#30anos1985 - Ênio Andrade, o mestre dos vestiários
Técnico assumiu o Coritiba durante a competição e conquistou seu terceiro título brasileiro
Um dos principais personagens do título brasileiro de 1985 foi o técnico Ênio Andrade. Com a experiência de ter sido bicampeão da competição, dirigindo Internacional e Grêmio, o treinador mudou o rumo do Coritiba na competição usando algumas artimanhas.
O treinador assumiu o clube logo após a quinta rodada do Campeonato Brasileiro, pois o então técnico Dino Sani havia acertado com o futebol do Qatar. A campanha até então era de duas vitórias, um empate e duas derrotas. Um retrospecto equilibrado e aceitável, mas que dificilmente chegaria a postular o título.
A troca mudou tudo isso. Só que o início chegou a ser assustador. A estreia ocorreu na derrota para o Flamengo por 1 a 0, no dia 13 de fevereiro. A primeira vitória veio só na quarta partida, quando bateu o Náutico por 2 a 0 (gols de Edson e Indio). Mesmo assim, todo o grupo confiava muito no profissional.
Treinos duros e desgaste
Uma das primeiras medidas adotadas por Andrade foi orientar o preparador físico Odivonsir Fraga a explorar a parte física dos atletas ao máximo para ser um diferencial dentro de campo. "Ele dizia que queria ver o time correndo por duas horas, e este era um dos nossos diferenciais", lembra o ex-lateral Dida.
Prova disso foi que um dos gols mais marcantes da caminhada coxa-branca ocorreu aos 45min do segundo tempo, quando bateu o Santos por 2 a 1, no Couto Pereira, no dia 14 de abril. "A gente estaria eliminado ali mesmo. Ganhamos aquele jogo com o gol do Lela na base da raça e do preparo físico do time", apontou o ala.
O ex-comandante costumava dizer que "quem treina pensando na namorada não rende". Por isso exigia ao máximo dos atletas. "Não existia ninguém acomodado. Ele tratava todo mundo igual, deixando claro que ali não tinha estrela", recordou o ex-meia Toby.
Quando a equipe garantiu a histórica classificação para a final, ao eliminar o Atlético-MG, ele segurou o grupo em Belo Horizonte, para evitar euforia dos jogadores em Curitiba. "Já no Rio de Janeiro ele fez a gente assistir jogos do Bangu, apontou alguns pontos e disse: vocês já sabem como vencê-los", relembrou o ex-lateral André. "Eu o considero o mestre dos vestiarios", complementou.
O silêncio nos pênaltis
Ainda na preparação para a final, o comandante fez o grupo trabalhar muitas cobranças de pênaltis. "Ele só assistia, não dizia nada", contou Dida. "Quando a decisão foi para as penalidades ninguém sabia quem iria bater, mas ele já tinha na cabeça dele. Preferiu os experientes, até para preservar os mais novos caso algo de errado acontecesse", finalizou.
Autor do gol do título, o zagueiro Gomes tem profunda admiração pelo comandante alviverde e afirmou que foi o principal responsável pela conquista. "O seu Ênio foi o melhor treinador que eu tive, era uma pessoa fantástica. Ele enxergava o jogo como poucos, tinha uma percepção muito boa, conseguia se antecipar e cantava as jogadas antes para todos nós. Foi uma honra ter trabalhado com ele e ter conquistado esse título”, elogiou Gomes.
Com o título do Coritiba, Ênio Andrade tornou-se tricampeão brasileiro (já havia erguido as taças com o Inter, em 1979, e com o Grêmio, em 1981), igualando a marca de Rubens Minelli e sendo um dos técnicos mais vitoriosos da principal competição nacional - atrás apenas de Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho.