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Prostituição infantil e tráfico preocupam arredores de arena

4 mai 2014 - 11h31
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<p>Prostituição nos arredores da Arena Corinthians preocupa moradores de Itaquera</p>
Prostituição nos arredores da Arena Corinthians preocupa moradores de Itaquera
Foto: Bruno Santos / Terra

Uma das maiores preocupações da população que vive em Itaquera diz respeito a alguns problemas sociais que aumentaram com a chegada da Arena Corinthians, segundo relatos de moradores locais. Os habitantes acreditam que a prostituição nos últimos anos cresceu, motivada até pelo grande número de trabalhadores atraídos pela magnitude da obra, com presença inclusive de crianças que “chegam até a 11 anos de idade”.

Um empreendedor local, que possui há três décadas um estabelecimento a menos de 1km de onde é erguida a Arena Corinthians, acusou à reportagem que o ocorrido é diário. “Todos os dias, ao anoitecer, essa avenida (Miguel Inácio Cury) fica tomada por travestis e prostitutas. Muitas procuram o pessoal que trabalha nas obras (do estádio), se aproveitando disso. E algumas delas têm até uns 11 anos de idade”, relatou o homem, que se disse popular no bairro e preferiu não se identificar. Ele indicou que as meninas seriam “moradoras das favelas locais”.

“(A prostituição) Fica mais forte à noite. Acho que diminuiu depois que isso foi divulgado ultimamente, talvez uns 20%, mas ainda existe. Vejo umas meninas que parecem ter 12 anos”, afirmou outro comerciante que permitiu a divulgação de seu nome, João Gomes Neto, 61 anos, dono de uma autopeças conhecida na área. Para ele, Itaquera não melhorou absolutamente nada com a presença do estádio. “Não saiu praticamente nada do papel”, relatou.

<p>Tráfico de drogas também é tema de discussão entre moradores de Itaquera</p>
Tráfico de drogas também é tema de discussão entre moradores de Itaquera
Foto: Bruno Santos / Terra

Outro comerciante, este Paulo Mello, 62, não acredita sobre os benefícios em longo prazo trazidos pela obra. Com uma loja de venda de TV e aparelhos eletrônicos na Avenida Itaquera, além de alugar um imóvel para um hotel, o empreendedor reclamou do mesmo tema. “Diziam que iam tirar as comunidades daí, mas parece que não vão mais”, apontou, indicando sobre a forte presença de tráfico de drogas nas favelas instaladas na Vila da Paz.

Habitantes acusam de que o tráfico é um dos incentivadores da prostituição na região. Os moradores e comerciantes locais alertaram que muitas meninas são viciadas em drogas, como o crack, fazendo o uso da substância inclusive à luz do dia. Um segurança noturno de um estabelecimento em frente ao estádio foi mais um a relatar o tema: “rapaz, é todo dia. É só você sair andando lá para baixo (em direção à Av. Itaquera) que vê muito”.

Em visita à comunidade, a reportagem chegou a ser intimada de forma agressiva por um usuário, que se irritou com a câmera fotográfica. Em contato, a secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social aponta o aumento do tráfico de drogas como causa do crescimento do número de causas de exploração sexual nos arredores.

O Ministério Público do Trabalho confirma que locais com grandes investimentos tendem a aumentar o número de casos de prostituição nos arredores, como acontece em Itaquera, e que o crescimento também do tráfico de drogas na região dificulta a ação das autoridades. O tema do abuso sexual infantil perto da Arena Corinthians é, inclusive, alvo de investigação do MPT desde o mês de janeiro. "A informação é que são seis meninas, vindas de outros locais, mas elas ainda não foram identificadas. A própria comunidade refere-se a elas como meninas invisíveis", disse a procuradora Sandra Simón.

Operários confirmam prostituição de adolescentes nos arredores

Os funcionários da Arena se esquivaram sobre o assunto ao saber que se tratava de uma reportagem. Só à paisana, em um carrinho de lanches na porta do estádio, o Terra conseguiu a confirmação por parte de dois operários que faziam seus intervalos. “O negócio fica bom após as 18h, 19h, quando parte do pessoal vai embora. As meninas esperam no caminho para o metrô”, disse o primeiro deles, que apenas riu e desconversou quando questionado se já saiu com alguma das garotas.

“Olha, se você passar por ali agora também acha (prostitutas). Tem muita moça nova”, confirmou outro, minutos depois, em companhia de mais três que só escutaram a conversa. “Elas só esperam a ‘rapaziada’ sair daqui para ‘dar o bote’”, acrescentou. Perguntado se já pagou por sexo com alguma delas, fez sinal de negativo com a cabeça, disfarçou e sussurrou, apontando para a Arena Corinthians: “ah, tem muito malandro aí dentro que gosta, viu?”.

Posteriormente, a reportagem passou rapidamente de carro particular pela área no período noturno e viu algumas garotas oferecendo serviços sexuais. Uma delas abordou o carro, disse se chamar Fabiana e afirmou ter dezesseis anos – “dezessete em junho”. Não quis responder mais perguntas: “e aí, vai querer o programa?”. Outra, cerca de 1,50m de altura, aparentemente embriagada, pedia R$ 20. “Podemos ir em um hotel na rua (Avenida Itaquera) lá para baixo”, balbuciou, antes de rejeitar informar a idade e alterar o tom de voz: “quer perguntar ou quer fazer sexo?”.

Como as relações sexuais seriam feitas pelos próprios operários fora do expediente e das obras da Arena, nem Odebrecht e nem Corinthians podem ser responsabilizados. Conforme a reportagem apurou, recentemente a construtora adotou algumas medidas de conscientização e prevenção do tema com seus funcionários, como o fornecimento aos operários de transporte do canteiro da obra até a estação de metrô, evitando contato direto com as prostitutas. 

Terra ainda falou com o vereador Laércio Benko (PHS), presidente da CPI da Exploração Sexual na Câmara Municipal e um dos maiores adversários na luta contra a prostituição infantil na capital de São Paulo, que confirmou a existência do problema nos arredores do estádio e destacou a preocupação e iniciativa constante das autoridades locais em tentar solucioná-los. Mesmo assim, apontou que dificilmente não ocorrerão casos durante o Mundial. "O tipo de pessoa que paga por esse tipo de coisa é doente, não pode ser tratado de outra forma", destacou.

Fonte: Terra
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