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Com exclusividade, Jorginho: 'Não posso ser muito íntimo dos jogadores'

23 mai 2013 - 09h28
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São dez jogos à frente do Flamengo. Após um início conturbado, que ficou caracterizado pela precoce eliminação no Campeonato Carioca, o técnico Jorginho parece que aos poucos vai encontrando a forma de comandar e lidar com a pressão que tem sofrido desde que assumiu o maior desafio de sua carreira de treinador.

As cinco vitórias nos últimos cinco jogos, além do aproveitamento de 76,7% no total, reforçam a tese de que a fase de adaptação no cargo já ficou para trás. Em entrevista exclusiva ao LANCE!Net, o treinador rubro-negro falou abertamente sobre início conturado no clube, critério usado para contratações, além de opinar sobre Neymar.

Confira a entrevista exclusiva:

Você está há dois meses no comando do Flamengo. Acha que já teve tempo suficiente para conhecer o elenco?

Esse tempo já me ajudou bastante a conhecer de maneira mais profunda, a característica de cada jogador, a personalidade. O planejamento não era a curto prazo, pensando só no Carioca. Hoje, a médio prazo, tenho conhecimento de toda a equipe.

A diretoria contratou muitos jogadores desconhecidos, que disputaram o Campeonato Paulista. Qual foi o critério utilizado?

Nós temos amigos no meio do futebol e eles nos indicam jogadores. Estamos sempre conversando, trocamos informações. É natural que eu, por estar trabalhando no futebol carioca, por exemplo, conheça mais os jogadores de clubes pequenos daqui do que o treinador de um time de qualquer outro estado.

Após dar nova cara ao Fla, Jorginho sonha com o topo

O elenco ficou um pouco inchado. Alguns atletas podem ser dispensados?

Pode vir a acontecer de jogadores saírem. Cleber Santana, por exemplo, quis sair. Alguns volantes vão ficar sem jogar, pois estamos com vários atletas para esta posição e só posso escalar dois. Alguns vão ficar fora até do banco de reservas e um deles pode não se sentir à vontade e pedir para ser negociado.

Como você enxerga o Flamengo em relação aos outros times do Brasileiro? Pensa em título?

No Flamengo temos de pensar sempre no topo, na conquista, mas temos de entender o cenário, os elencos que estão sendo montados. A nossa equipe está em formação, alguns times já estão prontos há um tempo. Além disso, a questão financeira pesa também. Mas o nosso objetivo é sempre brigar pelo título, pela Libertadores. Como nós estamos em formação, estamos trazendo reforços baratos e talvez não tenhamos uma perda na janela de transferências no meio do ano. Mas temos de admitir que há equipes mais avançadas do que a nossa.

Por que pediu a contratação de um motivador?

Lulinha chegou para ajudar os atletas nesse lado psicológico. Ele tem feito um ótimo trabalho. Hoje em dia o jogador precisa ser muito moderno, dinâmico. É importante o jogador acreditar no que o treinador fala, mas eu não sou especialista nessa questão motivacional. Por isso trouxemos o Lulinha, que é um especialista. Hoje em dia a minha equipe fala muito mais do que no início do meu trabalho aqui no clube.

Como é a relação com o elenco?

Tem de haver uma separação entre o técnico e os jogadores. Não posso ficar muito íntimo do atleta. É claro que temos uma boa relação, somos amigos e nos damos bem, mas eu sou o líder e isso é claro a todos.

Você vê muitos jogadores com espírito de liderança dentro do atual elenco? Quais seriam eles?

Léo Moura é o capitão do time e tem muita liderança dentro e fora de campo, apesar de não falar muito. Renato também. Ele tem uma leitura tática ótima, é impressionante. González é extremamente inteligente. Elias também. Por outro lado, os nossos jogadores de frente são mais calados. Isso ocasiona uma boa mescla no elenco.

O que mudou em relação aos jogadores da sua época em comparação aos atuais?

Antigamente, nós tínhamos jogadores extremamente capacitados intelectualmente. Hoje em dia, você tem um ou dois jogadores no elenco que são líderes. Mas não tem como medir se tinham mais antigamente. Agora existe uma série de coisas que blindam o jogador. Tem assessoria do clube e dele próprio.

E em relação aos treinadores, o que mudou?

Hoje há treinadores que postam detalhes em redes sociais. Eu não tenho vaidade alguma quanto a isso. Viajei para a Espanha para evoluir, para ganhar mais conhecimento da minha carreira. Os técnicos modernos não têm mais desculpas para não darem um bom treinamento. O status dele também mudou. Tem uma responsabilidade maior do que antigamente, algo mais amplo.

Domingo pode ser a despedida do Neymar do Santos. Você o aconselharia a sair do país agora?

É muito difícil dar conselhos. Espero que saiba aquilo que é melhor para carreira dele. A única coisa que posso falar é a de que a Europa acrescentou muito na minha vida, com certeza muito mais do que se eu ficasse mais tempo aqui. Mas na época eu tinha 24, 25 anos, foi bem diferente. É importante que ele pense bem antes de tomar qualquer decisão. Mas não afetaria em nada. Vai ser titular, é um jogador muito qualificado, um craque. Só seria benéfico.

Carlos Eduardo foi contratado como o principal reforço do Fla para esta temporada? Qual a razão para ele não ter correspondido ainda?

Ele não tem qualquer problema psicológico. É um jogador qualificado tecnicamente. As contusões o atrapalharam muito. Nós acreditamos muito nele, sabemos que vai dar certo, mas isso depende inteiramente dele. O Carlos tem evoluído nos treinamentos, precisa readquirir a confiança. Por conta deste momento ruim ele perdeu o espaço no elenco e agora tem de recuperar.

González ficou sem ser relacionado quando você chegou. O que aconteceu para ele voltar ao time?

González não dá trabalho a ninguém, é um profissional extremamente qualificado, um cara de família. Não teve qualquer atrito entre nós, era simplesmente porque eu sabia que poderia contar com ele futuramente, sem precisar de testes, diferentemente de outros atletas, os quais precisava tomar uma decisão.

Mattheus esteve muito próximo de sair, mas acabou renovando. Você o aconselhou a ficar?

Falei que o melhor para ele era ficar aqui. Saindo, estaria queimando etapas da carreira. Essa geração fez uma Copa São Paulo e já subiu para o profissional tendo a obrigação de formar um grande ídolo em menos de um ano. Não é assim que as coisas acontecem. Mattheus é um meia clássico, difícil de encontrar no Brasil, e que precisa de dinâmica de jogo, velocidade. Se ele saísse do país iria prejudicar a própria carreira. Tudo tem o momento para acontecer e acho que esse não era o ideal para uma transferência internacional. O Flamengo formou o jogador e tem o direito de que ele vença primeiro no clube. Tivemos uma geração aqui que acabou estourando fora da Gávea, formada por Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho Carioca... Isso não pode acontecer de novo.

Três meses após o trabalho como auxiliar da Seleção você assumiu o Goiás. Arrependeu-se?

Ficaria descansando por mais seis meses. Precisava relaxar, aquele período foi muito tenso. Na oportunidade, aceitei porque o Goiás era uma equipe bem estruturada, mas cheguei em um momento conturbado. Tinha o presidente e o do conselho deliberativo, que queria derrubá-lo por uma série de motivos. E foi o que aconteceu. O presidente que entrou posteriormente queria o Silas como técnico e chegou a me falar isso. Imagina ouvir uma coisa dessas? Saí faltando quatro rodadas, tirando a equipe da última posição no Brasileirão. Infelizmente não consegui livrá-la do rebaixamento. Mas a experiência valeu. Nunca mais quero passar por isso de brigar para não cair. Era vaia o tempo todo.

Qual trabalho como treinador você considera como o mais importante da carreira?

Todos foram importantes. No América eu tinha de tirar R$ 50 do próprio bolso para o rapaz cortar a grama, pois ele não tinha salário, estava há uns quatro meses sem receber. Não era essa maquininha moderna, era no braço mesmo. E quem recolhia depois éramos nós da comissão técnica, com a ajuda dos jogadores. Ele fazia um montinho e nós recolhíamos. Na nossa pré-temporada, a minha esposa tinha de servir os jogadores. Tínhamos uns atletas acima do peso e precisávamos encher os caras de salada. Isso tudo aconteceu no meu sítio, perto de Teresópolis e me fez valorizar o que tenho encontrado aqui no Flamengo. Mesmo com a estrutura ainda não estando perfeita é fantástico ter esse local para trabalhar. Então, essas coisas me fizeram valorizar muito o que consegui alcançar. Aqui Você pede um copo d’água e alguém já traz na hora. Nosso supervisor (Sérgio Helt) voa. Tudo que que precisamos ele consegue. No Figueirense foi bom também. Na Seleção, mesmo sendo auxiliar técnico, foi fantástico. Cada trabalho tem o seu valor.

Como é o Jorginho fora do futebol? Quais são as opções de lazer favoritas longe do clube?

Gosto de estar com minha família, curto muito cinema, pois ali me desligo de tudo. Além disso, tenho um sítio na subida de Teresópolis e lá ninguém me encontra. Fico inacessível. É a uma hora daqui e um refúgio para mim. Mas só vou quando tenho tempo. Ultimamente não tenho ido muito lá, mas gosto de ficar em casa, curtir a família, ir a um bom restaurante. Sou simples.

JORGINHO EM COPAS DO MUNDO

Sobre eliminação na Copa de 1990: "Em 90, perdemos no melhor jogo nosso. Parecia que estávamos tendo um pesadelo"

Sobre lesão na final da Copa de 1994: "É duro falar que não dá mais para jogar uma final de Copa. Passei pelo banco e avisei ao Cafu para aquecer. Doeu muito, mas não mudou nada, eu não ia bater os pênaltis mesmo... Era só o sexto

Sobre lesão na final da Copa de 1994.

Sobre o pênalti perdido por Baggio: "Estava esperando outro pênalti. Vi os dois primeiros, fiquei de olho fechado e não contei mais nada."

Sobre o grupo tetracampeão: "O líder não era só o Dunga. Aquele grupo era comprometido com tudo. Por isso, hoje muitos são treinadores e têm cargos com responsabilidade."

Sobre eliminação em 2010: "Como auxiliar, sabia que iríamos tomar paulada de tudo quanto que é lado na volta. Você sofre um monte de críticas justas e muitas injustas. Tem de falar sobre mentiras, coisas que nunca se fez. Isso me moldou. Estou mais preparado agora."

Fonte: Lancepress! Lancepress!
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