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Corinthians 100 anos: o Paulista de 1977, fim do maior sofrimento

30 ago 2010 - 14h25
(atualizado em 1/9/2010 às 22h24)
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Diego Garcia

"Olha a festa do Brasil! Você enche de lágrimas os olhos desse povo, você enche de felicidade o coração dessa gente, Corinthians. O grito sufocado de um povo! O grito do fundo do coração de um torcedor. Depois de 20 anos a Fiel está explodindo! 22, 23, duas dezenas de anos na cabeça desse povo!" essa foi a primeira parte do desabafo do narração de Osmar Santos no dia 13 de outubro de 1977.

Basílio havia acabado de fazer o gol que libertou a massa corintiana e findou o jejum de títulos que durou exatos 22 anos, oito meses e uma semana. Enlouquecidos 86.677 torcedores explodiram em um Morumbi tomado por preto e branco, aos 36min do segundo tempo da difícil decisão contra a Ponte Preta. Enfim, estava encerrada a maldição.

"Ter participado daquele título foi maravilhoso, sabíamos do anseio da torcida em acabar com aquilo. Acabamos aglutinando toda aquela energia, aquela ansiedade, e conseguimos dar o retorno com o título. Isso não tem preço. Você ver a alegria de uma nação, porque 35 milhões de apaixonados é a população de muitos países da Europa. O Corinthians é uma nação. Não tem preço, não tenha dúvidas disso", disse Wladimir.

Para contar a história da mais libertadora conquista da história corintiana, o Terra conversou com diversos ídolos que participaram da inesquecível campanha de 1977. Confira abaixo:

O Campeonato Paulista de 1977:

O último título do Corinthians havia sido no torneio de 1954, mais precisamente no dia 6 de fevereiro de 1955. Depois disso, nunca mais a torcida corintiana viu um troféu estadual e, mesmo com dolorosas derrotas, como a do Paulista de 1974 para o Palmeiras, continuou em crescimento contínuo.

"Eram pessoas sofridas, menos favorecidas, alguns eram nordestinos que vinham tentar a vida em São Paulo e se identificavam com a luta, com o sofrimento do Corinthians. O clube é um fenômeno social que é resultado da luta de resistência de um povo", definiu o historiador e jornalista Celso Unzelte. Mas em 1977 a história parecia que ia ser diferente.

"Tinha um grupo, uma família formada pelo Oswaldo Brandão e pelo Vicente Matheus, que fez com que nós alcançássemos esse objetivo", definiu Basílio. O time de Brandão começou bem o Campeonato Paulista, mas, como o Botafogo-SP venceu o primeiro turno, deveria triunfar no segundo para continuar com chances de título. E foi o que aconteceu. Chegou à parte decisiva do terceiro e último turno para enfrentar as oito melhores equipes do torneio que lutariam por duas vagas.

Nas primeiras quatro partidas, o time alvinegro paulistano perdeu duas. Os reveses obrigaram a equipe a vencer as três partidas restantes, contra Botafogo, Portuguesa e São Paulo. "Agora é com vocês", teria dito o técnico Oswaldo Brandão à equipe. O Corinthians passou por todos e chegou à decisão contra a forte Ponte Preta, que era considerada favorita por seu forte time de Carlos, Oscar, Polozzi, Dicá e Rui Rei.

O clube do Parque São Jorge já tinha enfrentado e perdido em três ocasiões para a equipe de Campinas durante a competição, incluindo uma goleada por 4 a 0. Contra seu maior carrasco no ano, era a chance única de retomar o caminho das glórias.

As primeiras partidas da decisão:

Na partida de ida, o Corinthians pena durante os 90 minutos mas consegue, enfim, vencer a Ponte - 1 a 0, com um gol sofrido, aos 14min do primeiro tempo. "Fui na raça dividir a bola com o goleiro Carlos e ela explodiu no corpo dele e bateu com toda a força no meu rosto... foi parar no fundo do gol da Ponte", contou o próprio Palhinha, autor do tento.

No segundo duelo, um recorde de público no Morumbi que perdura até hoje: 138.032 torcedores, praticamente todos corintianos, que suplicavam pelo fim do jejum e contavam fervosoramente com um simples empate, que daria o tão sonhado título estadual de volta ao Parque São Jorge.

Vaguinho abriu o placar aos 42min do primeiro tempo e fez explodir a fiel torcida corintiana, ensandecida pela iminente chegada do fim do jejum. Faltavam apenas 23 minutos para o término do embate quando Dicá empatou, aos 22min da etapa complementar. O 1 a 1 ainda deixava o título no Parque São Jorge, mas Rui Rei virou aos 38min e calou o maior público da história do Morumbi. O campeão paulista seria decidido apenas no terceiro jogo.

13 de outubro de 1977:

"O Corinthians vira explosão e vira o maior espetáculo do território brasileiro! Corinthians, você acima de tudo é a alma desse povo! Você liga a imagem do sorriso de felicidade das raízes do povo! Corinthians, hoje a cidade é do povo! Tem que ter festa alvinegra! Tem que cobrir as ruas da cidade com paixão e loucura! Com felicidade, que desabrocha e contagia o povo pelas avenidas! Basílio, Basílio, Basílio! Trinta e sete minutos do segundo tempo!", narrava a segunda parte do trecho proferido por Osmar Santos, que durou cerca de dois minutos, no momento do gol da redenção.

De fato, era a explosão do alívio de milhões de apaixonados corintianos, tão maltratados pelas decepções que assolaram seu clube de coração e insistiram em ultrapassar a barreira de décadas. O sofrimento continuou durante todo o Campeonato Paulista de 77, incluindo as três decisões contra a Ponte Preta. No último embate, foram necessários 81 minutos para que Basílio fizesse o gol da libertação alvinegra.

"Eu me acho um escolhido, porque se for analisar, tivemos duas oportunidades, que foi o lance com o Vaguinho, com o Wladimir e finalizando comigo. Algo estava preparado e eu não sabia, e nós não tínhamos nem essa dimensão referente a essa conquista, a esse gol. Nem nós mesmos éramos sabedores de que foi tão importante essa conquista. Não sabíamos da magnitute disso e hoje é muito prazeroso e gratificante lembrar disso tudo", afirmou um emocionado Basílio.

No jogo, a maior polêmica ficou por conta da expulsão de Ruy Rey ainda no primeiro tempo ao se desentender com o árbitro Dulcídio Wanderley Bosquilla. O jogador, no ano seguinte, foi apresentado como novo reforço corintiano.

Depoimento de outros ídolos:

Vaguinho também seguiu pelo mesmo caminho do ex-companheiro Basílio e destacou o momento ímpar. "Foi tanta pressão para ganhar que não deu nem para pensar, a ficha caiu três dias depois. Fomos campeões em uma quarta-feira e na quinta estávamos viajando para o Norte pelo Campeonato Brasileiro. Só caiu a ficha lá em cima. Não teve tempo para comemoração, nem para nada. Futebol é isso, é aquele momento que fica e dura para sempre", disse.

Quanto ao apoio incondicional do torcedor na campanha histórica, o atacante Geraldão classificou como imprescindível. "A torcida não tem nem o que falar, é fora do normal. Você tem apenas que entendê-la. Na minha época, fizemos vários jogos que a gente perdeu e a torcida estava na esperança de que ganharíamos, mas não perdemos porque queríamos, nós tentávamos. E a torcida, o que ela sentia, ela acompanhava a gente aonde nós fôssemos, o tempo todo. Isso era inexplicável", definiu.

"Foi uma felicidade muito grande, pois nós conseguimos conquistar um título muito sonhado pelo torcedor, quebramos os 22 anos do jejum. É uma felicidade muito grande pelo reconhecimento do torcedor corintiano, o que ele tem com aquela turma de 77", ressaltou Palhinha, que fez o primeiro gol das finais.

"Hoje é o verdadeiro dia do povo! Dia de cantar alegria e ser feliz! Hoje mais do que nunca a cidade é do povo! Festa do povo! Doce mistério da vida esse Corinthians! Inexplicável Corinthians... Vai buscar alegria no fundo da alma do povo!", gritou a terceira e última parte da narração de Osmar Santos, no mais célebre momento da história corintiana, que finalizou o desabafo que marcou o fim de uma era de angústias e sofrimentos dentro da mais popular torcida do Estado de São Paulo.

Corinthians 1 x 0 Ponte Preta

Relembre o gol de Basílio e o título corintiano de 77:

Data: 13/10/1977

Torneio: Campeonato Paulista

Local: Estádio do Morumbi - São Paulo/SP

Público: 86.677

Árbitro: Dulcídio Wanderley Boschillia

Cartões vermelhos: Rui Rei, Geraldão e Oscar

Corinthians: Tobias, Zé Maria, Moisés, Ademir e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano; Vaguinho, Geraldão e Romeu. Técnico: Oswaldo Brandão

Ponte Preta: Carlos, Jair, Oscar, Polozi e Ângelo; Wanderlei, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Rui Rei e Tuta (Parraga). Técnico: José Duarte

Gols: Corinthians - Basílio (37min do 2º tempo).

Fonte: Especial para Terra
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