Em alta, Renato foge dos pecados capitais do jogador repatriado
- Dassler Marques
Voltar do exterior ao futebol brasileiro e rapidamente jogar em alto nível é coisa para poucos. Completar 17 partidas consecutivas com 90 minutos sem se lesionar nem ser suspenso, para menos jogadores ainda. Fazer tudo isso e ainda disputar o título brasileiro, em 2011, é uma exclusividade de Renato, uma das principais razões para o Botafogo anunciar que fará sua melhor campanha na Série A desde o título de 1995.
Esse processo de retorno, tão difícil para a maioria dos jogadores repatriados, também não foi simples para Renato. Meia-atacante no Sevilla, seu único clube na Europa por sete temporadas, ele foi reposicionado por Caio Júnior na função de volante e, aos 32 anos, continua com o mesmo fôlego e marcação leal e implacável nos tempos de Santos.
Para o Botafogo, Renato é alguém que conhece o caminho das pedras, pois até hoje no clube santista tem status de herói pela participação no título brasileiro de 2002. A ponto de admitir, nesta entrevista exclusiva ao Terra, que sua meta era retornar à Vila Belmiro e que até por isso descartou a possibilidade de jogar por São Paulo ou Corinthians.
Abaixo, confira os sete pecados capitais dos jogadores repatriados, uma categoria em que Renato definitivamente não se enquadra. Aos 32 anos, é um dos grandes nomes do Campeonato Brasileiro 2011.
I - PONDERAR A HORA CERTA DE VOLTAR
"A intenção era permanecer na Europa, mas conversei com a família e decidimos. Sabia da responsabilidade que ia encontrar e teria de provar de novo o que fiz antes de ir para a Europa"
"A proposta do Botafogo surpreendeu a todo mundo. Fui informado em uma sexta-feira e jogaria sábado contra o Espanyol. Meu procurador disse que era uma proposta boa e queriam alguém de peso lá dentro, alguém que ajudasse e somasse ao time. Falei com minha esposa e fiquei até mais tarde falando sobre isso. Conversamos bastante, ficamos meio assim em relação ao filho mais velho que estava na escola, conversamos muito, analisamos e voltamos para morar no Rio"
Casos de: Gilberto Silva (Grêmio) e Jô (Internacional)
II - ANALISAR AS PROPOSTAS PARA ESCOLHER O CLUBE CERTO
"Não tive outras propostas concretas e perguntei sobre o Santos porque meu desejo era de voltar para lá porque tenho um carinho enorme. Houve uma conversa, mas não proposta porque o Santos tinha problema de renovar com o Ganso. Houve uma conversa rápida e o Botafogo fez uma proposta, então acabamos aceitando. O Andrés (presidente do Corinthians) veio falar comigo, mas não queria voltar a São Paulo se não fosse ao Santos, e não conversei com ele. Especularam o Flamengo, não no papel não teve proposta"
"Quando eu já estava voltando, o Luís Fabiano falou 'vem para cá'. Ele falou 'não assina, vem pra cá, vamos conversar'"
Caso de: Guilherme (Atlético-MG)
III - CUIDAR DA PARTE FÍSICA
"O Botafogo deu total confiança principalmente quando cheguei, foi importante que tive uma folga. Eu tinha ritmo de jogo, era final de temporada e estava bem fisicamente. Tinha feito pré-temporada lá (em Sevilla), mas conversei com o preparador físico (do Botafogo) em ter folga porque não podia faltar perna em novembro"
"Entrei em acordo sobre folga, aceitaram, tive descanso e fiz um trabalho para não ficar inativo. Foi o fator primordial para voltar com confiança"
Casos de: Ibson (Santos) e Cribari (Cruzeiro)
IV - SE PREPARAR PARA UMA READAPTAÇÃO TÁTICA
"Faltou entrosamento nos primeiros jogos, mas isso foi passando jogo a jogo. É uma posição muito difícil de se jogar aqui no Brasil, porque surgem muitos talentos no meio-campo e procuro me destacar na marcação e na armação"
"Conversei com o Caio (Júnior) antes da estreia e ele me mostrou como queria que eu atuasse, de que maneira seria e eu disse que na Espanha joguei até como segundo atacante. Ele me queria jogando como segundo volante, para sair com a bola, e a função é igual da época do Santos"
Casos de: Dudu Cearense (Atlético-MG), Denílson (São Paulo) e Mancini (Atlético-MG)
V - SE AMBIENTAR AO CLUBE E SE SENTIR EM CASA
"Aqui tem um conjunto maravilhoso e um grupo que tem crescido. Assim como foi com o Santos, tem muitos jogadores subindo da base e o Botafogo acredita muito nisso, dá oportunidades aos garotos. Hoje estou adaptado ao clube, aos jogadores e foi tudo muito rápido. São jogos sábado e quarta, concentrações e lá na Espanha não concentrava quando o time jogava em casa"
VI - TER COM QUEM DIVIDIR AS RESPONSABILIDADES
"Não conhecia o Elkeson, que o Fluminense também queria e o Botafogo conseguiu trazer. É um menino que tem crescido muito, que chuta bem, tem força física e é jovem. O Cortês mostrou que tem um grande potencial, o Maicosuel voltou de uma lesão grave e muitos não acreditavam que ele poderia jogar futebol, até pelo porte físico dele, que é magrinho"
"O Antônio (Carlos) e o Fábio (Ferreira) estão muito bem, a gente conhece o Jefferson, tem o Lucas jogando no lugar do Alessandro e aproveitando as oportunidades, o Marcelo (Mattos) e eu nos encontramos bem, conversamos para melhorar, e o Herrera e Loco (Abreu) têm entrosamento
Caso de: Bobô (Cruzeiro)
VII - NÃO CHEGAR COMO A GRANDE LIDERANÇA DO TIME
"O Loco Abreu é um cara extrovertido. Quando está fora de campo, brinca bastante e tem essa liderança natural. Dentro de campo, está sempre querendo ganhar e mostra que temos que fazer história no clube. Se perder, que seja porque o adversário foi superior. Ele quer ganhar sempre, incentiva os mais jovens e é extraordinário"
Caso de: Henrique (Palmeiras)
- Os principais números de Renato segundo o Footstats
Jogos - 17
Desarmes - 2,6 por jogo
Passes - 38,5 por jogo
Acerto de passes - 91,1%
Assistências - 4 passes para gol
Faltas cometidas - 1,3 por jogo
Cartões - 2 amarelos