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Terra na Copa

Além de não dar legado econômico, Copa pode ameaçar imagem, diz analista

10 jan 2014 - 14h11
(atualizado às 15h30)
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<p>Ex-presidente Lula sempre viu na Copa uma oportunidade para o Brasil</p>
Ex-presidente Lula sempre viu na Copa uma oportunidade para o Brasil
Foto: Mauro Pimentel / Terra

"A Copa será uma grande oportunidade para acelerar o crescimento e fundamental para o desenvolvimento do nosso Brasil", disse, em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando o tom da grande expectativa sobre o papel que o torneio em junho/julho de 2014 poderia ter no país.

Mas a visão de que o evento possa estimular o crescimento ou o desenvolvimento de um país é questionada pelos autores de um livro que analisa o impacto de Copas sobre a economia de nações que as sediaram.

"A ideia de que a Copa vai impulsionar a economia é um mito", disse à BBC Brasil o jornalista britânico Simon Kuper, autor de Soccernomics, escrito em parceria com o economista britânico Stefan Szymanski.

"Sediar uma Copa do Mundo não traz nenhum legado econômico. Se você quer impulsionar a economia com o dinheiro do povo, que paga impostos, é melhor investir em escolas e hospitais", disse Kuper.

Já para o Ministério do Esporte, porém, a Copa do Mundo é uma grande oportunidade para o Brasil acelerar investimentos em infraestrutura e qualificação de mão-de-obra. "São investimentos já previstos anteriormente, mas que foram antecipados por ocasião do Mundial", diz uma nota enviada pela assessoria da pasta à BBC Brasil.

Blatter volta atrás e elogia organização da Copa no Brasil:

Uma grande festa

Publicado em 2009 e baseado em dados das Copas de 2002 (Japão e Coreia do Sul) e 2006 (Alemanha), entre outros torneios, o livro de Kuper e Szymanski, que é economista da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, diz que o verdadeiro legado da Copa do Mundo não é dinheiro, nem bonança, mas a euforia que toma conta do povo antes e durante o torneio.

"O que a Copa realmente traz é essa alegria. A Copa do Mundo é uma grande festa, todos ficam felizes, o país vira uma grande comunidade, todo mundo só fala sobre isso, vive isso", explica Kuper, alertando que os brasileiros "sem eletricidade, sem ter o que comer" não estariam dispostas "a pagar por essa grande festa".

Segundo Kuper, os governos dos países "fingem" que acreditam no legado da Copa para ter apoio popular.

"Os governos não podem dizer para a sociedade que vão trazer a Copa porque é uma grande festa. Então eles falam do legado, do benefício econômico, que na verdade não existe. Eles têm que fingir", disse.

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"O Brasil está tendo que fingir muito mais do que a Inglaterra teve para sediar a Olimpíada. A Inglaterra é um país mais rico, então as pessoas podem 'pagar' pela felicidade que os Jogos trazem."

O governo brasileiro, no entanto, acredita que o Mundial - que acontecerá entre 12 de junho e 13 de julho deste ano - já está gerando benefícios para o país. Em nota enviada à BBC Brasil, o Ministério do Esporte cita uma pesquisa feita pela Ernst&Young que já aponta números positivos da Copa.

"O levantamento indica que a preparação da Copa movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais na economia nacional de 2010 a 2014, gerando 3,63 milhões de empregos."

'O Brasil não precisava da Copa'

Segundo o Comitê Organizador Local do torneio (COL) e o próprio governo, a Copa também será uma grande oportunidade para o mundo conhecer o Brasil e suas belezas.

O Ministério do Turismo espera que 600 mil estrangeiros visitem o país durante a competição e acredita que esses turistas poderão atrair ainda mais gente para terras brasileiras nos próximos anos por causa da propaganda boca-a-boca.

No entanto, Simon Kuper ressalta que a África do Sul também esperava pelo menos 500 mil visitantes de fora do país e recebeu pouco mais de 300 mil.

O jornalista explica que, da mesma forma como os turistas da Copa poderão atrair mais visitantes para o Brasil, eles poderão também afastá-los - vai depender da impressão que terão do país durante o torneio.

"Eles podem falar bem ou falar mal. Há coisas maravilhosas no Brasil, é um país adorável, mas eu estive aí e tentei viajar de São Paulo para Manaus e foi uma coisa de louco, muito complicado", contou.

Segundo ele, o Brasil poderá sair da Copa até mesmo sem o "prestígio" que ela costuma render aos países que a recebem.

"O Brasil não está nem conseguindo o prestígio. Tudo o que os jornais internacionais mostram é que os estádios não estão prontos, que o Blatter está reclamando, etc. Há cinco anos, nós não sabíamos como era a infraestrutura do Brasil, agora nós sabemos que não está boa."

"O Brasil não precisava da Copa para se tornar conhecido. O Rio de Janeiro é umas das cidades mais visitadas no mundo todo. A Copa pode até piorar a imagem do Brasil", finalizou.

O Ministério do Esporte, porém, afirma que o Brasil já deu mostras de que não decepcionará os turistas durante a Copa das Confederações.

"O sucesso da Copa das Confederações comprova o acerto da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo. As delegações foram bem recebidas, tiveram boas condições de treinos e alojamento, e os jogos transcorreram em paz", disse a assessoria da pasta, em nota.

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