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Falta de técnico ameaça hegemonia brasileira em nova classe da vela

Martine Grael e Kahena Kunze abrem o ciclo olímpico para 2016 na classe 49er FX com três títulos, mas nenhum patrocínio ou verba capaz de bancar períodos de treinamento

20 mar 2013 - 07h56
(atualizado às 07h56)
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Martine e Kahena apostaram em classe recentemente incluída no programa olímpico: 49er FX
Martine e Kahena apostaram em classe recentemente incluída no programa olímpico: 49er FX
Foto: Fred Hoffmann/ZDL / Divulgação

A falta de técnicos capacitados e de dinheiro para pagar por eles está estragando o excelente início de ciclo olímpico das brasileiras Martine Grael e Kahena Kunze na vela. A dupla, líder do ranking mundial da classe 49er FX após três títulos conquistados em 2013, chegou a preparar projeto junto à Lei de Incentivo ao Esporte para arrecadar verba, mas, sem patrocinadores, já vê a hegemonia ameaçada ainda a curto prazo – a longo prazo, o problema pode chegar aos Jogos Olímpicos de 2016.

O trabalho sob constante orientação técnica é necessário porque a 49er FX é uma classe que foi recentemente incluída no programa olímpico, estreará nos Jogos do Rio de Janeiro. Martine, que competiu em Londres 2012 na classe 470, e Kahena, que não tem experiência sólida em classes olímpicas, estão desenvolvendo o conhecimento do barco. “Temos muita coisa a aprender, a gente sente isso”, disse Martine ao Terra.

No Brasil, não há técnicos capacitados para a nova classe da vela olímpica. A solução, então, seria contratar um treinador estrangeiro, algo que não sai barato: o trabalho é pago por diárias, que não saem por menos de US$ 500 (R$ 985), segundo Martine. Ele ficaria com a dupla durante períodos específicos de treinamento e a acompanharia nas competições, o que configura, portanto, um maciço investimento financeiro. “É um dinheiro que a gente não tem”, define a velejadora.

Martine e Kahena estrearam no ciclo olímpico com vitórias e liderança do ranking mundial
Martine e Kahena estrearam no ciclo olímpico com vitórias e liderança do ranking mundial
Foto: Fred Hoffmann/ZDL / Divulgação

A saída, por enquanto, é treinar com os homens da classe 49er e aproveitar o conhecimento deles para desenvolver o trabalho. No Brasil, há apenas outras duas outras duplas femininas. Com isso, a integração dos barcos é comum, embora o usado pelos homens, com área vélica, seja mais rápido. Durante a Semana Brasileira de Vela, disputada no Rio de Janeiro e que definiu a Seleção Brasileira da modalidade, Martine e Kunze ficaram à frente de uma dupla masculina, terminando em sexto de 10 embarcações.

“Nós treinamos sozinhas, às vezes com ajuda dos homens que velejam na 49er masculina. Vamos buscando informação, mas isso não é como ter um técnico. Conseguimos nos dar bem até agora, mas a longo prazo é importante ter um treinador”, apontou Martine Grael. Além da Semana Brasileira de Vela, a dupla brasileira venceu o campeonato americano e a etapa da Copa do Mundo Miami OCR, ambas na Flórida.

No dia 24, embarca para a Europa, onde a dificuldade deve aumentar. Isso porque nem todas as duplas estão formadas para o ciclo olímpico e parte delas não competiu nos Estados Unidos. A expectativa é de fazer três competições na Europa, onde o nível é maior. “A gente ainda não conhece todo mundo, mas sabe que estão todos aprendendo. Ninguém está de brincadeira. Para todos, isso é para valer”, apontou Martine Grael

O caminho certo para classe radical

Velejadoras fizeram projeto para captar recursos, mas não conseguiram interessados
Velejadoras fizeram projeto para captar recursos, mas não conseguiram interessados
Foto: Fred Hoffmann/ZDL / Divulgação

A filha do multicampeão Torben Grael (cinco medalhas olímpicas na vela) conseguiu a vaga brasileira para a classe 470 ao lado de Isabel Swan no Mundial de Perth, em 2011, mas não confirmou a colocação, sendo passada para trás por Fernanda Oliveira e Ana Barbachan. Mesmo assim, foi a Londres como integrante do Projeto Vivência Olímpica, que levou 10 promessas para “quebrar o gelo” no maior evento do mundo, já de olho em 2016. Depois disso, ela tomou a decisão de romper a parceira com Swan.

“Foi bem difícil porque eu tive campanha muito boa com a Isabel. Mas o mais importante é que estou me sentindo bem adaptada, tomei o caminho certo”, afirmou Martine, que classificou a classe 49er como mais exigente fisicamente, mais ágil: “é uma classe mais radical, algo que me atraiu muito. É muito gostoso”. Para isso, escolheu Kahena Kunze como parceira, com quem venceu o Mundial da Juventude em 2009 na classe 420.

“Conheço ela há bastante tempo e acho que, para fazer uma campanha olímpica, você tem que ter motivação, uma cabeça muito boa, ser calma em alguns momentos de pressão e não perder a cabeça. Essas são as qualidades da Kahena e que me fizeram apostar nessa mudança”, disse a velejadora, esperançosa e confiante com a liderança do ranking mundial. “Profissionalmente é muito bom, porque mostra que estamos com tudo e vamos dar trabalho”.

Fonte: Terra
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