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Após ‘intervenção divina’, herói brasileiro quer vida nova no Porto

15 ago 2013 - 20h05
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Aos 47 minutos do segundo, o Benfica segurava o empate com o Porto por 1 a 1 e deixava encaminhada a conquista do Campeonato Português da temporada 2012/2013. No jogo do dia 11 de maio, os Encarnados só não contavam com o belo gol de Kelvin. O chute cruzado, após assistência de Liedson, deixou os Dragões com a mão na taça e deu ao garoto ainda pouco conhecido em terras brasileiras o status de herói de um título que parecia perdido segundos antes.

Se em Portugal fez a torcida portista invadir o gramado com o golaço no clássico decisivo contra o rival Benfica, Kelvin teve pouco mais de um ano para mostra a cara no Brasil. Lapidado desde a infância nas categorias de base do Paraná Clube, o meia-atacante cresceu com os olhos voltados às artes de Robinho com a camisa do Santos, da Seleção Brasileira e do Milan e chegou a ser especulado no Palmeiras no início de 2011.

Agora, porém, quer estabelecer o próprio nome no futebol mundial a partir da próxima temporada em Portugal, que tem início marcado para esta sexta-feira com o duelo entre Paços de Ferreira e Sporting Braga. O Porto estreia domingo ao visitar o Vitória de Setúbal.

Pelo Tricolor Paranaense, o jovem de 20 anos se destacou durante a Série B do Campeonato Brasileiro de 2010 e no Estadual do ano seguinte, quando despertou de vez o interesse do Porto. Franzino e sem experiência, foi emprestado ao Rio Ave, time intermediário em Portugal, e precisou de uma temporada para convencer os Dragões de que a aposta traria resultados em um futuro não tão distante.Na temporada passada, alternou entre o time principal e a equipe B do Porto, e sendo chamado para disputar partidas decisivas na reta final do Campeonato Português. Pela 25ª rodada, foi lançado no segundo tempo diante do Braga com a partida empatada em 1 a 1 e marcou dois gols para selar a vitória. Três jogos depois, Kelvin voltou a ter participação heroica e, sem meias palavras, quebrou o protocolo dos boleiros videntes que afirmam ter sonhado com gols importantes ao dizer que o lance diante do Benfica "caiu do céu".

Confira a entrevista com Kelvin:

GazetaEsportiva.net - Quais foram as principais dificuldades que você encontrou nas categorias de base?

Kelvin - Acho que a principal dificuldade que tive foi em relação ao porte físico. Eu era mais magro do que sou hoje, era pequeno e os outros jogadores já eram mais fortes e mais experientes. Eu tinha uns 14, 15 anos e já jogava com os jogadores de 16 e 17, às vezes 18 anos. Para mim isso às vezes era uma dificuldade, mas também foi muito bom, porque aprendi as coisas de forma mais rápida, pegando experiência com esses jogadores mais velhos. Procurei ajuda de uma nutricionista e isso também me ajudou muito a crescer.

GE.net - Qual a importância do Paraná Clube em sua formação como pessoa e como atleta?

Kelvin - O Paraná foi muito importante, tive uma vida lá dentro. Comecei desde os nove anos no futsal, fiquei por três anos e depois que fui para o futebol de campo. Ali continuei até subir para o profissional aos 17 anos. Só tenho a agradecer tudo o que fizeram por mim, toda a estrutura que me deram ali dentro. Nunca vou esquecer isso, é muito significante para mim.

GE.net - Qual seu ídolo, seu espelho dentro de campo?

Kelvin - Olha, me identifico muito com o Robinho, gosto muito do estilo de jogo dele desde a época em que ele jogava no Santos (o atual jogador do Milan teve duas passagens pelo Peixe: de 2002 a 2005 e no primeiro semestre de 2010). Gosto de vê-lo jogar e procuro seguir os passos dele.

GE.net - Quem foi seu principal incentivador na família? E dentro do Paraná Clube?

Kelvin - Minha família inteira, meu pai e minha mãe, dentro de casa nunca me deixaram de lado. Sempre nas maiores dificuldades eles estavam ali do meu lado me dando forças. Passei por momentos difíceis e eles nunca me abandonaram, nunca me deixaram cabisbaixo ou que eu me abatesse por essas coisas ruins. Só tenho a agradecer isso e espero dar retorno a eles. Dentro do Paraná não teve uma pessoa específica, mas todos os treinadores, todos os diretores me deram apoio, sabiam do meu potencial e acreditaram em mim. Não tem uma pessoa especial, foi geral que me deu esse apoio.

GE.net - Como você encarou o interesse do Porto em 2011 sendo tão jovem?

Kelvin - Por ser muito cedo, com apenas 17 anos, foi uma surpresa ter um grande clube europeu e mundial atrás de mim. É um sonho de qualquer menino brasileiro como eu jogar na Europa, ainda mais em um clube grande como o Porto. Foi uma surpresa na época, mas foi ótimo. Fiquei muito feliz e aceitei logo de primeira, nem pensei muito na hora. Sabia que aqui eles me dariam uma estrutura boa.GE.net - Era seu desejo jogar na Europa ou se arrepende de ter saído tão cedo?

Kelvin - Não me arrependo, não. Ainda mais por tudo o que tem acontecido na minha vida. Não tenho motivos para me arrepender. Eu encarei, sabia que por ser novo teria a dificuldade de não jogar. Sabia que precisaria ter paciência de esperar o momento certo. Tive que ter calma, encarei tudo isso de frente e graças a Deus posso olhar para trás, para tudo que passei desde que cheguei aqui e posso agradecer.

GE.net - Foi sozinho para Portugal? Como foi a adaptação?

Kelvin - No primeiro momento vim com meus pais, com a família toda e eles ficaram aqui por um ano, enquanto estive emprestado ao Rio Ave. Foi bom para mim, me ajudou. Quando eu não jogava, ficava um pouco bravo e eles estavam ali para me acalmar. No ano passado eu vim sozinho, ja tinha aquele apoio, mas poderia ficar sozinho.

GE.net - O elenco do Porto te recebeu bem? Qual o tratamento da comissão técnica e da diretoria?

Kelvin - Todos me receberam muito bem aqui. Eu também só procurei ajudar o clube da melhor forma possível. Só tenho a agradecer por tudo o que já fizeram e o que estão fazendo por mim. Está sendo tudo muito maravilhoso e espero que continue cada vez mais.

GE.net - Percebeu muitas diferenças entre Brasil e Portugal?

Kelvin - Tem muita diferença. É parecido, mas com muita diferença em termos de cultura e alimentação. Quando você chega, você sente mais essas diferenças, não sabe nada, não conhece os lugares e não sabe aonde ir. Isso dificulta no começo. Agora já estou mais adaptado no país, já sei onde tem tudo, já posso sair sozinho por aí que me viro.GE.net - Como foi o período emprestado ao Rio Ave? E no time B do Porto?

Kelvin - Foi positivo. Era um clube da primeira divisão, um bom clube e que tinha bons jogadores e um bom técnico que poderiam me dar um apoio, um segmento. Fui para lá e fui feliz, pois me colocaram para jogar, me colocaram para entrar no ritmo do futebol europeu. Até então eu só tinha o ritmo do futebol brasileiro. Nunca tinha ido para fora, sequer tinha jogado em outro clube. Entrei nesse novo ritmo no Rio Ave com maior frequência de jogos. Estou mais evoluído por isso. No time B do Porto também foi bom, para dar ritmo de jogo. No time principal entrava dez, cinco minutos, e não pegava ritmo. No B eu pude jogar quando não era chamado pelo técnico (Vítor Pereira). Fiz bons jogos, tive mais ritmo, fiz dois gols contra o Sporting Braga e voltei para a equipe B para ter sequência e confiança. Quando voltei para o enfrentar o Benfica já estava confiante que ajudaria a equipe.

GE.net - Acreditava que ganharia chances entre os titulares? Imaginou que seria decisivo, que faria o gol do título?

Kelvin - Para falar bem a verdade, não imaginava, por tudo o que estava acontecendo. Estava jogando mais pela equipe B, não vinha sendo utilizado na equipe A. Caiu do céu mesmo, mas nunca deixei meu trabalho de lado, sempre trabalhei forte para que esse momento chegasse. Então chegou na hora certa. Caiu do céu, mas eu estava preparado para seguir. Fiz dois contra o Braga e depois fiz o gol decisivo contra o Benfica. Nunca deixei o trabalho cair, mas não esperava que tudo fosse acontecer daquela forma e naquele momento.

GE.net - Durante o jogo, seus companheiros acreditaram na virada?

Kelvin - Acho que sim. A decisão do placar foi no final, mas o jogo só acaba quando o árbitro apita. Nós sempre estamos nessa de continuar até o fim, porque sabíamos que podia acontecer alguma coisa, tínhamos força para isso. A equipe acreditou até o fim e foi no fim que nós decidimos.

GE.net - Acha que as saídas do James Rodríguez e do João Moutinho para o Monaco vão te beneficiar?

Kelvin - Só por serem da posição, atuando mais à frente, que abriu o espaço para mim com a saída deles. Mas também chegaram outros (como o colombiano Juan Quintero, ex-Pescara, e o argentino Juan Iturbe, retornando de empréstimo) e já tínhamos ótimos jogadores aqui no plantel. Acontece que a saída deles não garante ninguém na posição. Vou continuar meu trabalho para que eu possa ajudar, dar continuidade, jogar mais. Tudo o que passei no Rio Ave, tudo que joguei na equipe B, quero fazer na equipe A. Quero ter uma sequência maior. Trabalharei forte, quero fazer gols e bons jogos para ajudar a equipe.

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