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Esportes Aquáticos

Pan 95: a batalha contra americanos que o Brasil não viu

10 out 2011 - 07h51
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Anderson Rodrigues

Os Jogos Pan-Americanos de 1995 ficaram marcados pelo recorde de atletas (5.144) e, principalmente, pelo alto nível técnico. Países como Estados Unidos e Canadá levaram seus atletas de elite, que no ano seguinte iriam à Olimpíada de Atlanta. Mas a torcida brasileira teve acesso restrito ao maior evento das Américas, que não teve transmissão pela televisão.

O Brasil conquistou 83 medalhas (18 ouros, 27 pratas, 38 bronzes), terminou em sexto no quadro geral, liderado pela potência americana, com 425 medalhas. A modalidade com maior número de medalhas na Argentina foi a natação: 16.

Quem esteve nas piscinas de Mar del Plata pôde ver o ápice de Gustavo Borges, na época com 22 anos. O nadador ganhou dois ouros (recordes pan-americanos, nos 100 m e 200 m livres) e três pratas (4x100 m livre, 4x200 m livre e 4x100 m medley).

Ao lado de Fernando Scherer, ele travou uma batalha dura contra uma das melhores equipes da história americana, liderada por Gary Hall Jr. e com Jon Olsen e Josh Davis. Brasileiro com maior número de medalhas pan-americanas - 19 (oito ouros, oito pratas e três bronzes), o ex-nadador relembra o Pan de 1995 em entrevista ao Terra.

Confira:

Terra - Sua trajetória pan-americana começou aos 18 anos, em Havana 1991. Depois, você participou de Mar del Plata 1995, Winnipeg 1999 e Santo Domingo 2003. Os Jogos na Argentina tiveram um sabor especial?

Gustavo Borges - Se você olhar o número de medalhas, Mar del Plata não foi o melhor Pan para mim. Mas considero o mais importante pelo nível técnico. Estava na minha fase mais madura, no auge, estabelecido como atleta.

A participação da equipe principal americana e canadense transformou a competição num nível elevadíssimo, tanto que consegui melhorar meu tempo nos 200 m livre (1min48s49, recorde até hoje, após 16 anos) em relação aos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992). Foi também a consolidação de uma geração, com o Fernando Scherer, Luiz Lima, Rogério Romero...

Terra - O duelo com o Gary Hall Jr. foi o ponto alto para sua história neste Pan, quando você derrotou um nadador com cinco ouros olímpicos na carreira, mas com apenas uma medalha neste Pan (ouro no 4x100 m livre).

Gustavo Borges - O Gary foi um grande rival. Em 1994, no Mundial de Roma, ele ganhou de mim nos 100 m. Claro que estava atravessado, mas pensei mais no meu resultado. Apesar de passar uma imagem de provocação, ele sempre foi uma pessoa tranquila e que sempre tive bom relacionamento. E só perdi para ele naquela ocasião.

Em Mar del Plata, na final dos 100 m, lembro de um fato engraçado. O Gary foi para o balizamento sem sunga na decisão pela medalha. Ficou tenso, percebi que a adrenalina dele aumentou quando foi na arquibancada pedir uma outra emprestada. Quando caímos na água, ele morreu depois dos 50 metros. Acabou em quarto. Apesar da rivalidade, fiquei mais feliz com o ouro e o recorde do que vencê-lo. Nosso objetivo era nadar ao máximo e disputar em igualdade com todos os americanos, no qual enfrentaríamos em Atlanta ano seguinte.

Terra - Houve algum problema de rivalidade com os argentinos, dentro ou fora da piscina naquele Pan? E quais brasileiros você ficou contente em conviver na Vila?

Gustavo Borges -A Argentina, como sede, foi bem no quadro de medalhas (terminou com 159 medalhas, atrás apenas de EUA, Cuba e Canadá), mas não tinham bons nadadores. A organização foi razoavelmente boa. Só houve problema na nossa localização. Enfrentávamos 1h30 para chegar até a piscina. Fora, a recepção foi ótima.

Em relação aos ídolos, fiquei emocionado ao ver o Joaquim Cruz correndo na Vila e com a visita do José Roberto Guimarães (técnico do vôlei masculino na época) nas nossas provas. Mas estávamos bem reclusos na Vila e não vi outras modalidades.

Terra - Neste Pan, a cobertura e divulgação dos Jogos foram restritas. Isso foi um ponto negativo para as conquistas do Brasil?

Gustavo Borges -Poucos brasileiros puderam ter acesso. Foi algo atípico. Sem transmissão pela televisão e ainda no nascimento do e-mail, sem internet, ficamos muito amigos do pessoal do papel e caneta. O acesso deles à Vila Pan-Americana foi aberto. Fiz muitos amigos. Eles que levavam nossos resultados, escreviam sobre nossas lutas e conquistas ao povo brasileiro. Foi estranho, mas marcante. E jamais os resultados serão apagados.

Terra - O que você espera do Pan de Guadalajara. Quem será o nome da natação: Cesar Cielo, atual campeão olímpico, ou Thiago Pereira, que conquistou seis ouros no Rio 2007, superando o recorde de Mark Spitz (após 40 anos)?

Gustavo Borges - As atenções ficaram divididas entre os brasileiros. O Thiago disputa mais provas e conseguiu no Rio entrar para a história. Mas nós, da natação, sabíamos que as marcas melhores foram do Cielo. Tanto que hoje ele é bicampeão mundial (Roma 2009 e Xangai 2011, ambos nos 50 m livre) e campeão olímpico (50 m livre em Pequim 2008). Bom é ver esta nova geração, que tem outros grandes nomes. Ficaremos na torcida.

Pan 2011 no Terra

O Terra transmitirá simultaneamente até 13 eventos, ao vivo e em HD, dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara via web, tablets e celular.
Com uma equipe com mais de 220 profissionais, a maior empresa de Internet da América Latina fará a mais completa cobertura da competição que será realizada de 14 a 30 de outubro, trazendo, direto do México, a preparação de atletas, detalhes da organização e toda a competição, com conteúdo em texto, fotos, vídeos, infográficos e muita interatividade.

Acesse também a cobertura em:
http://m.terra.com.br/guadalajara2011
http://tablet.terra.com.br
http://wap.terra.com.br/pan2011/

Gustavo Borges ganhou dois ouros nas piscinas argentinas
Gustavo Borges ganhou dois ouros nas piscinas argentinas
Foto: Gazeta Esportiva
Fonte: Terra
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