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Conca e Montillo: de esquecidos na Argentina a astros

28 nov 2010 - 13h56
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Dassler Marques
Direto do Rio de Janeiro

Os dois melhores jogadores do Campeonato Brasileiro, Darío Conca e Walter Montillo, são argentinos. Quantas e quantas vezes você já ouviu essa afirmação? O curioso nisso tudo, deve ser dito, é que nenhum dos dois conseguiu se destacar em seu país natal. Eram apontados como promissores mas, sem espaço, precisaram voar até o Chile para realmente mostrar um grande futebol e despertar o interesse de brasileiros. As trajetórias de Conca e Montillo são acidentadas, inesperadas e surpreendentemente idênticas.

Conca, um ano mais velho, esteve com Montillo em seleções de base no início da década. Aos 15 anos, já estreara profissionalmente com o pequenino Tigre, e atraiu o interesse do River Plate. Foi natural que houvesse expectativa grande em torno dele, que em dois anos de River não conseguiu se firmar.

"O primeiro culpado sou eu. Não tive a chance que eu acho que deveria, mas também porque não joguei no melhor momento e ocorreram problemas particulares. Havia grandes jogadores no River e não consegui ter aquela chance. Quando tive, não aproveitei como queria", explica Conca em entrevista exclusiva ao Terra.

O jornalista argentino Ariel Judas, da Radio Marca, culpa o River Plate por subaproveitar aquele que é, para muitos, o melhor jogador deste Campeonato Brasileiro. "Sempre foi bem conceituado pela mídia e as equipes argentinas jamais apostaram seriamente nele. River foi o grande culpado por não prestar atenção à qualidade do jogador e até hoje não se reconhece Conca como um grande jogador. Os meios de comunicação talvez tenham responsabilidade, porque não veem devidamente o futebol no Brasil", analisa.

Montillo, por sua vez, teve quatro temporadas no San Lorenzo, de 2002 a 2006. Raríssimas vezes foi titular absoluto e caiu na tentação de um empréstimo ao futebol mexicano, onde a projeção de carreira quase nunca é tão grande quanto os salários pagos. Ainda retornou ao seu clube de origem na Argentina, em 2007, e só reforçou a descrença em torno de si. Ramón Díaz, treinador àquele momento, nunca contou com ele.

A volta por cima no futebol chileno

Ariel Judas traz uma definição interessante sobre a reviravolta que Conca e Montillo deram, respectivamente, pela Universidad Católica e pela Universidad do Chile. "O jogador argentino que chega ao país chileno em geral é visto como melhor do que realmente é. A moral deve crescer bastante ao se pisar no aeroporto de Santiago e isso sempre ajuda", opina. De fato, para os dois melhores deste Campeonato Brasileiro ajudou bastante.

Conca chegou à Católica, marcou gol já em seu primeiro jogo e não saiu mais do time. Foi campeão chileno em 2005 e levou seu time até as semifinais da Copa Sul-Americana. Liderando a equipe, já despertava o interesse de clubes brasileiros em 2006. Ainda estava vinculado ao River Plate, que exigiu seu retorno. Conca deixou o o Chile como rei, mas as coisas mais uma vez não foram bem.

"Fui para um lugar onde me senti cômodo, importante para o grupo e para o clube desde o momento em que cheguei", conta o agora ídolo do Fluminense sobre o desembarque em Santiago. "Meu treinador (Jorge Pellicer) me deu liberdade para jogar, me apoiou. Ele dizia para mim que, independente de como estivesse jogando, sempre iria jogar. Essa confiança me ajudou muito e o país também sempre me tratou muito bem, foi espetacular". Na volta para o River, porém, Conca não teve o mesmo tratamento.

"Prometeram que eu iria ficar e me encontrei treinando em separado do grupo quando voltei. Estou feliz com tudo que vem acontecendo na minha carreira, mas é difícil aceitar que não consegui jogar na Argentina", admite El Pibito, como é conhecido em seu país. Rapidamente, ele seria emprestado ao Rosario Central, que montou time com jogadores importantes como Kily González, mas não vingou.

Montillo saiu da Argentina basicamente por razões econômicas. Disposta a apostar em seu futebol até então quase escondido, a Universidad do Chile enviou uma proposta de US$ 1 milhão ao San Lorenzo, que não pensou duas vezes. "É um dinheiro que os clubes grandes argentinos necessitam de maneira imperiosa", define Ariel Judas.

Na época, Montillo se tornou a maior contratação de um clube chileno, o que foi superado pelo Colo-Colo, tempos depois, ao contratar Macnelly Torres. O argentino, que firmou cinco anos de contrato, justificou o investimento. Comandou o time ao título nacional em 2009 e, na Libertadores deste ano, levou "La U" até a semifinal - o melhor desempenho da equipe ao lado das temporadas 1970 e 1996. Daí até a transferência ao Cruzeiro foi um salto natural.

"Foi muito parecido comigo. Ele foi para o Chile, se destacou muito, e o que ele fez foi bem melhor que eu, sem dúvida", observa Darío Conca. "Hoje aqui no Brasil demonstra o jogador que é. É muito importante, todos sabem, é jogador de seleção. Lamentavelmente, na Argentina, não conseguiu ter aquele campeonato brilhante que está tendo aqui. Fico feliz de vê-lo na situação que está, torço para que chegue até a seleção".

Nunca lembrados para a seleção argentina, que tem problemas no setor de armação e só vê Pastore, do Palermo, como opção confiável, Conca e Montillo seguem trabalhando por essa oportunidade. Não há dúvidas de que fazem por merecer um pouco mais da atenção de Sergio Batista.

Conca precisou de chance no futebol chiileno para se afirmar
Conca precisou de chance no futebol chiileno para se afirmar
Foto: Ide Gomes / Futura Press
Fonte: Terra
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