Vaidosa "ao máximo", nadadora adapta prótese para usar com salto
Camille Rodrigues corre com as unhas, compridas e pintadas de vermelho, pelos longos cabelos negros, ainda molhados, minutos após deixar a piscina do Parc Jean-Drapeau, em Montreal. Integrante da delegação brasileira que disputa o Mundial Paralímpico de Natação, a nadadora impressiona também pela beleza, fruto de uma vaidade assumida que leva ao nível máximo, a ponto de adaptar sua prótese da perna direita para poder usar salto.
“É de cada um. Eu tento ser vaidosa ao máximo, cuidar do meu cabelo, apesar de que fica muito cloro”, diz a brasileira. As mãos vistosas então correm a prótese da perna direita, amputada em consequência de uma má formação congênita. A parte plástica é toda decorada, muito colorida e por sugestão de um dos patrocinadores Camille não usa mais próteses que simulam a cor de sua pele, morena.
“Você se caracterizar como perna mecânica é muito mais estiloso do que você tentar esconder ela”, afirma a atleta, que é capaz até de andar de salto com uma delas, graças a uma adaptação feita especialmente para isso. Com 64 kg e 1,65 m, ela consegue ficar até 10 cm mais alta – além de mais vistosa, se for possível. O apetrecho, diz Camille, tem regulação ajustável e não incomoda: “você não bambeia em nenhum segundo”.
“Essa é uma prótese diferente. A parte do joelho é diferente, e ela tem regulação para até 10 cm. Você regula atrás, o salto vai aumentando o quanto você quer e aí dá para usar normalmente”, explica. “A prótese é toda feita para isso”, diz a atleta, que aos 20 anos é uma das promessas brasileiras do esporte adaptado, com expectativa de bom desempenho nos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016.
Camille compete em três provas em Montreal, ainda sem se destacar a nível internacional: foi à final dos 100 m livre S9 e dos 50 m livre S9; voltará às piscinas no domingo, para os 100 m costas. Está ganhando experiência. No resto do tempo, afirma, não é alvo de muitas cantadas. “Todo mundo recebe, vale a gente recusar ou aceitar. Mas não acontece muito”, despista.
O repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro