágrimas. Ao repudiar a versão de acidente, no entanto, o professor se exaltou e pediu para que o responsável pela morte do filho tenha coragem para se entregar, já que ele não enxerga o menor de idade como verdadeiro autor.

"A palavra acidental me incomoda. A imprensa chamou de acidente, de desgraça. Eu categoricamente digo que não! Por favor, as sociedades do seu país e do meu país precisam entender. Não foi acidente nem desgraça. Quando um torcedor quer festejar, ainda mais com um artefato que não sabe manejar, o correto é lançar para cima. Os vídeos mostram que o disparo vai diretamente à tribuna. Não venham me dizer que foi acidental. Isso foi intencional! A pessoa sabia que causaria dano, mas não soube mensurá-lo e nunca pensou que mataria alguém. Que agora esse indivíduo tenha a mesma coragem para se apresentar à Justiça", declarou.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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