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Algum dia a China vencerá a Copa do Mundo? "Nunca", dizem especialistas

30 abr 2016 - 10h04
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O governo da China revelou neste mês que seu plano para desenvolver o futebol no país tem como um dos objetivos torná-lo uma potência do esporte até 2050, mas especialistas veem com ceticismo tal ambição.

A ideia por trás da qual muitos veem desejos pessoais do presidente da China, Xi Jinping, um fã confesso da modalidade, prevê 20 mil novas escolas de futebol, 70 mil campos adicionais e um total de 50 milhões de jogadores até a metade deste século. Tudo isso com o desejo de ver a seleção local conquistar o título mundial.

A expectativa é grande, mas para pessoas como o britânico Rowan Simons, que está há 30 anos trabalhando no futebol chinês, há erros de concepção, pressa excessiva e incapacidade de compreender que, para triunfar no futebol, é necessário vê-lo não apenas como um negócio.

"A China nunca vencerá a Copa. Pelo menos eu não verei em vida isso acontecer. Há países com 100 anos de paixão pelo futebol que ainda não chegaram lá, como Holanda e Rússia", comentou Simons, que nos anos 80 criou com amigos a primeira equipe amadora em Pequim e na década seguinte foi comentarista do Campeonato Inglês na televisão chinesa.

Empresários chineses do ramo também não se mostram muito otimistas diante do plano estatal, que também inclui tornar o futebol uma disciplina obrigatória nas escolas.

"As pessoas sempre me perguntam quando vamos ter um C-Luo (apelido de Cristiano Ronaldo na China) ou um Messi, e eu lhes digo que voltem a me perguntar em 30 anos", disse Bai Qiang, cofundador da empresa Sport 8, maior firma chinesa dedicada ao futebol de base, junto com o meia holandês Wesley Sneijder.

O problema, comentaram Bai e Simons em uma conversa sobre o futuro do futebol chinês, é a falta de uma cultura sobre as virtudes do exercício físico no país asiático, onde o esporte foi sempre um instrumento de propaganda do Estado e, portanto, não é apreciado pelo cidadão comum.

"Os pais desencorajam as crianças quando elas querem fazer esporte", revelou Bai. "Gastam-se 600 bilhões de iuanes (cerca de R$ 330 bilhões) em aulas extracurriculares, mas quase tudo vai para música, arte, matemática... Uma ínfima fração vai para o esporte", completou.

No entanto, nem tudo é pessimismo. Para Simons, o plano para fazer com que a China chegue ao nível de potências como Brasil e Argentina até 2050 é "o mais razoável que já se viu em uma instituição chinesa em qualquer setor", por sua visão a longo prazo e sua intenção de separar a federação chinesa do Estado.

"É irônico que tenha sido o Partido Comunista que decidiu isto, deveria ter sido a Fifa a encarregada de separá-los", destacou o guru do futebol chinês, cujas ideias, acredita-se, influenciaram no plano governamental.

A teoria é boa, mas a execução, na visão de Simons, nem tanto. "Desde que o governo começou a implementar as ideias, no ano passado, nada de bom aconteceu e muito dinheiro foi esbanjado", criticou.

Entre esses esbanjamentos, o estudioso menciona as grandes compras de ações de clubes europeus por firmas chinesas, como os 20% do Atlético de Madrid adquiridos pelo gigante imobiliário Wanda, ou os 13% do Manchester City por CMC e Citic.

"Também estão pagando muito a estrelas estrangeiras que recebem até US$ 300 mil semanais, há contratações de até US$ 40 milhões. Todos são exemplos de uma avalanche amalucada de dinheiro no futebol, como resposta a uma direção governamental", comentou.

Trata-se de muito dinheiro em um país que ainda não tem verdadeira cultura futebolística, ressaltou Feng Tao, outro empresário do setor. "Os torcedores do Beijing Guoan (dos brasileiros Ralf, Renato Augusto e Kleber) vão ao estádio para insultar e gritar. Entendo que isso acontece em muitos países, mas é que eles fazem isso sem olhar para o campo", queixou-se Feng, fundador da Shankai Sports, líder nacional em marketing esportivo.

Equipes como Real Madrid e Barcelona aproveitaram a febre chinesa para abrir escolas com seu nome em grandes cidades do país, que, segundo os três especialistas, são até boas, mas muito caras e insuficientes.

"Na do Real, na província do Cantão, ensinam futebol a cerca de 3 mil crianças, das quais mais ou menos 80 irão à Espanha. Quantos ficarão na Europa? A resposta é zero. Com uma base tão pequena, seria surpreendente que surgisse uma estrela", declarou Simons.

A China tem um sonho futebolístico e muito dinheiro para tentar realizá-lo, mas para os três especialistas, isso de nada servirá sem décadas de paciência e sem se dar conta de que o futebol, antes de um negócio, é algo divertido, saudável, que ensina lealdade, trabalho em equipe e amizade, como salientou o britânico.

EFE   
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