/images.terra.com/2015/05/20/cruzeiro.png "Logo do Cruzeiro")
Sucesso com Dudu e Lucas Silva impulsiona peneira em GO
A Ovel realiza peneiras a cada semestre para prospecção de novos talentos que, aprovados, disputarão as competições estaduais das categorias de base
Lucas Silva no Real Madrid. Dudu no Palmeiras. Duas das negociações mais badaladas do mercado do futebol brasileiro em janeiro têm uma coisa em comum: a Agremiação Esportiva Ovel. Situado em Goiânia, o clube que tem como foco a formação de atletas foi onde os dois deram os primeiros passos. Motivados por esses casos de sucesso, centenas de garotos participam de uma "peneirada" na sede do time com o sonho de trilhar o mesmo caminho.
Localizada no Bairro São Joaquim, região Noroeste da capital (uma das mais carentes), a Ovel existe desde 1976 e tem sede própria desde 1985. A estrutura não tem luxo, mas conta com três campos com medidas oficiais e grama em bom estado. Tudo muito funcional. O centro de treinamento é batizado de "Canhotinha de Ouro", em homenagem a Gérson. Simbólico.
Após a transferência do volante Lucas Silva do Cruzeiro para o Real Madrid, a Ovel ganhou evidência na mídia nacional. Isso porque o clube ainda possui um percentual do jogador, que atuou lá dos 11 aos 14 anos, e vai lucrar cerca de R$ 4 milhões com o negócio. É incontestável a satisfação do presidente Dorival Rezende, que trabalha com a família, ao falar sobre Lucas.
A Ovel realiza peneiras a cada semestre para prospecção de novos talentos que, aprovados, disputarão as competições estaduais das categorias de base. Raphael Rezende, filho de Dorival, é advogado, mas ajuda o pai com algumas tarefas no clube. No sábado, primeiro dia do processo seletivo, realizava as inscrições da garotada ao lado da mãe. O trabalho não foi pouco.
Segundo eles, as peneiras normalmente reúnem cerca de 200 garotos, mas com a repercussão das negociações de Lucas Silva e também de Dudu a procura mais que dobrou. Crianças e adolescentes da região metropolitana de Goiânia e até de cidades do interior goiano procuram a escolinha para tentar ingressar no futebol.
Centenas de jogadores em três campos, organizados por idade, todos sob os olhares dos vários professores que formam o quadro da Ovel. Além disso, pais, mães, avós, tios e padrinhos que torcem, dão instruções, reclamam com os outros garotos que não passam a bola para os seus. Tudo na esperança da aprovação. Do sonho.
Dorival Rezende explica a dinâmica dos testes de observação. No primeiro dia, cada candidato teve pouco mais de 25 minutos para mostrar potencial. No entanto, todos eles têm a segunda oportunidade no dia seguinte. "Os meninos as vezes nem dormem direito na véspera de uma peneira dessas, ficam ansiosos. Por isso, fazemos as avaliações em dois dias. Não podemos perder talentos", salientou.
Além do sucesso de Lucas Silva e Dudu, a Ovel possui uma parceria com o Cruzeiro que se torna outro atrativo para os garotos procurarem o clube. Em Goiânia, o Goiás tem alguns jogadores no elenco profissional que também saíram da escolinha.
Confira a entrevista concedida por Dorival ao Terra:
Terra - Qual a história da Ovel? Como surgiu?
Dorival - A Ovel foi fundada em 1976. Nosso presidente de honra, o senhor Azevedo Lopes Rabelo, tinha o sonho de montar uma equipe competitiva para disputar competições. Em 1985 adquirimos nosso centro de treinamento, daí em diante iniciamos esse trabalho de formação de atletas. Conseguimos nos filiar há algum tempo na Federação Goiana de Futebol e disputamos competições nacionais e regionais.
Terra - Qual o diferencial do clube? Já que tem revelado jogadores com sucesso?
Dorival -
O trabalho é a alma do negócio. Temos um trabalho árduo dia a dia e temos respeito com o jogador desde a categoria menor até a última. Temos uma equipe boa, professores capacitados, ex-jogadores, trabalhamos sempre com dois profissionais em cada categoria, com um preparador físico e esse professor. Nosso centro de treinamento também dá boas condições, temos três campos oficiais e as crianças jogam desde cedo nesses campos.
Terra - O número de crianças nessa peneira hoje é muito grande. Tem alguma explicação?
Dorival - É o respeito que temos com o atleta, a qualidade do trabalho e sem esquecer que a Ovel está bem vista no cenário nacional e até mundial. Alavancou o nome da Ovel essas conquistas na formação, citando aqui o Eduardo, Dudu, que passou pelo Cruzeiro, Dínamo de Kiev, Grêmio e agora no Palmeiras. O Lucas Silva que colocamos no Cruzeiro e que foi negociado com o Real Madrid. No Goiás também temos quatro atletas que passaram aqui e estão no profissional. Acho que isso fez alavancar a procura desses novos talentos pela Ovel para tentar o sonho de ser um jogador de futebol.
Terra - Os resultados nos campeonatos ficam em segundo plano?
Dorival - Aqui a nossa meta é essa (revelar). A gente acredita que se trabalhar com seriedade e com amor a gente consegue. Já aconteceu várias vezes de no meio da disputa do Campeonato Goiano os clubes procurarem por nossos jogadores, no alto da competição. Em uma semifinal já "perdi" cinco atletas porque pediram para ir. E esse sonho? Essa oportunidade? Como somos reveladores de talentos, estamos mais preocupados em dar uma boa qualidade. O cavalo arreado só passa uma vez na porta, se passar tem de montar e galopar. A chance é uma em milhares.
Terra - Como funciona essa parceria com o Cruzeiro?
Dorival - Essa parceria foi feita há uns 12 anos, quando estávamos disputando a Gazetinha em Vila Velha. Chegamos na final contra o Vasco da Gama, ninguém conhecia a Ovel. Mas a gente tinha sido campeão goiano da categoria. Quando viram que estávamos crescendo na competição é que surgiu a oportunidade. Minha família é toda mineira e eu já conhecia o pessoal do Cruzeiro, era a família Perrela na época. Fizemos uma parceria que não é franquia, não pago ao Cruzeiro. É uma parceria de rendimento, onde o Cruzeiro tem a preferência de requisitar nossos atletas, em contrapartida eu posso utilizar o nome do Cruzeiro.
Terra - Essa parceria rendeu um bom dinheiro para a Ovel com a ida do Lucas Silva para o Real Madrid. Como vai ser investido esse dinheiro?
Dorival - Primeiro queria falar que o Dudu e o Lucas Silva são dois de 78 jogadores que já mandamos para o Cruzeiro. Temos outros talentos, como o Douglas, um goleiro 91, o Thiaguinho, que está no Santa Cruz, além de outros como o Kaio Wilker, o Diney, que está no América-MG, entre outros. Temos essa parceria, um contrato com o percentual, mas estamos aguardando o Cruzeiro. Eles pediram um tempo, pois o Lucas foi vendido para muitos parceiros, estão fazendo esse remanejamento. Ele foi vendido parcelado, por 13 milhões de euros. 6,5 milhões devem entrar na segunda para o Cruzeiro e a outra parcela em julho. Estamos aguardando, pois temos um percentual e esperamos que o Cruzeiro seja justo. Vamos fazer uma retirada para nós, que é necessário, repassar a parceiros nossos que nos ajudam, mas a maioria será investida aqui no centro de treinamento.
Terra - Ver essa quantidade de garotos procurando a Ovel te deixa com que sensação?
Dorival - É emocionante. A gente vê nos olhos dessas crianças o sonho, o brilho, a vontade, a gente se emociona. Muitos amigos me dizem que estou no lugar errado, que futebol não é lugar para gente honesta, e sou honesto. Não consigo enganar a Deus. Posso enganar qualquer um, mas a Ele não. Deus fala que se você cuida bem das crianças terá vaga no Céu. Acho que temos que ter compromisso com o nosso travesseiro. Então me emociona, sim, e pode ter certeza que vamos tirar vários talentos.
