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Terra na Copa

Atraso dos estádios gera riscos e mais turbulência na preparação da Copa

20 dez 2013 - 14h50
(atualizado às 15h24)
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O Brasil demorou em iniciar as obras para a Copa do Mundo e, a pouco menos de seis meses do torneio, seis estádios correm para finalizar suas construções, o que gera mais riscos de acidentes, segundo o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia.

Operários trabalham na estrutura da cobertura da Arena da Amazônia, em Manaus. O Brasil demorou em iniciar as obras para a Copa do Mundo e, a pouco menos de seis meses do torneio, seis estádios correm para finalizar suas construções, o que gera mais riscos de acidentes, segundo o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia. 10/12/2013.
Operários trabalham na estrutura da cobertura da Arena da Amazônia, em Manaus. O Brasil demorou em iniciar as obras para a Copa do Mundo e, a pouco menos de seis meses do torneio, seis estádios correm para finalizar suas construções, o que gera mais riscos de acidentes, segundo o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia. 10/12/2013.
Foto: Gary Hershorn / Reuters

Na avaliação de José Roberto Bernasconi, o país "pegou no tranco" ao começar os trabalhos para o Mundial de 2014 apenas em 2010, três anos depois de receber o direito de sediar o principal torneio de futebol.

A preparação brasileira para a Copa, abalada por atrasos, greves e estouro no orçamento, foi atingida nos últimos dias por mortes de operários que trabalhavam na construção dos estádios de São Paulo e Manaus.

No fim de semana, um trabalhador morreu ao cair da cobertura da Arena da Amazônia, e outro operário morreu em um centro de convenções ao lado do estádio, que será usado para reuniões durante a Copa. Familiares disseram que ele sofreu um ataque cardíaco devido ao trabalho intenso.

A Arena Corinthians, palco da abertura do Mundial em 12 de junho, sofreu um acidente em 27 de novembro, quando um guindaste caiu sobre parte do estádio, matando dois operários.

As investigações sobre as mortes ainda estão em curso, mas após os acidentes questões sobre segurança e horas extras de trabalhadores foram levantadas.

"As obras feitas 24 horas por dia, num regime de urgência, exigem cuidados adicionais. Se as jornadas de trabalho se estendem demais, para além da jornada de trabalho normal, o cansaço compromete a aplicação da atenção", disse Bernasconi em entrevista à Reuters.

"Há uma porção de possibilidades, de causas, que talvez pudessem explicar cada uma dessas ocorrências fatais", acrescentou ele, ressaltando que não tem "acesso às informações das investigações".

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Estado do Amazonas (Sintracomec-AM), os operários da obra vinham reclamando há bastante tempo das más condições de trabalho.

"Muitos trabalhadores vinham alegando no canteiro de obras que estavam trabalhando forçado para entregar a obra, que está atrasada", disse nesta semana o vice-presidente do sindicato, Cícero Custódio.

A construtora Andrade Gutierrez, responsável pelas obras, rebateu as declarações e reafirmou "o seu compromisso com a segurança dos seus colaboradores".

O presidente do Sinaenco afirmou que as empresas que estão coordenando as obras de São Paulo e Manaus são de grande porte, com procedimentos de segurança muito rigorosos e que nenhum operário trabalha sem o equipamento de proteção individual.

"Obras deste porte, da chamada engenharia pesada, são obras que têm risco maior", explicou.

LEGADO MENOR

No caso da Arena Corinthians, o Ministério do Trabalho informou que o operador do guindaste que desabou ao tentar colocar a última peça da cobertura trabalhava há 18 dias sem folga, o que foi negado pela construtora Odebrecht.

Na quinta-feira, a Obra Arena Corinthians informou ter firmado um termo de compromisso prevendo "a extinção de horas extras dos operadores de guindastes, além de estabelecer a contratação de mais 80 trabalhadores para atuarem em diversas frentes das obras".

Com o acidente, a entrega do estádio paulista, prevista para o final de dezembro, passou para abril, o que vai prejudicar a realização de eventos-testes no local. Quanto à obra de Manaus, os representantes do estádio ainda não divulgaram o novo cronograma após a liberação das obras, que foram parcialmente interditadas durante a semana.

A Fifa, que tinha estabelecido dezembro deste ano como meta para a entrega dos seis estádios ainda em obras para o Mundial -- outros seis foram usados na Copa das Confederações --, adiou o prazo de conclusão para ao menos janeiro de 2014. A arena que mais preocupa a federação internacional é a de Curitiba, onde há atraso e ocorreu uma greve no fim da semana passada.

Os outros três estádios a serem entregues são os de Natal, Cuiabá e Porto Alegre.

"Efetivamente o que aconteceu é o que Brasil demorou para fazer as coisas...Era uma chance de melhorarmos tremendamente a infraestrutura do país. Se fez menos do que poderia. Mas os estádios serão um saldo positivo, teremos estádios de muito boa qualidade", afirmou o presidente do Sinaenco.

Bernasconi disse que, embora nem todas obras de mobilidade urbana e nos aeroportos do país vão estar prontas, ao menos o Mundial "teve o mérito de provocar a ação" de algumas obras.

"Os aeroportos não estarão maravilhosos em 2014, não dá tempo, porque o Brasil não tomou as providências que deveria ter tomado lá trás. Para os Jogos Olímpicos, em 2016, acho que haverá uma melhora", disse.

"Pena que nós demoramos para fazer, poderíamos ter feito mais. Não vai ser um superlegado, vai ser um legado de proporções menores", completou.

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