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Torcida do Corinthians faz São Paulo tremer em "virada popular"

1 set 2010 - 08h02
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Allan Farina
Direto de São Paulo

O centro de São Paulo recebe diariamente pessoas de diversos locais, origens e raças. Na noite da última terça-feira, a região foi recheada por uma multidão simultaneamente diversa e homogênea. A comemoração do centenário do Corinthians levou milhares de torcedores ao Vale do Anhangabaú, promovendo uma festa do povo para o povo.

No palco, as atrações fugiram de qualquer conotação pomposa que uma data marcante como os cem anos de um clube poderiam trazer. O rock esteve presente com Japinha, Badauí (do CPM 22) e Paulão (do Velhas Virgens), além de uma apresentação do ídolo e ex-goleiro Ronaldo com sua banda. Para os fãs do pagode, os grupos Nuance e Exaltasamba animaram a noite.

Maria Cecília e Rodolfo levaram o sertanejo à festa, enquanto o rap foi representado por Xis, Rappin Hood e Negra Li. "Sou negrão! Hei! Sou Corinthians! Hou!, puxou Rappin Hood.

Mestre de cerimônias

A comemoração foi liderada pelo ex-jogador Neto, auxiliado pelo rapper Xis. O ídolo corintiano esteve solto, falando palavrões, escorregando no português e disparando brincadeiras provocativas a quem subia no palco. "Uma salva de palma a nossos atacantes. Mas bem que o Souza precisa fazer mais gol", comentou Neto.

O palco da festa corintiana recebeu nomes importantes da história do clube, sendo que a maioria ficou até o final da celebração. Ronaldo não esperou o encerramento entre seus companheiros, fazendo uma aparição rápida que levantou a torcida. "Eu não poderia passar minha vida sem vestir a camisa do Corinthians", disse o atacante.

Ainda que a presença de Ronaldo tenha animado os corintianos, a celebração cresceu ainda mais com a presença de Marcelinho Carioca, ídolo na década de 1990. "Vamos chamar o Marcelinho, ainda que eu não goste dele como pessoa", disse Neto. Pouco depois, os dois ídolos corintianos se abraçaram.

São Paulo treme

Geralmente dizer que uma torcida fez o chão tremer é apenas uma figura de expressão. Na festa da virada, porém, esta foi a realidade todas as vezes em que a animação da torcida se elevava. A terra se moveu pela primeira fez quando a dupla Maria Cecília e Rodolfo cantou o clássico de Tim Maia, Não Quero Dinheiro, canção que tem uma popular versão entre os corintianos.

O solo tremeu novamente quando o atacante Dentinho puxou a música Bando de Loucos, iniciando nova sessão de saltos da torcida. Quando as baterias das torcidas organizadas assumiram o palco, o terremoto tornou-se constante.

Não é possível determinar com precisão quantas pessoas estiveram presentes no centro de São Paulo. A primeira estimativa da Polícia Militar indicou 50 mil torcedores. Esta cresceu para 80 mil com o passar das horas. No final da festa, o policiamento considerava que ao menos 100 mil corintianos lotaram o Vale do Anhangabaú, número que pode (e deve) ser maior. "A estimativa é essa, mas devem ter umas 150 mil pessoas", disse um policial.

Torcedores subiram em uma estrutura de um dos telões que exibiam a festa, e um sério acidente foi evitado porque Neto parou a comemoração enquanto o grupo não descesse. "Vamo (sic) descer daí senão não tem mais festa", bradou o ex-jogador.

A celebração foi interrompida novamente por motivo similar para tirar corintianos dos galhos de árvores pelo Vale. "Essa festa é de família, vamos descer das árvores, galera", pediu Xis.

Hora da virada

Com a meia-noite se aproximando, Neto chamou elenco, comissão técnica e dirigentes do clube paulista para subir no palco, que ficou cheio. "Vamos bater palmas para os jogadores do Corinthians, que vão vencer o Brasileiro neste ano e a Libertadores no ano que vem", decretou o ídolo alvinegro.

O presidente Andrés Sanchez, emocionado, chamou o microfone e anunciou o "presente" dos 100 anos do clube, o estádio que será construído em Itaquera. Torcedores aplaudiam e vibravam com as palavras do dirigente, que seguia a "linguagem popular" de Neto.

"O maior presente para a torcida vai ser essa p... desse estádio", disse Sanchez. "Eu assinei o pré-contrato hoje e nós vamos ter a nossa casa. Estou presidente do Corinthians de passagem, mas o melhor para mim é respeitar e ser respeitado pela nação corintiana. Parabéns Timão!", afirmou.

A seguir, Sanchez iniciou a contagem regressiva para os cem anos do clube, enquanto números eram reduzidos segundo a segundo no telão até o zero. O dirigente não notou que era apenas 23h54, e ainda faltariam seis minutos para o dia do aniversário corintiano.

A emoção cresceu na torcida a partir dos dez segundos finais, e explodiu quando a contagem se encerrou. O Vale do Anhangabaú ganhou como trilha sonora o hino do Corinthians e uma ininteligível e feliz gritaria. Enquanto fogos e rojões iluminavam a noite paulistana, o telão do palco exibia imagens do projeto da arena corintiana.

Quando a meia-noite realmente chegou, os jogadores deixavam o palco, enquanto a pirotecnia já se aproximava do final. Mas isso não incomodou os corintianos, que prosseguiram comemorando enquanto aguardavam o encerramento da noite com o show dos pagodeiros do Exaltasamba.

Os torcedores se abraçavam, pulavam e festejavam como se fosse um Réveillon. A virada do centenário não foi uma simples comemoração de aniversário de um clube. A noite de terça-feira viu uma celebração simultaneamente individual e coletiva, fazendo com que a expressão "nação corintiana" faça mais sentido.

Festa do centenário do Corinthians agitou a noite de São Paulo
Festa do centenário do Corinthians agitou a noite de São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Fonte: Terra
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