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Comerciantes e feijão guiam caminho do Operário ao título paranaense

6 mai 2015 - 08h48
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O Operário Ferroviário Esporte Clube completou 103 anos na última sexta-feira, 1º de maio, Dia do Trabalho. Na mesma semana do aniversário comemorado no feriado simbólico, o clube conquistou o Campeonato Paranaense pela primeira vez em sua história justamente contra o grande Coritiba, maior vencedor estadual, com 37 títulos. Porém, quem viu as duas vitórias sobre o Coxa - por 2 a 0, no Germano Kruger, e 3 a 0, no Couto Pereira - não imagina quantas dificuldades o Fantasma enfrentou em seu passado recente.

No comando do clube desde 2012, o presidente Laurival Pontarollo (que assumiu o cargo de forma oficial em 2013) revela que já pensou em desistir da gestão por falta de apoio, que o obrigou a investir parte dos lucros obtidos com sua empresa de feijões e cereais, Feijão Pontarollo, para amenizar o déficit orçamentário de 50 mil reais por mês. O que lhe impediu de deixar o cargo foi o projeto implantado no clube, quase inédito em times do interior: o "Amigos do Operário" consiste em um grupo de 40 empresários de pequeno e médio porte da cidade de Ponta Grossa, que contribuem com o time por meio de investimentos mensais. Dentre eles, estão comerciantes, profissionais liberais (como contadores e advogados) e dois deputados. Além disso, o apoio de cerca de 2.200 sócios-torcedores fortaleceu as finanças do Fantasma - carinhosamente apelidado por Laurival como "clubinho", em comparação com os grandes Atlético Paranaense, Coritiba e Paraná.

Fora de campo, a história e o favoritismo jogavam a favor do Coxa, que não era derrotado no Couto Pereira diante de um time do interior deste 19 de fevereiro de 1986, quando perdeu por 4 a 1 para o Matsubara, de Cambará, também pelo torneio estadual. Para exemplificar o tamanho da disparidade entre as duas equipes, o retrospecto fala por si só: em 72 confrontos, o Coritiba venceu 44, empatou 15 e perdeu apenas 13 vezes, obtendo o expressivo e positivo saldo de 62 gols. Antes da vitória no duelo de ida da final em 2015, o último triunfo do Operário sobre o poderoso adversário havia sido em maio de 1990, em Ponta Grossa.

Ainda empolgado com o título inédito sobre o Coritiba - apenas dois anos mais velho que o atual campeão -, o presidente Laurival Pontarollo contou os detalhes de sua empreitada à Gazeta Esportiva.Net, revelando os objetivos para a sequência da temporada e o provável futuro do técnico Itamar Schülle. Com esforço, simplicidade e até mesmo feijão, o Fantasma do interior começa a escrever sua história como o centenário Operário, que de fato é.

Gazeta Esportiva.Net: Antes de mais nada, parabéns pelo título. Qual é o seu sentimento por ganhar a taça inédita justamente contra o maior campeão?

Laurival Pontarollo: Sentimento de gratificação. O título é um prêmio pelo nosso trabalho, que sempre foi feito com muita dedicação. Nos últimos anos, até abandonei a minha empresa, deleguei funções. É um sentimento de muita felicidade, consegui o feito quase inédito de reunir um grupo de empresários para ajudar o clube.

GE.Net: Por que o senhor acha que o Operário demorou para fazer frente com os grandes do estado, ainda mais sendo só dois anos mais novo que o Coritiba? Faltou apoio da cidade de Ponta Grossa?

Laurival: O Operário sempre foi tocado por um presidente que era obrigado a colocar dinheiro no clube. Alguns empresários apareciam para explorar, só queriam sugar do clube. Por isso, o nosso projeto é tão importante. Mas sempre fomos um time com uma torcida grande que sempre nos cobrou e apoiou na mesma medida, com a imprensa em cima e a cidade de olho.

GE.Net: Em 2012, o Operário tinha um déficit de 50 mil reais por mês, com uma folha salarial de 160 mil. A casa está organizada hoje?

Laurival: Muito organizada. Não só estamos com as contas em dia, como também fizemos sala de imprensa, fisioterapia, academia... Agora temos uma estrutura competitiva, e os frutos estão começando a aparecer.

GE.Net: E como foi esse processo?

Laurival: Nós realizamos o trabalho com os patrocinadores locais, e também contamos com a ajuda da minha empresa de feijões e cereais (Feijão Pontarollo). Não foi fácil, com certeza exigiu muito foco de nós.

GE.Net: A principal fonte de renda do clube hoje vem dos programas de sócio-torcedor e do Amigo do Operário. Como estão os números dos dois programas?

Laurival: No Amigo do Operário, são 40 investidores da cidade de Ponta Grossa. Os sócio-torcedores já são 2.200, temos uma torcida bem presente. Os nossos patrocínios de camisa também nos ajudam muito, temos algumas empresas parceiras que acreditam na gente.

GE.Net: O contrato do técnico Itamar Schülle será renovado agora?

Laurival: Sendo bem honesto, acho muito difícil. Alguns clubes grandes já estão atrás dele, até pelo nível do trabalho que ele realizou, e o Operário é um "clubinho", né? Fica difícil competir com outros times cheios de dinheiro e totalmente profissionalizados.

GE.Net: Dos 11 titulares, só o Juba não está com o contrato próximo do fim (o vínculo do atacante se encerra em 31 de dezembro). Pretende manter os outros 10? Como está a concorrência?

Laurival: Pelo que sei, o Coritiba já está negociando com o Ruy (meio-campista, cujo contrato se encerrou neste 5 de maio), mas temos interesse em segurar todos, se possível. Mas na Série D vai ser mais fácil traçar o planejamento, vamos sentar e definir nossas prioridades.

GE.Net: Então a diretoria tem planos de reforçar esse elenco?

Laurival: Sim, com certeza está nos nossos planos, mas ainda não tenho nenhum nome para revelar.

GE.Net: Qual é a sua opinião sobre a manifestação das duas torcidas no Couto Pereira, pedindo a saída do governador Beto Richa?

Laurival: Fazer o quê, né? Acho importante, o povo está no seu direito de protestar. O que aconteceu com os professores aqui no Paraná foi uma barbaridade, isso não pode acontecer de jeito nenhum. É bonito ver as duas torcidas se unindo.

GE.Net: Você declarou recentemente que já tinha pensado em desistir da gestão. O que te fez mudar de ideia?

Laurival: Olha, vou ser sincero... Já pensei, sim. Foram três anos e meio sozinho, sem apoio, tendo que fazer um pouco de tudo. Agora temos o grupo de empresários para ajudar. É muita responsabilidade, sabe? Eu ainda penso em me afastar por seis meses agora, talvez faça isso, para depois cumprir o mandato até o fim (final de 2016). Se isso acontecer, o meu vice, Paulo Roberto, deve assumir no período. Quando concorri à eleição, já escolhi um profissional capacitado como vice, já pensando nessa possibilidade.

GE.Net: Para finalizar, o objetivo para a sequência da temporada é o título da Série D, ou só o acesso pra Terceirona do Brasileirão já estaria de bom tamanho para ter um calendário fixo?

Laurival: O objetivo é o acesso, vamos dar um passo de cada vez. É claro que agora é difícil não sonhar com algo mais, mas antes vamos cumprir a meta de chegar à Série C e recompensar todos os que estão nos apoiando.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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