Brasileira realiza sonho após piora de doença: "nadei o impossível"
O esporte paralímpico é dividido entre classes, definidas de acordo com a deficiência e o tamanho da limitação do atleta: quanto menor o número que identifica a classe, mais difícil é para o competidor cumprir sua função. Na natação, os que têm problemas físico-motores são distribuídos entre os graus 1 e 10. Susana Ribeiro é uma brasileira que, em apenas três anos de carreira – e com uma Paralimpíada no currículo -, desceu de classe três vezes. Apesar da piora, na segunda-feira ela se emocionou com um sonho atingido: terminou os 400 m livre S6 com a medalha de bronze no Mundial Paralímpico disputado em Montreal, no Canadá.
Subir ao pódio em uma competição de renome era o objetivo de Susana desde 2010, quando começou a competir sob a classificação S8. Ela fez parte do ciclo olímpico nesta categoria, mas foi a Londres já como S7. A brasileira sofre com um tipo raro de Mal de Parkinson, doença degenerativa descoberta em 2005. Até então, era triatleta, com 13 participações no Ironman, principal competição da modalidade, e uma nos Jogos Pan-Americanos de 1995, em Mar del Plata. Em 2011, participou do Parapan-Americano, em Guadalajara, onde conseguiu sua primeira medalha internacional: bronze nos 400 m livre S7. Repetir o bronze no Mundial, portanto, mostra evolução, apesar da piora de saúde.
“Eu fui reclassificada, após a progressão da doença, e a cada dia fica mais difícil para mim, mas isso é tudo na minha vida. O esporte me faz esquecer tudo. Estou aqui realizando o sonho da minha vida”, afirmou, emocionada, após deixar a piscina em Montreal. Nadar, para ela, é uma forma de viver mais, já que a progressão do Parkinson diminui de velocidade. “Se eu não estivesse fazendo esporte, estaria muito pior do que agora. Todo esforço e dedicação que eu tenho, estou recebendo de volta agora, com esse sonho maravilhoso”, disse.
Um desses esforços, por exemplo, foi permanecer por 20 dias no México, em um centro de treinamento em San Luis Potosí, a quase 2 mil metros de altitude, para aprimorar para o Mundial. Como a delegação brasileira foi a primeira a chegar a Montreal para o Mundial, Susana está há um mês sem ver os filhos. “Nadei junto com eles hoje (segunda-feira). Cada metrinho eles estavam comigo”, disse. Antes, decorou as paredes do quarto onde mora, no Rio de Janeiro, com os tempos que faz, fez e gostaria de fazer. No Canadá, superou todas as expectativas.
Susana Ribeiro terminou os 400 m livre atrás da mexicana Vianney Trejo del Gadillo, que fez 5min44s47, e da britânica Ellie Simmonds, uma das estrelas da última Paralimpíada, medalha de ouro com folga: 5min24s02. Em relação ao desempenho, superou as expectativas. “Fiz muito menos. Nadei o impossível”, disse. A expectativa era em torno de 5min50s. Acabou com 5min47s78. “A vontade de conquistar a medalha faz a gente buscar o impossível mesmo”, reforçou Susana.
A atleta tem mais três anos até os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Com a evolução da doença, é improvável que mantenha o desempenho: é possível que mude de classe mais uma vez. Susana não faz previsões sobre até quando irá nadar. “Esse é meu lema: se não puder correr, ande; se não puder andar, engatinhe; se não puder engatinhar, rasteje. Vou ficar aí até quando só estiver mexendo a orelha”, prometeu, animada.
O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro