PUBLICIDADE

Esportes Aquáticos

Surfistas, nadadores paralímpicos usam mar para contrabalancear carreira

18 ago 2013 - 10h03
(atualizado às 10h04)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Ver&ocirc;nica Almeida diz que surfe aos domingos &eacute; &quot;sagrado&quot;</p>
Verônica Almeida diz que surfe aos domingos é "sagrado"
Foto: Washington Alves/MPIX/CPB / Divulgação

Na água com cloro, Carlos Afonso Farrenberg e Verônica Mauadie de Almeida são intensos e rápidos, como uma explosão que os faz cruzar a piscina quantas vezes forem necessárias no menor tempo possível. Já na água salgada, são como quiserem ser. É no mar que os nadadores paralímpicos brasileiros aliviam as pressões do dia-a-dia e espairecem em meio à rotina de atleta de alto nível, usando o surfe como terapia.

“Domingo, para mim, é sagrado o surfe, porque é quando me sinto com mais liberdade, me dá aquela coisa de estar mais solta. Na piscina, é aquela pressão, e no mar, não”, diz Verônica, baiana de Salvador, onde se aventura nas ondas. “Até acho que ajuda a dar um equilíbrio, até porque eu nado prova de velocidade, o é estresse é grande”, concorda Carlão, que nasceu em São Paulo, mas há 12 anos mora em Santos.

Os dois estão há alguns dias sem surfar: disputam o Mundial Paralímpico de Natação em Montreal, no Canadá, prioridade ressaltada por ambos. Verônica, que tem uma medalha paralímpica no currículo (conquistada em Pequim 2008), não foi à final dos 50 m livre S7, terminou em 7º os 50 m borboleta e disputa os 200 m medley no domingo. Já Carlão beliscou medalha nos 50 m livre S13, terminando em 4º, e volta à piscina no domingo, para os 100 m livre S13.

O surfe está integrado e, de certa forma, moldou o estilo de vida dos dois – com as devidas restrições para não interferir na carreira profissional. Verônica, 38 anos, surfa há 20, e começou por opção de matéria para a faculdade de educação física, na qual se formou. Virou paixão, a mesma que Carlão cultiva desde a adolescência – além de natação e surfe, pratica canoagem e mergulho autônomo. Para usar a prancha, eles precisam driblar as limitações físicas existentes.

”Caldo”, manobras e marra

Carlão tem baixa visão: enxerga apenas 20%, o que não impede de surfar com as pranchas maiores, de mais estabilidade. “A princípio, meu pai achou que era loucura, achou que eu ia passar por cima de alguém, que ia me enfiar em confusão. Nunca tive problemas”, conta o nadador, que compete na classe S13. Costuma viajar o mundo para provas, mas também faz isso em menor escala com o surfe.

Além de Santos, Carlão já foi surfar em praias de todo o litoral norte de São Paulo, de Santa Catarina e até de Barbados, uma das ilhas do Caribe. “Fui para mergulhar com a minha mulher, aí a gente descobriu antes de ir que tinha points de surfe também. Ela não queria porque o lugar tinha fundo de pedra, era meio complicado”, relembra. Apesar dos avisos, surfou mesmo assim.

Da mesma forma que Carlão, Verônica se aventura apesar das limitações: perdeu a força dos membros inferiores em decorrência de luxações e desde 2007 tem limitações no braço direito por conta da Síndrome de Ehlers-Danlos, doença hereditária. É cadeirante há seis anos, o que a fez trocar o surfe convencional pelo bodyboard, na qual deita na prancha para escorregar pelas ondas. Ela também compete nessa modalidade.

“Não tem jeito, eu tomo muito caldo, mas consigo ter a facilidade de ter muitas manobras rápidas, tipo os giros na água. Acabo adaptando isso também”, explica a atleta, que costuma deixar sua cadeira de rodas na orla das praias que frequenta em Salvador e conta com a ajuda de surfistas para ser carregada até o mar. “Aí vou me arrastando até a água e de lá já viro peixe”, brinca. “As pessoas falam que meu apelido é ‘Marrentinha’, pelo estilo.”

Tanto Verônica como Carlão têm no mar um local extremamente especial. “Sempre gostei, sempre fui muito ligada ao mar”, diz a nadadora. “Meu avô e meus tios sempre tiveram barco, canoa, caiaque, então eu sempre tive muito contato com isso”, conta Carlão. “É uma coisa que me traz muita alegria”, complementa.

O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade