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Nascido no Tetra, joia do Goiás deixou campo para brilhar

16 nov 2014 - 10h00
(atualizado às 10h06)
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<p>Erik é o artilheiro do Goiás na Série A com 10 gols</p>
Erik é o artilheiro do Goiás na Série A com 10 gols
Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC/Divulgação / Divulgação

Todos os dias o futebol revela histórias impressionantes de como o esporte pode mudar a vida de uma pessoa. Muitos outros sonhos ficam pelo caminho, mas quando a chance é dada ela precisa ser agarrada com toda a força. Assim, o jovem Erik, 20 anos, revelação do Goiás e umas das principais do Campeonato Brasileiro Série A fez com a oportunidade que passou em sua porta.

Nascido com a benção do tetracampeonato mundial, um dia após a conquista nos EUA, Erik viveu sua infância com o futebol no imaginário. O garoto de Novo Repartimento, cidadezinha do interior do Pará, nem imaginava o que estaria por vir quando deixou sua terra para se aventurar em Goiânia.

Erik fala com orgulho da origem humilde que teve na infância. Lembra com carinho das fotos de Romário pela casa, fruto do fanatismo de seu pai Bernardo, seu grande incentivador. Como não tinha TV em casa, nem mesmo energia elétrica, o futebol era fruto do imaginário e das “peladas” de seu pai com os amigos.

Sem muito recurso, Erik usava uma bolinha retirada do desodorante roll-on para jogar futebol. Fazia seu campo, imaginava seus adversários e seus lances. Como morava na roça, não tinha vizinhos ou amigos por perto. Trocou o brinquedo improvisado pela bola de futebol quando foi para Goiânia e cresceu no futebol dentro do Goiás.

<p>Érik comemora gol e faz homenagem à namorada</p>
Érik comemora gol e faz homenagem à namorada
Foto: Adalberto Marques / Agif / Gazeta Press

Erik apareceu para o cenário nacional quando foi artilheiro da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2013. Na campanha do vice-campeonato do Goiás, o atacante marcou oito gols e foi decisivo. Passou por seleções de base, para onde espera voltar um dia. Tem esse sonho bem fixo na cabeça.

No Campeonato Brasileiro Série A deste ano, Erik se transformou no principal jogador esmeraldino. É o artilheiro do time com 10 gols na competição, tem 15 na temporada. Seu contrato com o Goiás termina em 2018, mas todos na Serrinha admitem que será difícil segura-lo até lá. Enquanto segue no Goiás, Erik disse que quer gravar seu nome no clube por tudo o que recebeu desde que deixou Novo Repartimento para viver seu sonho.

Confira a entrevista concedida ao Terra:

Terra - Como era sua vida antes de vir para o Goiás, lá em Novo Repartimento, no interior do Pará?

Erik - Fui um garoto simples e levava uma vida bem simples, no interior, longe da cidade grande, eu não tinha vizinhos, o mais próximo era cerca de dois quilômetros. Era algo bem distante da realidade do futebol, longe de Belém, longe do Paysandu, do Remo, das escolinhas mais próximas, eram tudo a mais de 500 km. Não existia futebol profissional, só amador mesmo lá em Novo Repartimento. Aos 10 anos o futebol surgiu em minha vida através do Goiás Esporte Clube.

Erik acertou duas vezes o travessão e marcou no final
Erik acertou duas vezes o travessão e marcou no final
Foto: Marcello Dias / Futura Press

Terra - O que seus pais faziam lá?

Erik - Meu pai e minha mãe trabalhavam na roça, plantavam arroz e feijão, aquela plantação simples. Sempre que eu podia ia com meu pai, era pequeno mas sempre acompanhava, observava e ajudava em alguma coisa. Era uma vida bem interiorana mesmo, de pescar no lago, não tinha energia elétrica, não tinha TV, a luz era acesa com a famosa lamparina. Era bem humilde.

Terra - Não tinha eletricidade, não tinha TV, quem te apresentou o futebol?

Erik - Meu pai sempre foi fanático por futebol. Como no interior tem algumas vilas, meu pai tinha um time que chamava Cruzeirinho e ele sempre me levava para esses torneios que ele disputava. Ele juntava os amigos do povoado, formava equipe e eu sempre acompanhava. Não tinha nada profissional, tudo muito amador, mas meu pai foi sempre o grande influenciador para eu ver o futebol com outros olhos.

Terra - Sem vizinhos próximos, seu irmão era bem mais novo, como você fazia para jogar futebol? É verdade que você jogava com a bolinha do desodorante?

Erik: É verdade, eu jogava com a bolinha do desodorante roll-on. Eu pegava dois paus e fincava na terra, coloca outro por cima e fazia o gol. Pegava as botas do meu pai e colocava como goleiro, a bolinha de roll-on como a bola de futebol, e acabava brincando sozinho, falava comigo mesmo e criava meus adversários imaginários. Porque não tinha praticamente vizinhos ou amigos, meu irmão era mais novo e não gostava de futebol, era algo muito meu mesmo. Depois vim para o Goiás, conheci a bola de verdade e tudo mudou mesmo.

Erik comemora título com Seleção Brasileira sub-20
Erik comemora título com Seleção Brasileira sub-20
Foto: Goiás EC/Divulgação / Divulgação
Terra - Como você foi parar no Goiás?

Erik - Foi algo bem do acaso mesmo. Eu estava assistindo a um treino e um menino com o mesmo número do meu pé acabou se machucando. O Serginho Africano, que trabalhava no Goiás, me viu fora do campo e pediu para que eu completasse. Fui bem no joguinho e ele me chamou no outro dia, perguntou se eu não queria ficar para estudar. Mas eu era da roça, não entendia muito o que era uma cidade grande e queria voltar para o Pará, ainda tinha um sotaque muito forte do Pará (risos). Sou muito grato a ele e ao próprio Goiás, que a partir daquele dia abriu as portas para mim. Já vai fazer onze anos que estou aqui, parece que foi ontem que eu cheguei e eu era aquele menininho do interior. Hoje estou me tornando um ídolo do Goiás.

Terra - Por falar em ídolo, quem é seu ídolo no futebol?

Erik - Como nasci em 1994, meu pai sempre teve em casa quadros do Romário de do Bebeto. Eu nasci um dia depois do tetra. Meu pai brinca lá em casa que quando o Romário e o Bebeto estavam dando o título para o Brasil, um dia depois eu estava nascendo. Ele estava até com medo de os médicos estarem todos em festa e não ter nenhum lá em Novo Repartimento. Mas deu tudo certo (risos). O Romário, dentro de campo, é um dos grandes ídolos pelo o que fez pela Seleção Brasileira, pelo Barcelona e pelos clubes do Rio de Janeiro. Eu fico até vendo alguns vídeos dele antes dos jogos aqui no Goiás, porque é um grande ídolo. Tem o Neymar também hoje em dia, apesar de ser novo, posso até jogar com ele um dia, ou contra, mas é um grande jogador que admiro muito. Até pelo amadurecimento, um garoto tão novo e conquistar tudo que conquistou.

Terra - E no Goiás, quem é seu ídolo?

Erik: Até joguei junto aqui no Goiás umas duas ou três partidas, o Araújo. É um grande atacante, um grande jogador, que eu admiro muito e que fez uma bela história aqui. Quando eu surgi aqui na base, sub-12 e sub-14, era chamado de “Araujozinho” pela velocidade e ficava muito grato. Não imaginava jogar com ele por causa da idade, mas acabamos nos encontrando aqui. Nos tornamos grandes amigos, é um ídolo e um amigo.

Terra - Dá para perceber que você amadureceu muito desde a Copinha. Como foi esse tempo, o que passou na sua cabeça?

Erik - Foi um período muito bom, de degraus altos. Não imaginava estar entre as revelações do campeonato, claro que sempre almejei grandes sonhos, como voltar para a seleção, mas não imaginava que aconteceria tudo isso. Sou um garoto muito tranquilo, sempre espero o momento certo, tive que ter o processo de paciência no ano passado. Não tive problemas com o Enderson, aprendi muito com ele, sou grato pela fase de amadurecimento. Hoje estou preparado para segurar a camisa do Goiás, para bater no peito e assumir as responsabilidades.

<p>Erik foi campeão do Toneio de Toulon, na França, com a Seleção Brasileira Sub-21, em 2013. O atacante anotou um dos gols da campanha do Brasil</p>
Erik foi campeão do Toneio de Toulon, na França, com a Seleção Brasileira Sub-21, em 2013. O atacante anotou um dos gols da campanha do Brasil
Foto: AFP

Terra - Com o sucesso, o assédio se torna difícil de segurar. Como você lida com propostas?

Erik: Hoje em dia, um garoto de 20 anos quando surge já pensa em ganhar dinheiro. Eu penso diferente, quero me afirmar aqui no Goiás, fazer uma história, construir meu espaço e ir para a Seleção saindo do Goiás, o que seria muito importante. Em relação às propostas, todos os dias existem cogitações, propostas já chegaram para a minha família e para o meu empresário, mas procuro deixar para eles resolverem. Até a própria diretoria do Goiás está tratando isso muito bem. Além disso, outras coisas como candidato a revelação, craque da galera, estão acontecendo, mas estou focado no campo.

Terra - Você foi para Toulon com o Alexandre Gallo. Ficou decepcionado por não ter sido chamado nas últimas convocações? Como trata essa questão de Seleção?

Erik - Estou vendo a Seleção com outros olhos, respeitando essa fase de mudança. É bom ver alguns amigos sendo convocados, sei que no momento certo vou ter minha oportunidade e quando tiver vou estar preparado para agarrar aquela camisa amarela e não largar mais. Seleção é algo que almejo há algum tempo, fui no ano passado e ganhei dois torneios, foi muito importante. Esse ano estou muito focado, trabalhando firme e quem sabe nesse fim de ano ainda pode pintar uma convocação.

Erik observa instruções de Ricardo Drubscky
Erik observa instruções de Ricardo Drubscky
Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC/Divulgação / Divulgação

Terra - Quando saiu de Novo Repartimento tinha dimensão de onde chegaria? E agora, onde pode chegar com o futebol?

Erik - Saí do interior do Pará não fazia ideia do que era um time profissional. Eu sempre sento com meus pais para conversar como foi o dia, falo que não cresci como jogador do Goiás, mas como um profissional fora do campo, é muito importante. Fico falando para os garotos da base que aqui em cima a água é mais gelada, o vento é mais gostoso, então é sempre bom valorizar o clube que o revela. Quando você chega, tem que dar valor, vou te falar. Aqui no Goiás vejo isso, vejo também que posso chegar mais longe. Acredito que posso chegar um dia à Seleção Brasileira, mas sempre degrau por degrau, respeitando cada espaço.

Terra - Você fala dando conselhos para garotos da base, com quem você treinava e jogava há tão pouco tempo. Você já vê o sucessor do Erik lá na base, caso você tenha que deixar o clube?

Erik - Foi muita rápida essa ascensão, foi uma transição muito boa para a minha carreira. Estar entre as revelações da competição é muito bom isso. Apesar de ter 20 anos, gosto muito de acompanhar os jogos da base e sempre converso com os meninos, tem grandes jogadores. Não vejo ainda um substituto (risos), ainda não penso em sair do Goiás. Mas tem grandes jogadores ali como o Murilo, que treina com a gente, o Jarlan com quem joguei na Copa São Paulo e admiro muito. Sempre falo, não abaixa a cabeça, vamos trabalhar sempre sorrindo e buscando voos mais altos que você vão chegar.

Veja os gols de Goiás 3 x 0 Bahia pelo Brasileiro:
Fonte: MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra
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