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Contra o México, Brasil tenta retomar para o futebol o foco da Copa

19 jun 2013 - 08h43
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A seleção brasileira entra em campo nesta quarta-feira contra o México, em Fortaleza, para tentar atrair apoio popular e retomar para o futebol o foco da Copa das Confederações, após a onda de protestos que marcou a primeira rodada da competição.

Grandes protestos contra os gastos públicos para a Copa foram realizados nas proximidades dos estádios que abrigaram os primeiros jogos.

Além disso, mais de 250 mil pessoas saíram às ruas em várias cidades do país na segunda-feira para pedir mais investimentos em transporte público, saúde e educação e para protestar contra a corrupção, entre outras coisas.

O assunto dominou as entrevistas concedidas nos últimos dias por jogadores, pelo técnico Luis Felipe Scolari e por cartolas, tomando o lugar das discussões futebolísticas.

"As pessoas têm o direito de expressar suas opiniões e de se manifestar se não estão felizes. Só desta maneira veremos os erros e melhoraremos. O brasileiro ama seu país e é por isso que as manifestações estão acontecendo", afirmou o zagueiro David Luiz em entrevista coletiva na tarde de terça-feira.

Para o jogador, que defende o Chelsea, de Londres, os protestos não afetam o ambiente da seleção. "Em nível profissional isso não desconcentra a seleção. Sabemos de nossa responsabilidade, sabemos o que temos que fazer. Nos preocupamos porque temos coração e somos brasileiros", observou.

Ao seu lado na entrevista, o atacante Hulk, do Zenit, da Rússia, também manifestou apoio aos protestos. "Por vir de baixo e graças a Deus estar hoje numa posição boa, bate uma vontade de participar", disse.

Para ele, desde que sejam pacíficos, os protestos são positivos. "As manifestações têm toda a razão, temos que ouvi-los. O Brasil pode melhorar em muitas coisas. Sentimos porque sabemos que é verdade", disse.

Apoio

Vários jogadores também se manifestaram publicamente sobre os protestos pelas redes sociais. "Orgulho de ser brasileiro!! Vamos juntos Brasil, amo meu povo e sempre apoiarei vocês", postou em sua conta no Twitter o zagueiro Dante, do Bayern de Munique.

O lateral Daniel Alves, do Barcelona, usou sua conta de Instagram para postar uma foto da bandeira brasileira pintada sobre um olho, com a legenda: "Ordem e progresso sem violência por um Brasil melhor, em paz, por um Brasil educado, por um Brasil saudável, por um Brasil honesto, por um Brasil feliz".

A onda de protestos acabou tirando o destaque que se esperava para a seleção brasileira na mídia neste período de Copa das Confederações. Vários jogos do torneio até aqui foram marcados pelas manifestações do lado de fora dos estádios.

Em Brasília, onde o Brasil venceu o Japão no sábado, e no Rio de Janeiro, onde a Itália bateu o México no dia seguinte, houve repressão policial a grupos de manifestantes que tentavam se aproximar dos estádios, com bombas de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha. Alguns torcedores ficaram assustados e desistiram de ir às partidas.

Em Belo Horizonte, onde Nigéria e Taiti se enfrentaram na segunda-feira, o público dentro do estádio Mineirão, de 20 mil pessoas, foi inferior aos 30 mil manifestantes estimados no protesto motivado inicialmente pelo aumento das tarifas de ônibus.

Respeito

Questionado sobre o assunto nesta terça-feira, o técnico Luis Felipe Scolari não chegou a defender as manifestações, como fizeram alguns jogadores, mas disse que as respeita desde que sejam pacíficas.

"É comum e normal numa democracia que se aceitem as manifestações e essas situações sejam recebidas e percebidas pelo nosso governo ou pelas pessoas que estão envolvidas. Tomara que continuem a ser pacíficas, democráticas, normais, que é o que nós queremos", afirmou.

Segundo Felipão, os protestos não atrapalham a seleção. "Nós apenas temos que fazer o nosso trabalho. Podemos ver, assistir, podemos ter opiniões, mas não interfere no nosso trabalho", disse.

Ele afirmou não ver problemas nas manifestações de apoio por parte dos atletas. "Meus jogadores têm total liberdade para que possam opinar sobre qualquer assunto, desde que cada um assuma sua responsabilidade", disse. "Acho que as manifestações normais dos nossos atletas são interessantes, porque parece que essa alienação imaginária imposta aos nossos atletas está deixando de existir", afirmou.

Para o técnico, os protestos não prejudicarão a imagem do Brasil internacionalmente. Ele citou a onda de saques e violência que tomou Londres e outras cidades britânicas no ano anterior à Olimpíada de 2012.

"Estão falando lá fora uma coisa que pode não ser a realidade total do Brasil. Acho que vocês viram antes da Olimpíada manifestações lá em Londres. E nem por isso a Inglaterra acabou e nem por isso deixou de ser muito bem falada como falamos sempre", disse.

Cartola preocupado

Os dirigentes do futebol também não conseguiram escapar dos questionamentos sobre os protestos nos últimos dias. Na segunda-feira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa, José Maria Marin, afirmou que as manifestações são "preocupantes".

Marin afirmou que seria preferível que a atenção durante a Copa das Confederações estivesse voltada somente para o futebol, mas que as manifestações sem violência devem ser respeitadas.

O vice-presidente da CBF, Marco Polo del Nero, por sua vez, procurou minimizar a importância das manifestações. "Quantos protestaram? Temos 199 milhões que estão trabalhando. E esses querendo atrapalhar", disse ele, que também é membro do comitê executivo da Fifa.

Para Del Nero, a tendência é haver uma redução nos protestos. "O povo brasileiro é tranquilo. E vai entender que a Copa é o maior evento do mundo. Temos que falar para o povo coisas positivas do Brasil. Fazer a torcida gritar: Brasil, Brasil, Brasil", argumentou.

O presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, que no sábado pediu respeito à torcida brasileira após a vaia à presidente Dilma Rousseff, antes do jogo entre Brasil e Japão em Brasília, também procurou minimizar os protestos e disse que o futebol está sendo usado como plataforma para as manifestações.

"Acho que o futebol existe para unir as pessoas. Isso é claro, eu sei um pouco sobre os protestos que acontecem por aqui. As pessoas estão usando o futebol como plataforma e a presença da mídia internacional para fazer certas manifestações", afirmou ele durante um evento no Rio de Janeiro, na segunda-feira.

Pedra no sapato

Em meio às preocupações com os protestos, o técnico Felipão afirmou que sua principal preocupação do momento é com o jogo desta quarta-feira contra o México, equipe que pode ser considerada a principal "pedra no sapato" do futebol brasileiro neste século.

Em 11 partidas contra o Brasil desde 2001, o México venceu seis e perdeu somente três. Dois anos antes, os mexicanos já haviam surpreendido o Brasil na final da Copa das Confederações, ao vencer a partida por 4 a 3.

"O México vem representando alguma dificuldade a mais naquilo que nós brasileiros temos em confrontos com outras seleções. Por alguma razão", afirmou Felipão. Para ele, "pode ser que contra o Brasil haja uma superação mental dos atletas para provar que são superiores ao futebol brasileiro, ou que estão com uma evolução melhor".

A partida desta quarta-feira também vem sendo considerada por alguns jogadores e comentaristas como uma possível revanche da final olímpica do ano passado, em Londres, vencida pelo México por 2 a 1.

Seis jogadores que formam o elenco do Brasil na Copa das Confederações e oito do México também estavam nas equipes olímpicas dos dois países no ano passado.

Para o meia Oscar, do Chelsea, a derrota em 2012 é sua pior lembrança na seleção, mas ele comenta que também venceu os mexicanos em uma semifinal de Mundial sub-20. "Perdi nas Olimpíadas, mas a gente sabe que a equipe é muito boa, nosso time está crescendo e está bem", afirmou.

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