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"Meus companheiros estão saindo e me deixando na mão", diz Jorge Henrique

14 ago 2009 - 17h44
(atualizado às 18h47)
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Gripado, o atacante Jorge Henrique, 27, recebeu a reportagem do Terra de boné virado para trás e bom humor. "Poxa, estou com essa cara de gripe", brincou. Jorge parece destinado ao Corinthians. Não bastasse usar a camisa número 23, ele ainda nasceu em um 23 de abril, mesmo dia do aniversário de São Jorge, padroeiro do clube.

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No fim de julho, Jorge falou sobre as dificuldades pelas quais passou no início da carreira, especialmente no Náutico, onde reclamou da alimentação - a diretoria do Náutico não retornou à reportagem do Terra para falar sobre o assunto.

Ele falou também das desconfianças que enfrentou dentro da própria família e como se tornou um dos jogadores mais importantes do esquema vencedor montado por Mano Menezes no primeiro semestre. Porém, lamentou o fato de os principais jogadores estarem deixando o clube.

O jogador só se emociona mesmo ao falar da adoração que sente por Sebastiana, a tia que virou mãe de criação. Jorge foi abandonado pela mãe biológica, de quem afirma não ter mágoas, e ficou orfão de pai aos 12 anos. Então, Sebastiana se tornou pai e mãe do atleta.

Mesmo tendo contrato assinado com o Corinthians até 2011, o atacante admite o desejo de jogar na Europa. Porém, quer permanecer no clube para disputar a Libertadores em 2010, ano do centenário do clube. Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva concedida ao Terra.

Terra - Como foi o início no futebol, quem deu a primeira oportunidade?

Jorge Henrique - Comecei na escolinha de base do núcleo do Vasco, uma escolinha que tinha lá em Resende. Um empresário do Recife me levou para fazer teste no Náutico e acabei passando. Fiquei cinco anos no Náutico. Em 2005 fui vendido para o Atlético-PR, clube no qual fiquei um ano e meio e não joguei, não tive muito sucesso. Depois fui para o Ceará, Santo André, Santa Cruz e depois cheguei ao Botafogo.

Terra - Você acha que despontou realmente no Botafogo?

Jorge Henrique - Sim, foi no Botafogo. Tive um carinho enorme da torcida, dos diretores, do próprio treinador Cuca que me contratou, então tenho certeza que no Botafogo foi onde eu eu me dei muito bem.

Terra - O que o Mano Menezes significa para você?

Jorge Henrique - O Mano Menezes representa tudo na minha carreira. É o homem que monta o time. Ele tem a minha confiança, eu confio muito nele e sei que ele também confia em mim. Então eu tenho certeza que dentro de campo, no esquema que ele armou, ele confiou no meu trabalho e por isso tenho certeza que meus três anos de contrato aqui vão dar muito certo.

Terra - Qual era o time do coração na infância?

Jorge Henrique - Não tinha um time de coração. Nunca fui a um estádio (como torcedor). A primeira vez que fui em um estádio foi para jogar. Meus amigos iam ao Maracanã e eu, por ser de uma família mais humilde, não tinha condições de ir. Por isso, acho, nunca tive um time de coração.

Terra - Com quantos anos você pisou em um estádio pela primeira vez?

Jorge Henrique - A primeira vez que pisei em um estádio foi aos 17 anos, pelo Náutico. Antes para mim futebol era só pela televisão ou no campinho lá perto de casa. Ver jogadores de perto, ir ao estádio, ir a um treino, isso eu nunca tive oportunidade.

Terra - E qual foi sua sensação ao entrar pela primeira vez?

Jorge Henrique - A primeira vez que entrei no estádio fiquei deslumbrado com tudo que estava vendo. A torcida gritando seu nome. Então eu estava bobo com tudo aquilo que estava acontecendo. Mas sempre procurando dar o melhor. Do pouco que eu vi, procurei tirar as coisas boas para mim.

Terra - Você teve oportunidade de estudar? Ou o futebol foi seu único caminho?

Jorge Henrique - Eu estudava sim, mas matava muita aula para jogar bola. Minha mãe ainda brigava bastante comigo, ainda bem que deu certo. Mas nunca passei necessidade. Só no Náutico mesmo que eu passei um pouco de dificuldade, quando eu estava no júnior. Eu procurei superar junto a minha família, que me deu bastante força. Mas dificuldade dentro de casa eu nunca passei.

Terra - Que dificuldades você passou no Náutico?

Jorge Henrique - A gente passava dificuldade de alimentação. Na hora da janta a categoria júnior comia em um cantinho (Jorge refere-se ao fato da comida fornecida pelo clube não ser suficiente para as necessidades dos jogadores). A refeição não era adequada para você aguentar até o outro dia para treinar de manhã e isso me deixou bastante triste quando eu saí de lá.

Terra - E você pensou em desistir?

Jorge Henrique - Tive vontade de desistir muitas vezes. Minha mãe me apoiou bastante. Eu ligava todo dia para ela pedindo para voltar, porque não aguentava mais. Todos os meus companheiros de Resende que foram comigo acabaram voltando. Bateu uma tristeza muito grande e acabei pedindo para voltar, mas ela não deixou.

Terra - Você tinha dificuldade financeiras para conseguir ir treinar, de condução, essas coisas? O Romário já disse que ia treinar um dia sim outro não porque não tinha dinheiro para o ônibus dois dias seguidos.

Jorge Henrique - Dificuldade para treinar a ponto de ter que ir um dia sim outro não eu nunca tive, até porque eu andava mais de uma hora até chegar ao clube. Tinha dinheiro às vezes só de uma condução e tinha que pegar duas. Então o resto do percurso eu acabava fazendo a pé, porque não queria perder o treinamento.

Terra - Uma coisa que chamou muito a atenção foi o desabafo que você fez depois do título da Copa do Brasil, contando a história da sua mãe verdadeira que o abandonou, e da sua tia, que você considera como mãe. Por que justamente aquele momento para desabafar?

Jorge Henrique - Eu sempre soube separar toda essa história da minha família, mas chegou um momento em que eu tinha que desabafar e a oportunidade foi aquela, de uma alegria, de uma conquista da Copa do Brasil. Estava vivendo uma alegria tremenda, então acabei desabafando naquela hora. Mas passou. Não tenho mágoa da minha mãe verdadeira, até porque eu sou muito feliz com a minha tia. Trato ela muito bem, converso com ela, ajudo ela da melhor forma possível. E também tenho muito carinho pelas minhas irmãs que me acolheram, então não tenho mágoa de ninguém.

Terra - Mas o dasabafo era endereçado a ela?

Jorge Henrique - O desabafo era para as pessoas que estavam falando coisinhas. Quando estava na minha frente era amigo, nas minhas costas falavam mal. Então naquele momento ali foi para aquelas pessoas que não confiavam no meu trabalho.

Terra - Quem falava o quê?

Jorge Henrique - Algumas pessoas da minha própria família falavam que eu não ia ter futuro, que eu estava perdido, que iria para o lado errado que todo jovem acaba indo. Mas o menino que eles estavam desconfiando está provando o contrário.

Terra - O que falavam?

Jorge Henrique - Muitos na minha família achavam que eu não ia dar certo, que eu ia ser só mais um garoto que saiu de Resende, que foi tentar a vida e acabou voltando com as mãos abanando. Então hoje eu estou provando para todo mundo, primeiro para mim mesmo, que tenho capacidade.

Terra - Ter que provar para os outros é uma motivação para você?

Jorge Henrique - Com certeza. Nunca estou feliz com o que estou vivendo, estou sempre procurando melhorar cada vez mais. Hoje estou no Corinthians, ano passado estava no Botafogo e não estava conseguindo conquistar títulos. Agora já conquistei dois títulos importantes pelo Corinthians. Então a cada dia, a cada treino, eu estou tentando provar para mim mesmo que sou capaz.

Terra - Você tem uma tatuagem no braço, que mostra quando faz gols. De quem é?

Jorge Henrique - A tatuagem é da minha mãe, que é minha tia na verdade. O nome dela é Sebastiana. Já tem uns 2 anos que fiz essa tatuagem. Se eu tenho um herói na minha vida, é ela. Até porque meu pai faleceu em 2005, tenho cinco irmãs e ela sempre cuidou sozinha da gente. Ela é minha mãe, meu pai, uma guerreira que vou levar para o resto da minha vida.

Terra - Ela acompanha seus jogos, o que ela fala?

Jorge Henrique - Ela não perde um jogo. Quando vou jogar, ela sempre liga, manda mensagem, conversa bastante.

Terra - Você é religioso?

Jorge Henrique - Não sou muito religioso não. Sou católico, mas não me apego muito.

Terra - No início do ano, logo que chegou ao Corinthians, na pré-temporada em Itu, você disse que tinha o desejo de jogar na Europa. Existe um Jorge Henrique antes e um depois do Corinthians. Agora você está muito mais valorizado. Ainda pensa na Europa? E como você vê o fato de vários jogadores do grupo vitorioso do Corinthians estarem indo embora?

Jorge Henrique - Eu sonho em um dia jogar lá fora, mas estou muito bem no Corinthians. Mas também fico bastante triste porque meus companheiros estão todos indo e me deixando na mão no Campeonato Brasileiro. Tenho certeza que os jogadores que estão saindo vão fazer bastante falta, mas os que entrarem vão ajudar bastante.

Terra - Você fica no Corinthians para disputar a Libertadores em 2010?

Jorge Henrique - Tenho contrato até 2011, espero ficar.

Terra - Qual é o jogador que você mais admira?

Jorge Henrique - Para mim é o Ronaldo. Eu até brinco com ele que jogar do lado dele é muito fácil. Sempre brinco com ele que "é só movimentar que você coloca na cara do gol". O Ronaldo é sensacional.

Terra - Mas não deveria ser o contrário? Vocês é que deveriam deixá-lo na cara do gol? Isso de o Ronaldo armar jogadas é uma coisa que vocês treinam?

Jorge Henrique - Os jogadores marcam muito o Ronaldo, então acabam deixando de lado eu e o Dentinho. Quando o Ronaldo pega na bola a gente procura dar opções, com a qualidade que ele tem, acaba facilitando bastante.

Terra - Fale um pouco da torcida do Corinthians. É diferente?

Jorge Henrique - Torcida igual a do Corinthians não existe. A do Flamengo é bonita, mas igual do Corinthioans não tem. Até porque quando está perdendo, a torcida do Corinthians está apoiando até o último minuto. Isso não aconetece em outras equipes. Então eu tenho certeza que igual a torcida do Corinthians não tem.

Fonte: Especial para Terra
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